quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Mar e pirâmides em Yucatán


A península de Yucatán, no México, tem ingredientes para agradar tanto a quem gosta de arte, história e sítios arqueológicos poeirentos quanto aqueles que preferem praias e atividades aquáticas de forma geral. Lá a gente pode ter tudo isso praticamente lado a lado: esplêndidas ruínas de cidades maias e mar do Caribe.

Queríamos evitar a famosa e badalada Cancún, cuja fama de turismo pasteurizado e caro não nos entusiasmava, mas não foi possível, já que o aeroporto é lá. Mas não ficamos muito, apenas tomamos o ônibus para Playa Del Carmen, que nos pareceu um destino mais simpático.


Playa Del Carmen

Não é exatamente o paraíso, mas é legal. Praia urbana muito extensa e com muita gente, praticamente tomada pelas espreguiçadeiras (que eles chamam de camastros) dos hotéis e restaurantes à beira-mar. Alguns desses últimos, que eles chamam de clubs de playa,  cobram aluguel pelos tais camastros, outros você ocupa se for consumir. Depende do grau de "sofisticação" do estabelecimento, pelo que entendemos das explicações da moça do nosso hotel. Não fizemos nem uma coisa nem outra, porque não achamos legal jogar dinheiro fora, nem esticar nossos corpinhos em equipamentos de higiene duvidosa, a julgar pela aparência encardida. Gostamos mais de estender nossas cangas na areia macia, preferencialmente à sombra. O problema é que as sombras não privatizadas em Playa Del Carmen são poucas e muito disputadas, há que andar bastante para encontrá-las.



O  mar de águas claras e ondas geralmente suaves é muito agradável, mas atenção: se o mar estiver agitado ou o tempo chuvoso, aquele azul cristalino na qual pensamos ao ouvir o nome Caribe fica um pouco prejudicado.

Restaurantes, bares e lojas para turistas se concentram sobretudo na interminável Quinta Avenida, tão longa que, a cada quilômetro (mais ou menos), a gente tem a impressão de que tudo começa a se repetir: vemos o mesmo restaurante ou o mesmo café que já encontramos lá atrás. Pode ser confuso. Uma dica: quanto mais se caminha em direção ao norte, mais sofisticados vão ficando os estabelecimentos.



Há muitos restaurantes caros e com pinta de arapuca para turistas, mas procurando bem dá para encontrar boa comida a preços mais justos. Na avenida paralela, a Décima, há lugares mais baratos e populares.


A Quinta é muito animada, mas o assédio ao turista é algo positivamente irritante. Garçons, vendedores de passeios, taxistas, camelôs, mariachis, empregados de lojas de artigos de prata formam um verdadeiro corredor polonês ao longo da avenida tentando chamar nossa atenção, de forma insistente e até desagradável. Em diversas lojinhas de joias de prata vale o sistema da pechincha: eles dão um preço muito alto e vão baixando. Se mesmo assim o candidato a freguês não se animar a comprar um bagulho qualquer, corre o risco de ouvir uma grosseria. A dica é esta: se o vendedor for muito insistente e pegajoso, cair fora rapidinho e procurar uma loja com atendimento mais profissional.


As ilhas

Pegamos o ferry boat no porto de Playa Del Carmen e meia hora depois estávamos em Cozumel, tomando chuva.

Antes  da chuva se transformar em muita chuva, decidimos caminhar pela orla até a Playa Azul que, segundo o moço do guichê de informações turísticas, ficava a certa de 20 minutos à pé do porto. Cometemos o erro de não levar carteira de motorista, o que nos impediu de alugar carro para dar a volta na ilha, como muita gente faz. Depois de uma hora andando com várias pausas para nos abrigar das pancadas de chuva cada vez mais insistentes, perguntamos novamente para um porteiro de hotel. A tal  praia fugidia ficava a mais ou menos 20 minutos do local onde estávamos. Molhados e um tanto frustrados, demos meia volta, tomamos uma cerveja com quesadillas e voltamos para Playa Del Carmen onde, logo descobrimos, não choveu. Azares de viagem.

Cozumel, na verdade, é um lugar para quem gosta de mergulho e e outras atividades subaquáticas além de andar na chuva, o que nos consolou um pouco do dia perdido.



