terça-feira, 11 de março de 2014

Um tango de Carnaval

Onde os chatos passam o Carnaval? Na Argentina, óbvio. No ano passado passamos em Córdoba, este ano em Buenos Aires. É sempre divertido quando estamos fora do país no Carnaval e um nativo descobre que somos brasileiros:

Mas, mas ... o que vocês estão fazendo aqui? O mundo inteiro quer ir ao Brasil no Carnaval e vocês vem para cá?

Pois é. Às vezes é difícil explicar certas coisas em outra língua.

Mas é ótimo estar em Buenos Aires em qualquer época, somos fãs de carteira assinada. Já fizemos quase todos os passeios clássicos: Caminito, Puerto Madero, Recoleta, Calle Florida, feira de San Telmo aos domingos, Teatro Colón, Plaza de Mayo, Paza del Congreso, o Paseo de la Historiet com suas estátuas de personagens de quadrinhos, a Plaza Itália e seu entorno, com feirinha de artesanato aos sábados, domingos e feriados, o Jardim Japonês, o Rosedal, magnífico jardim de roseiras de todas as cores, e a Floralis Genérica, escultura de metal representando uma flor cujas pétalas ficam abertas durante o dia e fechadas à noite. Todos os passeios são bons, Buenos Aires é uma cidade que vale várias visitas. Temos aí nesse link fotos de quase tudo isso:

http://www.flickr.com/photos/jo_ma/sets/72157623457182985/

Entre as melhores atrações estão os museus, que valem sozinhos o preço da viagem, para quem gosta de arte: o  Museu Nacional de Belas Artes e o Malba - Museu de Arte Latinoamericano. O acervo de arte latino-americana dos séculos 20 e 21 do Malba inclui o Abaporu, da Tarsila do Amaral. Não é um museu muito grande, pode ser visto com tranquilidade em uma tarde. O  Museu  Nacional é bem grande e tem impressionistas, Goya, Gaughin, Van Gogh, Rodin, El Greco, além de obras de artistas argentinos que a gente conhece pouco. A entrada é gratuita. No Centro Cultural da Recoleta, que também é grátis,  há sempre exposições interessantes e bem montadas.

Caminito

Já vimos até show de tango para turistas, e valeu a pena, tango é tango. O espetáculo é um tanto cafona, o programa pode incluir jantar e sai caro, mas a música é de primeira. Optamos pelo Piazzolla, por indicação de um guia, e não nos arrependemos. A opção mais barata é ver os dançarinos que se apresentam nas ruas nos pontos turísticos mais agitados, como a Recoleta. Alguns são muito bons, mas a música é gravada. E há também as famosas "milongas", casas onde o pessoal da cidade vai para dançar. São bailes, não espetáculos. Os chatos, que também são tímidos e não sabem dançar, chegaram na porta da Confitería Ideal, bem no centro da cidade, na Calle Suipacha quase esquina com a Av. Corrientes, mas ficaram com vergonha de entrar. Os mais animados não têm o que temer, as milongas oferecem aulas básicas de tango antes do arrasta-pé propriamente dito.

Um passeio que todo mundo faz e os chatos se recusam, é ver o túmulo da Evita no cemitério da Recoleta. Para quem gosta de túmulos e celebridades deve ser fascinante, mas chatos militantes bocejam para essas coisas.


Fomos e achamos uma droga
Os piores micos de Buenos Aires foram, até agora, o passeio de barco pelo rio Tigre e o shopping Abasto. O rio é até que bonito, mas como fomos no inverno, as opções eram duas: ficar abrigados no restaurante do barco, sentindo cheiro de gordura e comida, ou passar frio do lado de fora. Como não costumamos almoçar nesses passeios, porque geralmente não temos fome, e a comida é ruim e cara, optamos pela segunda e quase congelamos. Se o frio em Buenos Aires já é coisa séria nas ruas, imaginem num rio com o vento batendo em nossos esqueletos. Portanto, só façam esse passeio se estiverem com fome. Ou no verão, mas aí não sabemos como é, porque não temos intenção  nenhuma de voltar ao Tigre.

Aparentemente todo mundo gosta de fazer compras no shopping Abasto, meio longe do centro consumista e tido como mais barato. Resolvemos conferir, só por curiosidade. Descobrimos que é uma bobagem, só um shopping normal com praticamente os mesmos preços do resto da cidade. Pelo menos a Galeria Florida, o shopping famoso, é um prédio bonito e tem o Centro Cultural Borges.


