segunda-feira, 24 de agosto de 2015

As vovós guardiãs dos museus de arte na Rússia

Na Rússia, em quase toda sala, de todo museu, você verá vovós sentadas zelando pelo espaço e pelas obras de arte. São as guardiãs e é a tradição.

A maioria delas só permanece lá, posicionada e atenta, calada. Não lembro de ter levado um esporro, embora isso seja uma constante na Rússia para gringos. Uma ou duas foram bastante simpáticas até, conversando longamento em russo, sem se dar conta de que eu não estava entendendo nada.




Algumas parecem bastante entediadas e ficam nos celulares. Outras colocam suas cadeiras próximas nas divisas entre salas para poderem conversar.



Não muito diferente de outros países, as vovós "babushkas" aceitam pequenos trabalhos para incrementar a aposentadoria (prazerosa e financeiramente). Especialmente em Moscou e São Petersburgo elas dominam as bilheterias do metrô, alguns trabalhos de jardinagem e, claro, os museus de arte.

As fotos acima são minhas. Mas o fotógrafo Andy Freeberg também ficou fascinado pelas vovós e decidiu fotografá-las junto das obras que estão encarregadas de guardar. "Quando você olha para as pinturas e esculturas, a presença delas se torna uma parte inerente da experiência do museu". Vejam lá, o projeto é intitulado Guardiãs dos museus de arte russos.


sábado, 22 de agosto de 2015

Comendo por aí

Comer é uma das partes boas de viajar, vamos admitir. Em qualquer lugar onde se vá, próximo ou distante, sempre vai ter um sabor novo para provar, um temperinho diferente, um docinho endiabrado que não respeita dietas.

Mas também pode ser uma complicação das boas, porque é algo que se precisa fazer todos os dias, e mais de uma vez. Se a viagem for longa, sai caro, e fora do Brasil, ainda tem as dificuldades no entendimento dos cardápios e hábitos alimentares.

Mas a gente pode se informar antes de viajar, não? Pesquisar, aprender os nomes dos principais pratos do local, até mesmo treinar a pronúncia. Claro, mas não se enganem. Na hora H, quando a gente está tentando descobrir o que comer num restaurante croata lotado, com o garçom gentilmente impaciente esperando seu pedido, diante de um cardápio no qual uma frase inteira no idioma nativo está traduzida por duas palavras em inglês, toda a pesquisa prévia se torna meio inútil. E também tem aquelas banalidades que ninguém lembra de pesquisar. Por exemplo, como saber se a água mineral é com ou sem gás em terras alienígenas? Tivemos algum trabalho para descobrir que, na República Tcheca, com gás é "perliva" e sem gás é "ne perliva". Não é lindo?

Encontrar bons restaurantes também pode ser bem trabalhoso para quem não pretende gastar fortunas comendo nos lugares indicados pelos guias de viagens. Sugestões de amigos e blogs especializados como o 716 La Vie ajudam, mas a questão também é o tempo, além da praticidade. A menos que a motivação de sua viagem seja prioritariamente gastronômica, provavelmente vai comer em locais próximos da zona turística ou do hotel onde estiver hospedado (o que estiver mais à mão na hora da fome). Nem sempre dá tempo de sair procurando aquele restaurante bom e barato que te indicaram, principalmente depois de um dia inteiro de maratona turística.

Nossa singela solução economiza tempo, dinheiro e decepções: comprar comida no supermercado e comer no hotel. Em viagens pela Europa, é o que mais fazemos. Europa, que chique, dizem as amigos. É, dá pra ser chique viajando pela Europa, mas vai sair muito caro. Comer no hotel não é muito charmoso, mas tem seus encantos. Em nossa última viagem, nos hospedamos num hotel em Saint-Rémy de Provence que permitia aos hóspedes fazer suas refeições no seu lindo jardim. Jantamos todos os dias num lugar fresco e agradável, ouvindo o canto das cigarras e tomando vinhos excelentes de 5 euros. Bem melhor do pagar uns 20 euros por pessoa num restaurante apertado, lotado e, provavelmente, de padrão discutível de higiene.