Dias depois, já com o tempo ensolarado, partimos para Isla Mujeres. As agências turísticas vendem um passeio de barco que passa pela famosas esculturas no fundo do mar mas, como o mar não estava tão límpido naqueles dias, essa opção foi desaconselhada pelo próprio moço da agência. Fomos por conta própria, pegando o ônibus até Cancún, depois um táxi até o porto Juárez e, por fim, esperamos por duas horas na fila para embarcar. Ao sol na maior parte do tempo, porque as coberturas não eram suficientes para abrigar a pequena multidão presente. Naturalmente, a empresa Ultramar não se preocupou em nos alertar sobre a espera quando compramos o bilhete. Os barcos, que saem a cada trinta minutos, não dão conta do grande afluxo de passageiros num dia de sol. E nem era alta temporada ainda...

Compensou? Mais ou menos. A Playa Norte, onde se pode chegar caminhando, é bonita, com suas areias clarinhas e mar estilo piscina em tons de verde cristalino. Mas é lotada e completamente tomada pelos bares e restaurantes. Demoramos muito para encontrar uma sombra não privatizada, que nem era num local muito agradável. Além disso, o banhista fica confinado aos limites impostos por uma cordinha de segurança, porque lá param muitos barcos e não é seguro se aventurar em águas mais fundas. Saímos meio cedo da praia, para evitar pegar mais filas na volta. Há mais praias na ilha, basta alugar um carrinho de golfe para chegar nelas.




Os sítios arqueológicos

Para o nosso gosto, as ruínas de cidades maias pré-colombianas são o melhor do local. Mais interessantes do que as praias que, afinal, também temos no Brasil. Visitamos três delas.

Chichen Itzá é a mais imponente e bem conservada da três. As construções são simplesmente magníficas. Como fizemos um passeio de agência, ficamos menos tempo do que gostaríamos no sítio. Preferimos nos demorar bastante nesses lugares e fotografar até gastar as pedras. Em compensação, as explicações do guia, um profissional muito bem preparado, foram muito interessantes. E olhem que somos chatos e não gostamos muito de guias turísticos.





Tulum tem a graça adicional de sua localização, à beira mar (mas no alto). As ruínas não são tão impressionantes quanto as de Chichen Itzá, mas a paisagem com o mar azul compensa. Há uma pequena praia praticamente dentro do sítio, onde se pode descer por uma escada. Muito lotada, mas dá para se refrescar e descansar um pouco do passeio sob o sol do verão mexicano.



Fomos para lá de ônibus, saindo da rodoviária de Playa Del Carmen. O ônibus, confortável, vai direto até a entrada do sítio arqueológico e a viagem dura cerca de uma hora. Dica: há uma espécie de parque na entrada, com muitos bares, restaurantes, lojinhas, banheiros e quiosques que vendem ingresso para o sítio e passeios. Não é necessário comprar o ingresso nesses quiosques e nem pagar pelo trenzinho que leva apenas até a entrada do sítio. Caminhamos por uns 10 minutos até lá e compramos o ingresso diretamente nas bilheterias oficiais.




Cobá é um pouco mais longe, são três horas de ônibus saindo de Playa Del Carmen e há poucos horários disponíveis. O sítio fica no meio da floresta e também é interessantíssimo. Na entrada são oferecidos táxis de bicicleta, aqueles veículos movidos a pedaladas humanas, e aluguel de bicicletas para os que se consideram capazes de pedalar com seus próprios pés. É uma boa ideia, porque o local é grande e as construções um tanto afastadas uma das outras, mas não imprescindível. É perfeitamente possível fazer o percurso andando, se a pessoa não tiver dificuldades de locomoção. Em Cobá ainda é permitido subir na pirâmide de 42 metros, que tem degraus e cordinha de segurança. Nada muito perigoso, mas requer cuidado e boa forma.





Os cenotes

Outra atração de Yucatán são os cenotes, lagos de água doce formado pela erosão das rochas. Existem inúmeros, muitos deles no interior de cavernas, outros a céu aberto. Visitamos apenas um deles, o Ik Kil, que fazia parte da programação do passeio a Chichén Itza. Muito bem cuidado, fica dentro de um parque com ótima infraestrutura. Para cair nas águas profundas do cenote, é preciso tomar uma ducha e, para quem não for bom nadador, recomenda-se alugar salva-vidas.



As praias

As praias do Caribe são boas, mas sua fama é um pouco exagerada. No Brasil temos praias igualmente lindas, muitas até melhores. A cor da água é realmente especial, mas depende das condições climáticas e do local. Nem todas podem ostentar a cor famosa, e há praias brasileiras tão azuis e límpidas quanto as de lá.

