quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Mar e pirâmides em Yucatán


A península de Yucatán, no México, tem ingredientes para agradar tanto a quem gosta de arte, história e sítios arqueológicos poeirentos quanto aqueles que preferem praias e atividades aquáticas de forma geral. Lá a gente pode ter tudo isso praticamente lado a lado: esplêndidas ruínas de cidades maias e mar do Caribe.

Queríamos evitar a famosa e badalada Cancún, cuja fama de turismo pasteurizado e caro não nos entusiasmava, mas não foi possível, já que o aeroporto é lá. Mas não ficamos muito, apenas tomamos o ônibus para Playa Del Carmen, que nos pareceu um destino mais simpático.


Playa Del Carmen

Não é exatamente o paraíso, mas é legal. Praia urbana muito extensa e com muita gente, praticamente tomada pelas espreguiçadeiras (que eles chamam de camastros) dos hotéis e restaurantes à beira-mar. Alguns desses últimos, que eles chamam de clubs de playa,  cobram aluguel pelos tais camastros, outros você ocupa se for consumir. Depende do grau de "sofisticação" do estabelecimento, pelo que entendemos das explicações da moça do nosso hotel. Não fizemos nem uma coisa nem outra, porque não achamos legal jogar dinheiro fora, nem esticar nossos corpinhos em equipamentos de higiene duvidosa, a julgar pela aparência encardida. Gostamos mais de estender nossas cangas na areia macia, preferencialmente à sombra. O problema é que as sombras não privatizadas em Playa Del Carmen são poucas e muito disputadas, há que andar bastante para encontrá-las.



O  mar de águas claras e ondas geralmente suaves é muito agradável, mas atenção: se o mar estiver agitado ou o tempo chuvoso, aquele azul cristalino na qual pensamos ao ouvir o nome Caribe fica um pouco prejudicado.

Restaurantes, bares e lojas para turistas se concentram sobretudo na interminável Quinta Avenida, tão longa que, a cada quilômetro (mais ou menos), a gente tem a impressão de que tudo começa a se repetir: vemos o mesmo restaurante ou o mesmo café que já encontramos lá atrás. Pode ser confuso. Uma dica: quanto mais se caminha em direção ao norte, mais sofisticados vão ficando os estabelecimentos.



Há muitos restaurantes caros e com pinta de arapuca para turistas, mas procurando bem dá para encontrar boa comida a preços mais justos. Na avenida paralela, a Décima, há lugares mais baratos e populares.


A Quinta é muito animada, mas o assédio ao turista é algo positivamente irritante. Garçons, vendedores de passeios, taxistas, camelôs, mariachis, empregados de lojas de artigos de prata formam um verdadeiro corredor polonês ao longo da avenida tentando chamar nossa atenção, de forma insistente e até desagradável. Em diversas lojinhas de joias de prata vale o sistema da pechincha: eles dão um preço muito alto e vão baixando. Se mesmo assim o candidato a freguês não se animar a comprar um bagulho qualquer, corre o risco de ouvir uma grosseria. A dica é esta: se o vendedor for muito insistente e pegajoso, cair fora rapidinho e procurar uma loja com atendimento mais profissional.


As ilhas

Pegamos o ferry boat no porto de Playa Del Carmen e meia hora depois estávamos em Cozumel, tomando chuva.

Antes  da chuva se transformar em muita chuva, decidimos caminhar pela orla até a Playa Azul que, segundo o moço do guichê de informações turísticas, ficava a certa de 20 minutos à pé do porto. Cometemos o erro de não levar carteira de motorista, o que nos impediu de alugar carro para dar a volta na ilha, como muita gente faz. Depois de uma hora andando com várias pausas para nos abrigar das pancadas de chuva cada vez mais insistentes, perguntamos novamente para um porteiro de hotel. A tal  praia fugidia ficava a mais ou menos 20 minutos do local onde estávamos. Molhados e um tanto frustrados, demos meia volta, tomamos uma cerveja com quesadillas e voltamos para Playa Del Carmen onde, logo descobrimos, não choveu. Azares de viagem.

