quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Abaixo do nível do mar, em terra firme...

Decidimos visitar a Holanda, país com 26% de seu território abaixo do nível do mar e 50% com altitude até 1 metro acima do nível do mar. Nossa piadinha preferida é que por lá, você tem subir uma escada para chegar na praia. Mas não fomos à praia (somos chatos, não loucos) portanto não conseguimos comprovar nem desmentir a piada.

A Holanda é também conhecida como 'Países Baixos', por causa da (não) altitude e não porque a sua população seja de baixa estatura. Aliás, os holandeses são as pessoas mais altas do mundo. Outra curiosidade é que Amsterdam é a capital do país, mas a sede do governo fica na cidade de Haia. País dos moinhos, tamancos, tulipas, vaquinhas, bicicletas e Van Gogh, a Holanda oferece aos turistas muito mais que isso...

Como é um país relativamente pequeno e com bom transporte público, principalmente os trens, optamos por nos hospedar em Amsterdam e fazer bate-e-volta para algumas cidades. Do aeroporto de Schiphol tem trem para Amsterdam (viagem com duração de 20 a 30 minutos, dependendo se o trem é direto ou não) e também para muitas outras cidades da Holanda. Ficamos em um hotel perto da Centraal Station, para facilitar a chegada e a partida e e pela proximidade dos principais pontos turísticos da cidade e passeios para outras cidades da Holanda. A estação de ônibus fica no pavimento superior da estação de trem.

Já sabíamos que mesmo no verão as temperaturas são relativamente baixas, mas além disso encontramos muito vento e chuva. Guarda-chuva é artigo supérfluo, a não ser que você seja dono de uma fábrica, pois o vento é tão forte que o aparato não dura a primeira rajada. E não se enganem com a previsão do tempo: o vento garante sensação térmica bem abaixo do que os termômetros marcam.

O frio visto da janela

Amsterdam é uma cidade para se caminhar, mas tomem cuidado com os ciclistas. Por lá são eles os donos do pedaço e sempre têm a preferência. Vendo a quantidade de bicicletas estacionadas nas ruas e nos enormes estacionamentos a gente tem a impressão de que há mais bicicletas do que holandeses no país. Nossa amiga que mora lá confirmou a impressão: segundo ela, muitos têm um bicicleta para ir ao trabalho, mais velhinha e simples para não atrair ladrões, e outra mais incrementada para passear nos fins de semana.


Tanto a capital quanto as demais cidades que visitamos têm uma arquitetura muito graciosa, com prédios que parecem feitos de lego, muitos deles meio tortinhos por causa das fundações de estacas de madeira

As  flores estão por toda a parte. É muito difícil fotografar um paisagem holandesa sem flores nem bicicletas.




Os museus

O Rijksmuseum (Museu Nacional) e o Museu Van Gogh são obrigatórios. Acervos belíssimos, organização perfeita. No Van Gogh há sempre muitas filas, portanto o ideal é chegar bem cedo, antes do horário de abertura, ou comprar ingresso pela internet. Para quem não é fanático por museus ou só vai ter tempo para conhecer um deles, a opção vai ser difícil. Relutantemente recomendamos o Van Gogh, que é menor e tem Van Gogh, mas aí perde-se o Vermeer e a Ronda noturna,  que estão no Rijksmuseum.


Os jardins em torno Rijksmuseum também são um belíssimo passeio, com muitas flores (claro), esculturas, o famoso letreiro I AM AMSTERDAM onde o mundo inteiro parece obrigado a tirar fotos, uma provavelmente temporária parada de coelhinhos e essa coisa aí:

A Coisa
I am Amsterdam
Jardins
Parada de coelhinhos

Os museus em Amsterdam são caros: 17 euros. Para compensar, economize na comida, que também é cara e não é grande coisa.


Passeios

O melhor, claro, é passear pela cidade fotografando a arquitetura, os canais, flores e bicicletas, quando não chove.

Entre os pontos turísticos mais falados, fomos ao Begijnhof, um conjunto arquitetônico projetado originalmente para abrigar uma ordem de freirinhas. Os prédios do século 14 são diferentes das construções da cidade. É um local bonito e tranquilo, mas difícil de encontrar. Neste blog tem dicas de como chegar lá, prestem atenção nos horários de visitação.



O Vondelpark é um parque agradável, muito arborizado, com obras de arte nos gramados, patinhos nos lagos e holandeses aproveitando o sol (quando tem). Bonito, mas é só isso.



O pitoresco Distrito da Luz Vermelha é recomendável apenas para os mais boêmios e os que não se incomodam com a prostituição sendo tratada como atração turística. Demos uma voltinha rápida, não achamos graça. Não é permitido fotografar as moças trabalhando, logo ...