A Playa Paraíso, em Tulum, foi a que mais gostamos na região e recomendamos muito. Mar e areia perfeitos, sombras disponíveis em alguns locais. Quando fomos não estava tão cheia, mas ainda não era alta temporada, que começa depois do dia 4 de julho. Fica a mais ou menos um quilômetro da entrada do sítio arqueológico, por uma estradinha fácil de caminhar. Ignore os táxis se oferendo no início da estrada e os alertas dos preguiçosos que dizem ser "muito longe", a menos que você tenha algum problema de mobilidade. Dá muito bem para chegar lá caminhando. Nós entramos na Playa Santa Fé e andamos um pouco mais pela areia até a Paraíso. Uma delícia de caminhada! Optamos por fazer dois passeios para Tulum, um para ver as ruínas e outro para aproveitar a praia. Quem estiver com poucos dias disponíveis pode fazer no mesmo dia, acelerando um pouco a visita às ruínas.





Os parques

Há vários parques temáticos perto de Playa Del Carmen. Escolhemos passar um dia meio chuvoso num deles chamado Xcaret. Lugar bonito, à beira-mar, onde se pode nadar em piscinas naturais e praticar snorkel. Há também um rio subterrâneo, contraindicado para claustrofóbicos. Metade de nós sofre de claustrofobia e a outra metade não sabe nadar muito bem, então não fomos.



O parque tem aquário, borboletário, aviário, golfinhos com os quais o turista pode interagir e outros bichos. Ver animais presos para nossa diversão incomoda um pouco, apesar de todos os ambientes para os animais serem amplos e, aparentemente, adequados (com exceção do aquário e das piscinas dos golfinhos). O aviário é lindíssimo, a gente se sente na selva cercada de passarinhos.

As atrações cenográficas são divertidas, principalmente o cemitério maia, com seus túmulos criativos e epitáfios poéticos ou engraçados.


No final do dia, rola a atração mais recomendada pelos guias: o show para turistas, que pretende mostrar a cultura e a história locais. Trata-se de um espetáculo bastante profissional e bem produzido, mas o conteúdo é aquela coisa: representações alegóricas do "encontro entre duas culturas", que é como eles chamam a destruição da cultura maia pelo invasor europeu. As danças e cantorias folclóricas são bonitas, mas cansam. Só vimos uns pedaços da coisa toda. A população local parece ter muito orgulho do show, é bom tomar cuidado para não ofendê-los com comentários pouco elogiosos.



Fomos para Xcaret com uma agência, mas também dá pra ir de ônibus comum, saindo do terminal de Playa Del Carmen. É bom fazer cotação de preços antes de decidir.


Locomoção

Nossa intenção era alugar um carro para percorrer a região de forma autônoma. Desistimos, porque o transporte público para todos os locais de interesse é de boa qualidade. Nos dois terminais da cidade há ônibus para os principais pontos turísticos da região. Apenas o passeio para Cobá poderia ter sido mais proveitoso de carro, porque lá perto há três cenotes que não tivemos tempo de visitar, porque o último horário de ônibus é por volta das três horas da tarde. De resto, não nos arrependemos.




segunda-feira, 15 de maio de 2017

Arrumando malas no mundo real




Todo mundo já deve ter visto o texto de uma blogueira dando dicas para viajar só com bagagem de mão, ou seja, aquela mala pequena que pode ir com a gente na cabine. O post é de 2013 e continua circulando bastante, logo, parece estar agradando. Ninguém pediu nossa opinião mas, como somos chatos, precisamos apontar alguns probleminhas

O primeiro, naturalmente, é o custo dos conselhos da autora, uma pessoa que compra malas de bordo da Rimowanecessaire da L'Occitane e sacolas Longchamp. Comprar uma mala leve é uma boa ideia, mas pagar a bagatela de 1.800 reais  numa malinha para "viajar leve" não é para qualquer um.

Viajar com pouca bagagem não é tão difícil quando se vai para lugares quentes. Roupas e calçados de verão são menores e mais leves, lavar uma regata na pia é bem mais fácil do que uma camiseta de manga comprida. Roupas e acessórios para inverno de verdade são bem mais complicadas. Precisamos de agasalhos, luvas, botas, e meias, muitas meias. A autora parece que não carrega meias em sua pequenina bagagem.