Cozumel, na verdade, é um lugar para quem gosta de mergulho e e outras atividades subaquáticas além de andar na chuva, o que nos consolou um pouco do dia perdido.



Dias depois, já com o tempo ensolarado, partimos para Isla Mujeres. As agências turísticas vendem um passeio de barco que passa pela famosas esculturas no fundo do mar mas, como o mar não estava tão límpido naqueles dias, essa opção foi desaconselhada pelo próprio moço da agência. Fomos por conta própria, pegando o ônibus até Cancún, depois um táxi até o porto Juárez e, por fim, esperamos por duas horas na fila para embarcar. Ao sol na maior parte do tempo, porque as coberturas não eram suficientes para abrigar a pequena multidão presente. Naturalmente, a empresa Ultramar não se preocupou em nos alertar sobre a espera quando compramos o bilhete. Os barcos, que saem a cada trinta minutos, não dão conta do grande afluxo de passageiros num dia de sol. E nem era alta temporada ainda...

Compensou? Mais ou menos. A Playa Norte, onde se pode chegar caminhando, é bonita, com suas areias clarinhas e mar estilo piscina em tons de verde cristalino. Mas é lotada e completamente tomada pelos bares e restaurantes. Demoramos muito para encontrar uma sombra não privatizada, que nem era num local muito agradável. Além disso, o banhista fica confinado aos limites impostos por uma cordinha de segurança, porque lá param muitos barcos e não é seguro se aventurar em águas mais fundas. Saímos meio cedo da praia, para evitar pegar mais filas na volta. Há mais praias na ilha, basta alugar um carrinho de golfe para chegar nelas.




Os sítios arqueológicos

Para o nosso gosto, as ruínas de cidades maias pré-colombianas são o melhor do local. Mais interessantes do que as praias que, afinal, também temos no Brasil. Visitamos três delas.

Chichen Itzá é a mais imponente e bem conservada da três. As construções são simplesmente magníficas. Como fizemos um passeio de agência, ficamos menos tempo do que gostaríamos no sítio. Preferimos nos demorar bastante nesses lugares e fotografar até gastar as pedras. Em compensação, as explicações do guia, um profissional muito bem preparado, foram muito interessantes. E olhem que somos chatos e não gostamos muito de guias turísticos.





Tulum tem a graça adicional de sua localização, à beira mar (mas no alto). As ruínas não são tão impressionantes quanto as de Chichen Itzá, mas a paisagem com o mar azul compensa. Há uma pequena praia praticamente dentro do sítio, onde se pode descer por uma escada. Muito lotada, mas dá para se refrescar e descansar um pouco do passeio sob o sol do verão mexicano.



Fomos para lá de ônibus, saindo da rodoviária de Playa Del Carmen. O ônibus, confortável, vai direto até a entrada do sítio arqueológico e a viagem dura cerca de uma hora. Dica: há uma espécie de parque na entrada, com muitos bares, restaurantes, lojinhas, banheiros e quiosques que vendem ingresso para o sítio e passeios. Não é necessário comprar o ingresso nesses quiosques e nem pagar pelo trenzinho que leva apenas até a entrada do sítio. Caminhamos por uns 10 minutos até lá e compramos o ingresso diretamente nas bilheterias oficiais.




Cobá é um pouco mais longe, são três horas de ônibus saindo de Playa Del Carmen e há poucos horários disponíveis. O sítio fica no meio da floresta e também é interessantíssimo. Na entrada são oferecidos táxis de bicicleta, aqueles veículos movidos a pedaladas humanas, e aluguel de bicicletas para os que se consideram capazes de pedalar com seus próprios pés. É uma boa ideia, porque o local é grande e as construções um tanto afastadas uma das outras, mas não imprescindível. É perfeitamente possível fazer o percurso andando, se a pessoa não tiver dificuldades de locomoção. Em Cobá ainda é permitido subir na pirâmide de 42 metros, que tem degraus e cordinha de segurança. Nada muito perigoso, mas requer cuidado e boa forma.