Jardim do hotel Canto Cigalo, em Saint-Rémy

Nos hotéis mais cheios de estrelas, que têm bar e restaurante, isso geralmente não é possível. Então, o jeito é comer no quarto. Os hotéis nem sempre gostam disso, mas azar deles. Basta ter cuidado para não sujar o quarto e poupar a arrumadeira dos restos da sua refeição, levando o lixo orgânico num saquinho para jogar na lixeira da rua. 

Dá para fazer excelentes refeições nesse esquema. Nos supermercados europeus há produtos ótimos,  que nem sempre a gente encontra no Brasil, ou até encontra, mas a preços altos. O cardápio pode variar conforme o país, mas nossos itens prediletos básicos são:

- queijos maravilhosos, principalmente na França, Itália e Espanha;
- vinhos, obviamente;
- frios (presunto, salame etc.);
- saladas prontas;
- tabule;
- gazpacho em caixinha (só se tiver geladeira no quarto);
- azeitonas (na Espanha e na Grécia);
- homus, tzatziki e outras pastinhas;
- frutas;
- pão.

Não dá pra comer assim todos os dias, naturalmente. Três dias no hotel e um no restaurante é uma boa média, se o país oferecer boa variedade de comida nos supermercados. A França é um dos melhores. Tudo bem, eles também têm bons restaurantes, mas são caros e você precisa tomar cuidado para não encostar o cotovelo no vizinho.

Opções interessantes são os mercados tradicionais e as feiras de produtos típicos nas cidadezinhas, onde se pode comprar quitutes de pequenos produtores. Às vezes mais caros, mas sempre muito bons.

E passear pelas feiras também pode render uma pequena refeição. É só ir provando um queijinho aqui, outro ali e outro acolá... um pãozinho com azeite, e por sorte existem inúmeros produtores de azeite... azeitonas verdes, pretas, com vários temperos... pedaços de frutas também podem ser degustados em várias barracas... e pode até rolar uma sobremesa. Claro que esse tipo de refeição é aquele que está 'super na moda', o menu degustação.





Temos o hábito de tomar um bom café da manhã sempre que possível. Se a fome aperta no meio de dia, apelamos para os paliativos rápidos típicos do local onde estamos: uma tapioca no Nordeste, um crepe ou tartine na França, batatas fritas na Bélgica, empanadas na Argentina e coisas assim, para não fazer pausas para o almoço. Questão de gosto, claro.

Para garantir o conforto e aumentar as opções de comidinhas a degustar "em casa", é bom carregar na mala alguns itens básicos:
- talheres (faca, garfo e colher);
- saca-rolhas e abridor de garrafas (impossível viajar sem);
- guardanapos de papel;
- pratinhos descartáveis;
- sal (sempre esquecemos de levar, mas pode ser bem útil para temperar uns tomatinhos);
- algo para servir de toalha (um pano-de-prato, por exemplo).


Acharam prosaico? Pobre? Claro, somos chatos, não somos chiques!







quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Waitomo Caves - a coisa mais linda feita por deus

Deus existe, e eu discordo. Mas ainda bem nem todas as coisas foram criadas por nós, humanos. A natureza, em suma. E a coisa mais maravilhosa que eu vi na natureza, ou a coisa mais incrível não criada por humanos, foram as cavernas de Waitomo.

Waitomo é uma pequena vila na ilha norte da Nova Zelândia. Os turistas vão pra lá porque existem cavernas iluminadas por umas larvinhas que ficam presas ao teto, os singelos “glowworms”. Pensem em vagalumes, com suas bundinhas fluorescentes. Só multiplique por milhões. Daí você estará dentro de um barco, dentro de um rio, dentro de uma caverna escura, com o teto parecendo um céu estrelado. Coisa de deus.

Tem toda uma explicação geológica para a formação das cavernas e biológica para os glowworms. A luz neon emitida pelas fêmeas serve pra encontrar parceiros, basicamente. O grande lance é que as larvinhas permanecem apagadas, mas emitem luz quando sentem alguma vibração ou calor. Ou seja, elas estão lá deboas há milhares de anos. E ficam irritadiças quando aparece algum humano para atrapalhar a paz.