O mais divertido
O que mais gostamos de fazer em Buenos Aires, atualmente, é andar pela cidade fotografando e descobrindo novos cantinhos, tomar sorvete de dulce de leche, ver filmes argentinos no cinema do Incaa - Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales, na Praça do Congresso e fazer a ronda das livrarias e lojas de discos.

El Ateneo Santa Fé
                                                               
O clima
Em Buenos Aires faz tanto calor no verão quanto em São Paulo, mas não se esqueçam de que é a Argentina é aquele país que vira e mexe nos manda frentes frias. Sempre que estivemos lá no verão havia aquela brisa fresca soprando, principalmente à noite. Nesse Carnaval o clima estava particularmente agradável, com sol bonito e ventinho soprando o dia todo, sem calorão e com apenas alguns chuviscos pela manhã. 

Em nossa primeira viagem nevou em Buenos Aires depois de 89 anos, no dia 9 de julho. justamente no dia do azarado passeio pelo Tigre. Não foi lá uma grande nevasca, mas os nativos estavam em êxtase, comemorando, brincando sem camisa na neve ... Uma festa. Até a moça do controle de passaporte no aeroporto perguntou se vimos a neve e comentou que tivemos muita sorte. Tivemos?

 

De qualquer forma, com ou sem neve, é gostoso estar em Buenos Aires no inverno. A cidade, com seus cafés aconchegantes, combina bem com o clima frio.


Política
Se você não quer ver passeatas e manifestações,  não vá para Buenos Aires, terra de gente politizada e briguenta. Impossível ir para lá e não topar com pelo menos uma passeatinha na Avenida de Mayo.

Em Buenos Aires é preciso olhar não apenas para os belos monumentos e prédios antigos, também para o chão, onde foram colocadas placas marcando os locais onde pessoas foram mortas ou sequestradas durante a ditadura. Essas marcas estão em toda parte, para que ninguém esqueça que todo aquele horror aconteceu. E quem gosta de grafites vai encontrar todo o tipo de slogans e palavras de ordem nos muros ao longo da Avenida de Mayo.




Comida e bebida
Come-se bem em Buenos Aires, bebe-se melhor ainda e, para os carnívoros é praticamente o paraíso. Mas a famosa parrillada é um prato reservado apenas aos ogros que devoram vísceras, cuidado. 

Gostamos de comer nos restaurantes antigos do centro da cidade, em especial aqueles frequentados pelos nativos. O Arturito, com seus garçons velhinhos e engraçados é um dos nossos prediletos, já passamos o reveillon lá algumas vezes. Cardápio bem variado e comida boa, apenas um pouquinho mais cara do que nos demais. É bom tomar cuidado com os vinhos, um dos velhinhos nos trouxe uma vez um vinho que não pedimos, caríssimo, e só nos demos conta depois de beber metade. Mas estava muito bom. Outro na mesma linha é o Los Inmortales, que fica cheio de nativos na hora do almoço, gente que trabalha por perto. Também gostamos de um espanhol da Avenida de Mayo, El Cortijo. Em Puerto Madero tem uns restaurantes mais bacanas, mas nunca comemos lá. Para quem gosta de lugares mais bonitos e turísticos, devem ser uma boa opção.

Para uma boquinha rápida, empanadas e fatias de pizza em casas bem populares são uma ótima ideia, se você não for uma pessoa de gosto muito sofisticado.São muitas e parece que competem para ver qual é a mais mais barulhenta e bagunçada.

Mas a melhor parte da comilança porteña é poder pedir um vinho nos restaurantes e pagar um preço totalmente viável para bolsos pobretões. Vinho, não cerveja. A cervejinha lá é cara e a popular e onipresente Quilmes é péssima. Abstêmios podem se divertir bastante com a gaseosa Paso de los Toros de pomelo (grapefuit), uma delícia.


Dinheiro
O câmbio nos favorece e sempre levamos dólares e reais e lá trocamos um pouco de pesos. As casas de câmbio da Florida têm taxas próximas ao câmbio oficial. Nos dois aeroportos (Ezeiza e Aeroparque) têm agência do Banco de la Nación Argentina. Existe uma casa de câmbio na Av Corrientes (quase esquina com a Florida) que tem sempre a melhor taxa.

Além disso, restaurantes e lojas aceitam pagamento em dólar e real. Então, é sempre  bom andar com as 3 moedas na carteira e ver qual a mais vantajosa na hora de efetuar o pagamento.


Balada para un loco
E para terminar dramaticamente, bem de acordo com o espírito da cidade:

Las tardecitas de Buenos Aires tienen ese que se yo, viste?
Salgo de casa por Arenales, lo de siempre en la calle y en mi...







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