Sapatos são um caso sério. É possível viajar com um par nos pés e dois na bagagem, mas esses dois vão ocupar um espaço considerável. A blogueira sugere levar 3 ou 4 calçados, o que, dependendo do local para onde se vá e do quanto se pretende andar, não é exagero. Andar muitos dias com o mesmo calçado (mesmo confortável), sem opção de troca, pode machucar os pés. Mas achamos bastante difícil enfiar 4 pares de calçados numa malinha de cabine e ainda sobrar espaço para as roupas e ... as meias. Ou as malas Rimowa são mágicas como a bolsa da Mary Poppins ou ela carrega os sapatos pendurados fora da malinha, como os mochileiros. Vá saber...

Para viagens de verão ou lugares quentes, nossa sugestão é levar Crocs. Não são exatamente calçados elegantes,  mas são confortáveis, leves e laváveis. Pés calçados com Crocs podem pisar na água para se refrescar à vontade, secam rapidinho. Já quem viaja no inverno, principalmente para o frio europeu, vai precisar de botas ou calçados de solado grosso. Tênis comuns não protegem os pés do chão gelado da Europa no inverno.

Quanto a lavar roupas durante a viagem, é preciso considerar alguns detalhes. Você vai ter tempo de encontrar uma lavanderia durante a viagem e gastar umas duas horas para lavar e secar roupas? Apostar nos serviços de lavanderia dos hotéis não é muito prudente, porque os hotéis mais simples geralmente não oferecem o serviço e nem sempre a entrega da roupa é no dia seguinte, o que pode complicar sua vida se a estada for curta; a qualidade do serviço pode deixar a desejar e o preço é alto. Lavar você mesmo na pia do hotel é ótimo, se o quarto oferecer boas condições de secagem.

Os produtos de higiene pessoal são um desafio até para os mais desencanados viajantes. Mesmo que você leve tudo em embalagens pequenas e abra mão dos seus pequenos luxos cosméticos habituais, como o xampu indicado pelo dermatologista, a necessaire pode acabar bem gorda. Pasta e escova de dentes, fio dental, medicamentos indispensáveis, aparelhinhos de barbear, absorventes higiênicos, alguns itens de maquiagem, manteiga de cacau para encarar lugares frios, tudo isso acaba ocupando um bom espaço. E aí se apresentam os pequenos dilemas:

1. Levo xampu, condicionador e sabonete ou uso os do hotel? Se o hotel oferecer as tais "amenidades de banho", um dos nomes mais afrescalhados que já inventaram para o sabão, ótimo. Fiquem com os do hotel, mas verifiquem antes quais produtos são oferecidos.

2. Não é melhor comprar no local? Depende do local e das suas especificações. Alguns produtos podem ser mais caros ou mais baratos em outros países (depende do produto e do país), e você pode ter dificuldades para escolher produtos em outros idiomas. Comprar xampu na Croácia não é muito fácil, creiam. O que se vai passar na mesma localidade é outro fator a ser considerado. Quando a gente vai passar dois ou três dias em cada cidade, por exemplo, não vale a pena comprar produtos locais, porque vamos ter que carregá-los do mesmo jeito.

Importante: quem pretende viajar para o exterior apenas com bagagem de bordo precisa verificar os limites de líquidos e cremes podem ir na cabine, para não correr o risco de deixar seu creme de mãos da l'Occitane na lixeira do aeroporto.


Algumas dicas sobre malas

Não adianta investir uma fortuna numa mala. Todas quebram e deixam você na mão no pior momento. Preferimos os modelos duros, que protegem mais a bagagem e sujam menos, com fechos que não correm, para evitar o golpe da cesariana.



Outra opção interessante é o lacre de mala da Sealbag. Nada disso evita que a mala seja aberta, mas se isso acontecer a gente percebe.

Capas ajudam a manter as malas limpas, colaboram um pouquinho na segurança e facilitam a identificação da sua bagagem no mar de coleguinhas muito parecidas que deságuam na esteira. Temos duas capas bem espalhafatosas, uma delas com uma impagável estampa de gato de óculos, que provocam muita hilaridade nos aeroportos.


Filme plástico para embrulhar frascos contendo líquidos ajuda a evitar vazamentos desastrosos.  Também pode ser usado para proteger a própria mala sem pagar uma fortuna por aqueles serviços que embrulham bagagens nos aeroportos.

Levar ao menos uma muda de roupa na bagagem de mão, se viajar só, ou colocar algumas peças na mala do companheiro de viagem, se viajar em dupla, é uma ideia que facilita a vida em caso de extravio de bagagens. Assim, o pobre viajante sem mala pode ao menos trocar a roupa íntima e a camiseta antes de sair para comprar roupas.