É praticamente impossível conseguir tirar uma boa foto das larvinhas, o interior das cavernas é muito escuro. Mas tem umas fotos boas profissionais da internet, vejam lá no final do post.

Bem, chegar em Waitomo é fácil. Você pode sair de Auckland ou Rotorua, as cidades mais próximas. Eu fiz o caminho saindo de Auckland bem cedo, chegando em Waitomo no final da manhã e indo para Rotorua ao final da tarde, após o passeio das cavernas. Saindo de Auckland você pode alugar um carro, dá uns 200 kilômetros. Ou pegar um busão, as duas empresas conhecidas são NakedBus e Intercity.

Em Waitomo existem diferentes cavernas e várias empresas que fazem o passeio tradicional de visita às larvinhas. Algumas incluem passeio de barco dentro da caverna ou atividades radicais como rafting e rapel. Basicamente você pode escolher se quer voltar pra casa molhado ou não. O passeio clássicão dura uma manhã ou uma tarde.

O tour que eu fiz foi pela agência Spellbound, eles te levam de van até uma fazenda nos arredores, e de lá você atravessa vias subterrâneas pra ver as larvinhas. Uma é bem parecida com as cavernas da chapada na Bahia, com os estalactites e tudo mais. A outra é bem mais exclusiva, com o teto estrelado.

Acho digno que se você estiver na Nova Zelândia, o esforço até Waitomo (que aliás é bem próximo de Hobbiton e as outras locações do Senhor dos Anéis, se você curtir tb).

Eu nem sei muito o que falar, só o que sentir:









Fotos de Joseph Michel



















domingo, 9 de agosto de 2015

Cinque Terre: no máximo quatro

Ou três. Pensando bem, duas já bastam. Cinque Terre são 5 daquelas cidadezinhas europeias típicas com casinhas penduradas no morro e jeitão de favela gourmet. Ficam na Ligúria, Itália.


Para conhecer essa atração um tanto supervalorizada, ao nosso ver, é legal se hospedar em La Spezia, supostamente um pouco menos cara do que nas cinque e de fácil locomoção para elas, de trem ou de barco. Chegamos na estação La Spezia Centrale de trem, saindo da estação Santa Maria Novella, de Firenze. Uma viagem de pouco mais de duas horas. 


La Spezia
La Spezia é agradável, tem uma orla bonitinha, mas não há nada pra fazer ou ver, além de uma praça enorme com um monumento a Garibaldi e um castelinho-museu encarapitado em um morro. E restaurantes, bares, lojas, essas coisas.

Escolhemos nos hospedar no Altamarea, que não é um hotel, mas um conjunto de pequenas suítes que o proprietário aluga. Confortável, limpo e bem decorado, mas não tem recepção. O café da manhã é num bar próximo, bem minimalista, ou no próprio quarto, onde eles deixam umas coisinhas pra gente merendar e uma chaleira elétrica. Recomendamos.

Dá pra pegar o trem para as Cinque Terre comprando os bilhetes separadamente ou um cartão turístico válido para o dia todo e todas as viagens. Nós não compramos esse porque não havia nenhuma informação na porta do ponto de venda - não é no guichê da estação, é num lugar chamado ponto turístico ou algo assim - nem em qualquer outro lugar (sorria, você está Itália).

As Cinque Terre são: Riomaggiore, Manarola, Coniglia, Vernazza e Monterosso, pela ordem a partir de La Spezia. As mais bonitas são Manarola, Vernazza e Monterosso. Todas são muito fotogênicas, exceto Coniglia que não é a beira-mar e realmente deve ser pulada, prestem atenção nisso. O moço do hotel nos avisou, não demos bola e o resultado foi que subimos uma escadaria gigantesca para encontrar lá no alto apenas umas casinhas totalmente insípidas que não valem nem uma foto.