Fomos conhecer a enorme biblioteca pública OBA, aguardem informações em breve no blog Caçadores de Bibliotecas. Tem um restaurante simpático lá dentro, que serve refeições leves.

Não fomos à Casa de Anne Frank e nem ao Madame Tussauds porque não gostamos de ver casas e figuras de cera, sempre com filas. Também não fizemos o recomendado passeio de barco pelos canais, porque sempre que cogitávamos no assunto estava chovendo.


Johnny Depp de cera

Pra quem gosta de maconha, a dica são os coffee shops onde a dita cuja pode ser consumida em paz e legalmente. Mas não entre para tomar café, não é essa a ideia.


Bate-e-volta

Delft é a cidade do Vermeer e da porcelana branca e azul, lindíssima mas muito cara. Dá pra comprar no máximo um bibelozinho do tamanho de um pen-drive, mas não é necessário ir pra Delft só por causa disso, a porcelana é onipresente na Holanda. Canais, bicicletas, flores, arquitetura, cafés acolhedores.

 banco de porcelana

Zaanse Schans é uma espécie de museu a céu aberto, uma representação do que era a vida nas aldeias holandesas antigas, com nada menos do que 13 moinhos muito bem preservados. Dá para entrar nos moinhos e nas diversas casinhas e, principalmente, fazer dezenas de fotos tipicamente holandesas. Se encontrarem uma senhora vendendo tortas de maçã ao lado de um dos moinhos, parem imediatamente e comam uma (ou duas). São perfeitas e acabam num instante. Zaanse Schans é perto de Amsterdam, basta pegar um ônibus turístico na Centraal Station, com vários horários à disposição.


Haia vale uma visita rápida, tem imponentes edifícios governamentais e um museu onde mora a Moça com brinco de pérola do Vermeer.

Parlamento holandês
Parlamento holandês

Haarlem é, provavelmente, a mais bonitinha das cidades bonitinhas que visitamos na Holanda. Tem moinho (um só), um praça quadrada no centro, uma catedral enorme e enfeitadíssima, mas o melhor são as ruazinhas caprichosamente decoradas, que apelidamos de foforuas. São ruas normais, por onde passam pessoas e bicicletas (claro) e até carros, mas parecem uma sala de visitas. O pessoal coloca vasos, mesinhas, bancos, esculturas e sobretudo flores, muitas flores. A gente até se pergunta se existe algum concurso de rua mais bonita em Haarlem.




Comida

Não é o forte do país, e isso os próprios holandeses e seus descendentes admitem. Mas há algumas coisinhas gostosas: as batatas fritas com diversos tipos de molho à base de maionese, vendidas em pequenos quiosques; os waffles com calda de chocolate e outros aditivos (prefira com a calda quentinha); os stroopwafels, uma espécie de bolacha redonda com recheio de caramelo; tortas de maçã; saladas de batata, muito despretensiosas e muito boas, que a gente compra nos supermercados; chá de caramelo.

E não podemos esquecer dos queijos. São caros, mas há montes de queijarias espalhadas por Amsterdam onde se pode degustar o equivalente a uma pequena refeição, e depois comprar um queijo inteiro nos supermercado. Se os restaurantes não são grande coisa, os supermercados compensam.

Comemos bastante bem num restaurante árabe chamado Papa Ali. Boa comida, atendimento simpático, preços honestos.



Se forem, não deixem de consultar o blog Ducs Amsterdam, de um brasileiro que mora lá. Muito informativo e engraçado.






quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A arte de dirigir fora do Brasil

Vale a pena alugar carro em viagens internacionais por dois motivos essenciais: ganhar tempo (ou deixar de perde-lo) e ter a privacidade/flexibilidade/ócio que você não teria viajando de ônibus/trem/avião ou excursão.

Para dirigir em alguns países é necessário ter uma PID (permissão internacional para dirigir), que funciona como uma espécie de carteira de motorista global. Alguns países pedem, algumas agências de aluguel de carros pedem, mas acredito que isto sirva mais para casos de encrenca, que envolva acidentes, polícia e tal. Já aluguei carro em outros países apenas utilizando o passaporte ou a carteira de motorista brasileira. Consulte antes de sair se o destino exige a tal PID (pode ser tirado no Detran da sua cidade, mediante pagamento).