Os cenotes

Outra atração de Yucatán são os cenotes, lagos de água doce formado pela erosão das rochas. Existem inúmeros, muitos deles no interior de cavernas, outros a céu aberto. Visitamos apenas um deles, o Ik Kil, que fazia parte da programação do passeio a Chichén Itza. Muito bem cuidado, fica dentro de um parque com ótima infraestrutura. Para cair nas águas profundas do cenote, é preciso tomar uma ducha e, para quem não for bom nadador, recomenda-se alugar salva-vidas.



As praias

As praias do Caribe são boas, mas sua fama é um pouco exagerada. No Brasil temos praias igualmente lindas, muitas até melhores. A cor da água é realmente especial, mas depende das condições climáticas e do local. Nem todas podem ostentar a cor famosa, e há praias brasileiras tão azuis e límpidas quanto as de lá.

A Playa Paraíso, em Tulum, foi a que mais gostamos na região e recomendamos muito. Mar e areia perfeitos, sombras disponíveis em alguns locais. Quando fomos não estava tão cheia, mas ainda não era alta temporada, que começa depois do dia 4 de julho. Fica a mais ou menos um quilômetro da entrada do sítio arqueológico, por uma estradinha fácil de caminhar. Ignore os táxis se oferendo no início da estrada e os alertas dos preguiçosos que dizem ser "muito longe", a menos que você tenha algum problema de mobilidade. Dá muito bem para chegar lá caminhando. Nós entramos na Playa Santa Fé e andamos um pouco mais pela areia até a Paraíso. Uma delícia de caminhada! Optamos por fazer dois passeios para Tulum, um para ver as ruínas e outro para aproveitar a praia. Quem estiver com poucos dias disponíveis pode fazer no mesmo dia, acelerando um pouco a visita às ruínas.





Os parques

Há vários parques temáticos perto de Playa Del Carmen. Escolhemos passar um dia meio chuvoso num deles chamado Xcaret. Lugar bonito, à beira-mar, onde se pode nadar em piscinas naturais e praticar snorkel. Há também um rio subterrâneo, contraindicado para claustrofóbicos. Metade de nós sofre de claustrofobia e a outra metade não sabe nadar muito bem, então não fomos.



O parque tem aquário, borboletário, aviário, golfinhos com os quais o turista pode interagir e outros bichos. Ver animais presos para nossa diversão incomoda um pouco, apesar de todos os ambientes para os animais serem amplos e, aparentemente, adequados (com exceção do aquário e das piscinas dos golfinhos). O aviário é lindíssimo, a gente se sente na selva cercada de passarinhos.

As atrações cenográficas são divertidas, principalmente o cemitério maia, com seus túmulos criativos e epitáfios poéticos ou engraçados.


No final do dia, rola a atração mais recomendada pelos guias: o show para turistas, que pretende mostrar a cultura e a história locais. Trata-se de um espetáculo bastante profissional e bem produzido, mas o conteúdo é aquela coisa: representações alegóricas do "encontro entre duas culturas", que é como eles chamam a destruição da cultura maia pelo invasor europeu. As danças e cantorias folclóricas são bonitas, mas cansam. Só vimos uns pedaços da coisa toda. A população local parece ter muito orgulho do show, é bom tomar cuidado para não ofendê-los com comentários pouco elogiosos.



Fomos para Xcaret com uma agência, mas também dá pra ir de ônibus comum, saindo do terminal de Playa Del Carmen. É bom fazer cotação de preços antes de decidir.


Locomoção

Nossa intenção era alugar um carro para percorrer a região de forma autônoma. Desistimos, porque o transporte público para todos os locais de interesse é de boa qualidade. Nos dois terminais da cidade há ônibus para os principais pontos turísticos da região. Apenas o passeio para Cobá poderia ter sido mais proveitoso de carro, porque lá perto há três cenotes que não tivemos tempo de visitar, porque o último horário de ônibus é por volta das três horas da tarde. De resto, não nos arrependemos.