Organizadores de malas são bolsas de tecido leve e resistente, com zíper, para empacotar as roupas antes de colocá-las nas malas. Economizam espaço ao compactar bem as roupas, evitam que a mala fique toda bagunçada ao ser jogada de um lado para o outro e facilitam a localização das peças. Uma excelente invenção.


Mas, afinal...

É possível viajar por uns 30 dias só com bagagem de mão? Deve ser. Se um dia formos capazes dessa façanha, explicaremos como se faz.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Bordeaux, Saint-Emilion e Arcachon

Bordeaux é uma cidade simpática, com alguns pontos turísticos interessantes e vinhos, muitos ótimos vinhos. Passamos três dias por lá e aproveitamos para conhecer cidades vizinhas. Não vimos, portanto, muito de Bordeaux.


Ponte Saint Jean

Caminhamos ao longo das margens do rio Garonne, um passeio bonito. A Place de la Bourse, um belo conjunto arquitetônico do século 18, tem uma atração adicional surpreendente: o Mirroir d'Eau (Espelho d'água, obra do paisagista Michel Corajoud). Trata-se de uma enorme extensão de granito com pequenos esguichos no chão, dos quais brotam, alternadamente, água e vapor, em intervalos de mais ou menos vinte minutos. Nos momentos em que está cheio, o espelho chega a ter quase um palmo de profundidade, refletindo os belos edifícios ao redor. A diversão refrescante encanta a todos. As crianças se divertem muitíssimo, algumas até em roupa de banho. Adultos tiram os sapatos, arregaçam a barra das calças e vão passear com os pés na água. Depois a água é drenada lentamente, e logo vem os jatos de vapor, igualmente bonitos e refrescantes. Uma verdadeira festa.
 
Mirroir d'Eau


Mirroir d'Eau

Mirroir d'Eau


Uma das atrações mais famosas de Bordeaux é a Cité du Vin, uma espécie de museu dedicado à cultura do vinho. Como o preço do ingresso é bem alto (30 euros por pessoa), decidimos não entrar. A parte da cultura do vinho que nos interessa é a que ocorre entre o copo e nossa boca, portanto preferimos investir nosso dinheirinho na compra de umas garrafas. No supermercado, naturalmente, porque nas lojinhas da Cité não dá para comprar nem ímã de geladeira. Tudo o que fizemos foi observar a arquitetura do prédio, essa coisa garrafal aí:




À caminho da Cité, passamos pela Place des Quiconces, uma praça enorme com um bonito arvoredo e um monumentos aos girondinos.


Monumento aos Girondinos
 
Conhecemos também o Jardin Publique, onde encontramos muito verde, sossego e até uma biblioteca.



 

Saint-Emilion


Uma curta viagem de trem nos levou de Bordeaux a Saint-Emilion, uma pequena cidade cinematograficamente graciosa, famosa pelos seus vinhedos. 


Lá, contra nossos hábitos, fizemos um programa turístico clássico: passeio de trenzinho pela região, para apreciar a paisagem dos vinhedos e chateaux e claro, conhecer um deles, com degustação incluída. Para quem  não está de carro e quer conhecer a região, é a única opção e vale a pena. A visita ao chateau é aquilo de sempre: história do local, informações sobre a produção de vinho, visita à cave etc. Provamos um vinho daqueles de alto nível mas, infelizmente, degustação em Saint-Emilion não é como nos vinhedos do sul do Brasil; é só um copinho. Quem quiser molhar um pouco mais o bico nos vinhos da região pode dar uma passadinha na Grande Cave, uma loja de vinhos que oferece degustação gratuita.




Chateau Rochebelle


A cidade tem vários monumentos e ruínas medievais. Como é pequena, dá para conhecer tudo à pé, se o turista tiver disposição para enfrentar ladeira com calçamento de pedras. Uma delas é tão escorregadia que precisaram instalar um muito bem-vindo corrimão bem no meio da rua.

 

Arcachon


Querendo pegar uma praia, fomos até o balneário de Arcachon, bem pertinho de Bordeaux. A praia é bonita, mas nada que possa impressionar brasileiros com alto nível de exigência no quesito areia, mar e sol. A água tem uma linda tonalidade azul, mas as areias são bem lotadas.

A cidade é bonita, tem muitos restaurantes e lojinhas, mas é tudo bastante caro.
 