Avis, Budget e Hertz são as principais empresas mundiais de aluguel de carro. Você pode fazer cotações online referente aos dias em que permanecerá com carro, kilometragem e tipo de veículo. Estas empresas normalmente solicitam um cartão de crédito internacional e insistem em empurrar todo o tipo de seguro estendido para o veículo. Se você for um safe driver, estiver confiante com a direção em outro país e acreditar no cara lá de cima, faça apenas o seguro mínimo. 

Dirigir na mão inglesa pode ser confuso de início, mas em pouco tempo você se adapta. Na dúvida, é melhor solicitar um carro com câmbio automático. As únicas coisas que me importunam dirigindo com o volante na direita é decorar a alavanca de seta (como o eixo da direção é invertido, a seta lá fica onde é o nosso limpador de para-brisa aqui, e vice-versa. Imaginem acionar o limpador sempre que quiser jogar seta) e entrar e sair de rótulas/rotundas, quando o cérebro não consegue entender prontamente para onde você deve cruzar e a quem você deve dar passagem.


Se a viagem for longa você vai em algum momento precisar abastecer. Lembre-se que em muitos países não existe a figura do frentista, logo você mesmo terá que abastecer o tanque. Em alguns países você paga adiantado dentro da lojinha e especifica qual bomba você usurá. Ou você simplesmente coloca o combustível e paga ao final na lojinha o valor correspondente ao consumo.

A maioria das locadoras de automóveis solicitam que você devolva o tanque cheio. Assim, busque nos mapas antes de devolver o carro onde existem postos de gasolina, próximos ao local de devolução do veículo. Em geral, nas grandes cidades, os aeroportos são os melhores locais para alugar um carro: o acesso até o aeroporto é facilitado e as locadoras ficam abertas 24 horas por dia, 7 dias na semana.

Em países desenvolvidos, o radical trust prevalece, e pode acontecer de você simplesmente retornar o carro em um estacionamento designado e utilizar um “key-drop”, alguma caixinha onde você devolve a chave, exatamente como nas bibliotecas e antigas video-locadoras, sem intermédio de um funcionário humano. Isso pode causar uma certa aflição aos brasileiros, acostumados com recibos e assinaturas, mas até hoje, nunca deu errado comigo.


Se você permanecer com o carro alugado por mais de um dia terá que se preocupar em encontrar um local para deixar pernoite. A maioria dos hotéis oferece estacionamento, mas os preços são proibitivos. E em cidades high-profile, onde o valor dos estacionamentos é feito exatamente para inibir a circulação de carros no centro, pode sair bem caro deixar o carro estacionado por algumas horas. O mais simples é tentar conseguir uma vaga segura em um ponto de rua, desses que você coloca moedinha no totem (meter), e é bom lembrar que no horário noturno (entre 18-6h) normalmente é cobrado apenas uma fração/período. Consulte o site da prefeitura do local de destino para descobrir se existem estacionamentos públicos e quanto é cobrado por eles.

Nestas mesmas cidades onde o tráfego nas regiões centrais não é bem vindo, normalmente existem sistemas de radiofrequência, que cobram automaticamente sempre que o veículo adentra a região. Se você não possui o tal aparelhinho, daqueles que ficam colados no vidro do carro, você certamente será multado. Consulte com a locadora se eles oferecem estas maquininhas de passagem livre (eles cobram depois o valor das entradas nessas zonas, direto no cartão de crédito).


As estradas dos países desenvolvidos são extremamente bem sinalizadas e seguras. O que me irrita, e talvez aos demais brasileiros típicos, é que em determinados situações os motoristas locais simplesmente se mantêm dentro do limite de velocidade, quando obviamente seria possível andar mais rápido, sem oferecer risco à sociedade e ainda assim fazer o tráfego fluir melhor (embora a ciência me prove o contrário). Esteja atento aos locais onde existem radares de velocidade e tente antever pontos onde os policiais podem estar escondidos. Em highways, uma dica é seguir os motoristas locais que se demonstram mais ousados (rápidos, porém seguros), pois eles provavelmente conhecem as mudanças dos perímetros de velocidade e locais de radares.

Em alguns lugares existe a cultura dos motor-homes. Muitos jovens e pequenos grupos optam por alugar essas vans e minivans, que contam com camas, banheiros e cozinhas. Pode ser uma boa opção pra economizar com hotéis. 

Alugar carro fora também é um boa oportunidade de dirigir aquela carreta que você jamais pilotaria no Brasil, ou ter a chance de cruzar um autobahn em velocidade que os carros populares daqui nem possuem no velocímetro. O preço de aluguel de carros esportivos, de luxo ou SUVs as vezes é pouco maior do que o valor do sedan tradicional. Vale a ostentação.



No mais, use cinto de segurança, aproveite a paisagem e não se comporte como um babaca.