Manarola

 De Manarola para Riomaggiore dá pra ir à pé, é bem pertinho e não vale a pena pegar o trem. Entre Vernazza e Monterosso, a rigor também dá, fazendo uma trilha que passa por um parque nacional. Não recomendamos, exceto aos fanáticos por caminhadas. A trilha é longa (cerca de duas horas), tem muita subida até alcançar 180 metros de altitude, muita descida depois e nada mais além de poeira e pedras. Nada de cachoeiras nem riozinhos refrescantes no meio do caminho. Vistas bonitas são três, duas no início e uma no meio, mas não compensam o esforço. Somos acostumados a caminhar e temos boas canelas, mesmo assim foi sofrido. O ingresso para o parque custa 7,50 euros, que você paga apenas para sofrer, já que o parque não oferece nenhuma infraestrutura, nem banheiros, nem pontos de venda de água, nem corrimões ou placas explicativas. Está incluído no cartão turístico. O melhor a fazer é subir apenas até o início da trilha nas duas cidades para ver a paisagem e fazer umas fotos.

Vernazza (vista da trilha)

O trem é um capítulo à parte. As viagens são curtinhas, mas no verão é muito cheio, como em São Paulo nas horas de pico. Você corre o risco de viajar em pé, espremido com um monte de gente tão suada e fedida quanto você vai estar, principalmente se resolver fazer a tal trilha-pesadelo. Além disso, como é a Itália (sorria), os trens sempre atrasam, exceto quando a gente também chega tarde, e costumam ser cancelados, principalmente quando mais precisamos deles.

Sugerimos o seguinte roteiro: de La Spezia direto até Monterosso, trem de novo até Vernazza e depois até Manarola (pulando Corniglia), à pé até Riomaggiore, trem para retornar a La Spezzia.

Riomaggiore

A praia mais próxima do que entendemos por "praia" é a de Monterosso, que tem areia. Mas "areia", no caso, é uma substância escura e cheia de pedras, tomada por cadeiras de aluguel. Não há espaço para brasileiro estender seu pedaço de pano no chão e ficar deitadão ao sol. O melhor trecho da praia é privado, e paga-se 10 euros para entrar, com direto a uma cadeira e um guarda-sol. As demais são "praias" de rochas, com escadinhas para descer até o mar. Esse tipo de praia europeia tem sua graça, quando a gente se acostuma, porque água costuma ser límpida e convidativa, mas em Cinque Terre não é tanto assim. Água turva, pedras lodosas e muita, muita gente.

Monterosso

Praia em Vernazza (não digam que não avisamos)

No mais, bares, restaurantes, lojinhas, sorveterias e, para quem gosta, aquelas vielas tão europeias, sujinhas e cheias de roupas penduradas nas janelas.

Outra maneira de conhecer as Cinque Terre (ou Quattro, ou Tre) é por barco. Você compra um bilhete turístico e usa o transporte entre uma cidade e outra de acordo com a sua conveniência e horários dos barcos, óbvio. Nossa epopeia foi por trem por sugestão do dono da hotel.

Mas o melhor da região é mesmo Porto Venere, que não é uma das cinque. Chega-se lá por mar, meia hora de barco saindo de La Spezia. As belas paisagens podem ser vistas de cima, durante um agradável passeio à pé pelas construções históricas do local. As praias são rochosas, mas a água é mais convidativa do que nas Cinque Terre. Tem até uma caverna dedicada a Lord Byron, que nadava por lá fazendo suas travessias arriscadas. Pertinho tem a Isola Palmari, cujas pseudopraias o moço do hotel recomendou, mas não fomos, já que parecem ser exatamente iguais às de Porto Venere quando se olha de cima.

Porto Venere
Porto Venere

Há outros pontos turísticos lá por perto que não visitamos por falta de tempo, como Lerici, localizada do outro lado do Golfo do Poeta.

Mais fotos:

Cinque Terre
https://www.flickr.com/photos/jo_ma/sets/72157656561603559 

Porto Venere
https://flic.kr/s/aHskeoZbnS