O melhor da cidade é a duna de Pilat, a maior da Europa, com 110 metros de altura. Chegar lá é fácil, basta pegar um ônibus em frente à estação de trem. A entrada é por um parque com estacionamento, lojas, vestiário, bares e um centro de informações turísticas, tudo muito bem organizado. A subida é por uma escada, cansativa mas perfeitamente viável, e a paisagem lá de cima compensa cada degrau.

Agora a parte ruim: resolvemos descer a duna para chegar à praia, que parecia extremamente convidativa. Foi um erro. A duna é imensa, a praia está muito mais longe do que parece e as areias são extremamente quentes. Como não há sombra pelo caminho, nenhuma vegetação ou pedras para descansar um pouco os pés, a descida se torna uma tortura para quem está calçado apenas com chinelos. Os pés afundam na areia e queimam, o calor é intenso. Quando a gente percebe que se meteu numa roubada e olha para trás, é tarde, o topo da duna está longe e a volta não é bom negócio. Em dado momento, a única solução possível é correr aos saltos em direção ao mar. Então, o bom conselho é o seguinte: se alguém quiser descer a duna, vá com um calçado que proteja bem os pés e leve muita água. E mais importante ainda: se descer não é fácil, subir é uma tarefa para poucos e bem preparados corpos. Lá embaixo descobrimos um caminho alternativo, por fora da duna, mas que vai dar na estrada, longe do estacionamento. Mas, de fato, a paisagem vista de cima é melhor do que a praia ao pé da duna, portanto não vale a pena o sacrifício. Há diversas entradas para a praia no caminho entre a duna e o centro da cidade para garantir um banho de mar tranquilinho.


Subindo a duna
 
A paisagem tentadora


A descida mortal





















quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Museus de Paris

Sim, nós adoramos museus, em especial os de arte. E não, ninguém é obrigado a gostar de museus, não tem essa de dizer que é "obrigatório" conhecer um museu qualquer quando se visita uma cidade. Só é obrigatório para quem gosta e vai aproveitar a visita, entrar num museu só para se aborrecer e dizer que foi é bobagem. O que a pessoa está perdendo na vida por não gostar de arte é uma outra discussão que não cabe aqui.

Feito o necessário preâmbulo, vamos falar de alguns dos museus de Paris que já conhecemos.

Louvre

Já vimos muita gente metida falando mal do Louvre: que é um inferno cheio de turistas fotografando tudo, que é grande demais, que a Monalisa é pequenina e tão cercada de turistas e câmeras que não se consegue vê-la e até há quem ouse dizer que ela, La Joconde, não tem graça. Bobagem. Os eventuais inconvenientes são insignificantes diante do encanto daquele museu.
 
O Louvre não é grande, é infinito. Não importa quantas você vá, o museu vai estar sempre diferente e maior. Parece que durante a noite ele muda e se expande: galerias inteiras mudam de lugar, corredores desaparecem, salas se materializam onde antes havia uma escadaria.

Não dá para ver o museu todo numa única visita, e nem precisa. Num acervo tão gigantesco, com certeza nem todas as seções interessam a todo mundo, a menos que o visitante seja um estudioso de arte ou alucinado por museus. O melhor é escolher bem o que ver e deixar o restante para outra ocasião, sem remorsos. O Louvre só é lotado mesmo nas salas das obras mais célebres. Há sempre uma pequena multidão ao redor da Vênus de Milo mas pouca gente se detém diante das vitrines das figurinhas gregas de terracota, por exemplo, que são encantadoras. Para ver a Monalisa, basta um pouco de paciência para ir se enfiando no bloco de fotógrafos de celular em punho e parar em frente dela. Aí é só ignorar o pessoal tentando empurrar ou pedindo licença e ficar alguns minutos contemplando aquele rosto, até ela começar a falar com você. É sério, a fama da pequena tela não é gratuita, ela praticamente fala com a gente.


Todas as salas de arte da antiguidade egípcia, grega, romana, etrusca e mesopotâmica, bem como a coleção de arte islâmica,  são uma maravilha para quem gosta dessas coisas. Nas salas onde se concentram as grandes esculturas de mármore do período grego clássico e helenístico é preciso um pouco de paciência com o pessoal que faz fila para ser fotografado imitando as poses das estátuas. Um exercício inútil, claro, porque ninguém consegue sair mais bonito na foto do que as afrodites e apolos da coleção.

A coleção de pintura exige do visitante comum, como nós, algum trabalho de seleção. Além da Monalisa, há outras obras de Leonardo para serem degustadas lentamente, e mais Delacroix, Géricault, Vermeer, Dürer, Caravaggio... E para quem não gosta de agito, as salas de  pintura holandesa, flamenga e alemã estão sempre quase vazias.

Os mapas do museu são muito bem feitos e detalhados, mas mesmo assim a gente se perde. Se isso acontecer, não tenha receio de pedir ajuda aos funcionários, todos bastante solícitos. Eles só perdem a paciência com gente que teima em passar o dedinho nos mármores de vinte e cinco séculos, com certa razão.


O entorno do museu é uma atração à parte. Dá para passar uma tarde toda, ou mais, fotografando as pirâmides e seus espelhos d'água ou passeando nos pátios e no Jardin des Tulleries. Quanto às lojas do Carrousel du Louvre, vale a pena dar uma voltinha só para rir dos preços absurdamente altos e comprar, no máximo, um marcador de páginas.


Orsay

Há quem prefira o Orsay ao Louvre. Comparar museus desse nível é difícil, mas gosto é gosto. O Orsay é, de certa forma, mais fácil de apreciar, por ser menor. As coleções de arte da segunda metade do século 19 e início do século 20 incluem Degas, Manet, Cézanne, Monet, Renoir, Sisley, Pissarro, Van Gogh, Bonnard, Courbet, Corot e Gauguin, além de um importante acervo de fotografias. Lá estão Olympia e Le déjeuner sur l'herbe, de Manet, Bal du moulin de la Galette, de Renoir, e L'origine du monde, de Courbet, só para dar alguns exemplos.


O prédio, uma antiga estação de trens, é muito bonito e fotogênico. Não deixem de dar  uma olhadinha no bonito Café Campana, obra de dois designers brasileiros. É só para olhar, literalmente, a menos que você seja aquele tipo de turista que não tem pena de seus euros.

Uma tarde de visita basta para conhecer o museu todo com tranquilidade.
 

Centro Pompidou

Além da arquitetura futurista esquisitona e da famosa biblioteca pública, o Centro Georges Pompidou (ou Beaubourg) tem um excelente museu de arte moderna e contemporânea, com  obras do século 20 e 21. Agradável e espaçoso, o Beaubourg ainda dá direito a uma vista de Paris do alto (mas não muito).


O entorno também rende um ótimo passeio. O espaço em frente é sempre muito animado, cheio de gente e, com sorte, algum artista se apresentando. Ao lado, na Praça Igor Stravinsky, o espelho d'água tem esculturas de Niki de Saint-Phale.

Uma tarde de visita só para o museu, se você gostar da arte do período.

Orangerie

Quem não tem muito tempo ou muita paciência para os mega-museus acima, não precisa passar por Paris sem entrar em pelo menos um museu. O Musée de l'Orangerie fica no Jardin des Tulleries, ou seja, completamente no caminho do mais distraído dos turistas. É um museu pequeno, mas abriga a coleção Jean Walter et Paul Guillaume, reunida por  um marchand e colecionador de arte entre 1914 e 1934 e inclui obras-primas de Cézanne, Matisse, Modigliani e Picasso.


A atração mais notável são as Ninfeias de Claude Monet, restauradas e expostas da forma que o pintor as concebeu: oito telas dispostas em duas salas ovais consecutivas, de forma que o espectador tem a impressão de estar no próprio jardim. Lindíssimo e realmente imperdível, vejam a visita virtual.

Jeu de Paume

No lado oposto das Tulleries há outro pequeno museu bastante interessante, o Jeu de Paume, com acervo especializado em arte contemporânea e fotografia. Vimos ótimas exposições nas duas visitas que fizemos.

Cortinas de baño. Óscar Muñoz, 1992.

 Se você leu em algum livro antigo de história da arte que suas telas impressionistas prediletas estão no Jeu de Paume, não vá se decepcionar. Não estão mais.  A coleção de pintura impressionista foi transferida para o Orsay na década de 1980.


Quai Branly

Muita gente diz não gostar de museus porque, sem  muita informação sobre arte, não tem paciência para ver retratos de reis e imagens de santos pendurados em intermináveis paredes.  Para esse pessoal, sugerimos tentar uma experiência museológica diferente. Por exemplo, o museu do Quai Branly, dedicado à arte e à cultura populares, indígenas e tribais da África, Ásia, Oceania e Américas.


O acervo tem de tudo: máscaras, vestimentas, arte plumária, objetos cerimoniais, adornos, tapeçaria, esculturas, joias, instrumentos musicais etc, tudo disposto de forma muito agradável aos sentidos, com recursos de iluminação e cenografia que valorizam as coleções. Não há como se aborrecer.

Passamos umas quatro horas lá dentro porque gostamos de museus e de fotografar, mas é possível fazer uma visita proveitosa em menos tempo.

O museu fica próximo da Torre Eiffel, de forma que dá para combinar os dois programas no mesmo dia.


Cluny

O Museu de Cluny, ou Musée National du Moyen Âge, é dedicado à arte medieval. Lá está o famoso conjunto de tapeçarias intitulado A dama e o unicórnio, criado por volta de 1490.

O próprio edifício já é uma atração. Instalado numa antiga abadia medieval, seu conjunto arquitetônico inclui termas romanas, abertas à visitação. Fica bem lá no meio da muvuca turística de Paris, próximo ao Boulevard Saint-Michel. Um ótimo local, portanto, para dar uma descansada do agito e passar umas duas horas em outro mundo.



Rodin

O Museu Rodin, instalado num edifício do século 18 e cercado por um magnífico jardim, tem obras de Auguste Rodin, Camille Claudel e de outros artistas.


No jardim de esculturas está a Porta do Inferno, enorme escultura em bronze com mais de duzentas figuras, que o artista levou dez anos para concluir, O Pensador, Eva e várias outras obras dispostas numa bonita paisagem.

Duas a três horas de visita.

Marmottan Monet

Esse museu,  instalado num casarão que foi um pavilhão de caça,  possui a mais importante coleção de obras de Claude Monet, segundo seu website.

A tela Impression, Soleil levant, de Monet, que deu ao impressionismo seu nome, está lá. Além de Monet, o  museu tem uma coleção importante de Berthe Morisot e outros impressionistas.

Fizemos a visita em pouco mais de duas horas.

Mundo Árabe

O Museu do Institut du Monde Arabe não é tão badalado como os outros que citamos aqui, mas suas coleções que vão da antiguidade à arte contemporânea valem muito uma visita. Museu moderno, arquitetura notável, com destaque para as janelas que se abrem e fecham automaticamente conforme a incidência da luz. A visita requer mais de três horas para aproveitar bem.

Museu da Cidade de Paris

O Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, pertinho do Trocadéro, tem um acervo de cerca de 10.000 obras dos séculos 20 e 21. Destacamos o enorme (600 metros quadrados) mural La fée electricité, de Raoul Dufy e La danse, de Henry Matisse.

Dá pra ver em pouco mais de duas horas de visita e, ótima notícia, a entrada é gratuita para a coleção permanente.

Petit Palais

O museu do Petit Palais tem obras da antiguidade até o século 19, incluindo artistas como  Cézanne, Renoir e Gustave Moreau.

A visita já vale pelo belíssimo prédio, com destaque para o jardim central onde funciona um café. Como a entrada é gratuita, é um excelente ponto para dar uma descansadinha depois de bater pernas pelas margens do Sena ou pela Champs-Elysées.


Maison Européenne de la Photographie


Quem gosta de fotografia vai curtir muito a Maison Européenne de la Photographie, com seu acervo de 20.000 fotos, todas tiragens realizadas pelos próprios autores ou sob sua supervisão. Coleção internacional, com obras realizadas a partir de dos anos 1950.

Se a fotografia não for sua praia, ignore esta sugestão.

Museu do Erotismo

Ao escrever este post, descobrimos que o Musée de l'Erotisme fechou suas portas. A frequência diminui enquanto o aluguel aumentou, e os proprietários tiveram que vender a coleção.Uma pena, era um desses museus pequenos e diferentes que gostaríamos de recomendar.

Ficam aí algumas fotos, para vocês terem uma ideia do que se tratava: https://flic.kr/s/aHskRFysTE


Dicas práticas

Os museus parisienses são bem organizados. Mesmo quando há filas para entrar, como há bilheterias em quantidade suficiente e máquinas de auto-serviço (nos museus maiores), ninguém fica mofando na fila por horas.

Comprar um passe turístico que dá acesso a museus e diversas outras atrações pode ser interessante. Facilita o acesso, porque não é necessário comprar o ingresso nas bilheterias, e sai mais barato. Mas é bom verificar se você vai ter tempo para ver tudo o que está incluído no seu passe, e não se esqueça de que a maioria dos museus tem um dia de acesso gratuito.