terça-feira, 6 de setembro de 2022

Paraty, depois do fim do mundo

Não, o mundo ainda não acabou. Nem a pandemia. Gostaríamos muito de dizer que este é nosso primeiro post pós-pandemia, mas não podemos, porque somos chatos, mas não iludidos. Falar em pós-pandemia é prematuro. O vírus ainda circula, e sim, temos que continuar usando máscaras, tomando todas as doses de vacina que forem necessárias e mantendo os cuidados para não pegarmos essa doença e não contaminarmos ninguém.

Mas,  e aí? Voltamos a viajar? Sim, com prudência. 

Passamos alguns dias em Paraty, neste mês de julho. Escolhemos esse destino porque, além de gostamos muito de lá, é um local onde dá para ir de carro e ficar a maior parte do tempo ao ar livre, na praia ou fotografando a cidade. O inverno é uma época boa para visitar Paraty, porque chove menos, o sol não está muito forte e a luz, muito bonita. Mas isso não quer dizer que o turista não possa ter azar e encarar uma semana de chuva, como aconteceu conosco em nossa penúltima visita, em 2012. 



O Centro Histórico

Considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO, o Centro Histórico é uma das maiores atrações de Paraty.  As construções do período colonial espalham-se por um quadrado à beira do mar, com alta concentração de bares, restaurantes, lojas e pousadas. A gente costuma passar horas caminhando por lá, apreciando a paisagem e a arquitetura bem preservada, fotografando, escolhendo locais para comer e apreciando o trabalho dos artistas e artesãos locais. 








Rua do Fogo (de um lado)

Rua do Fogo (do outro lado)



O calçamento de pedras é original, o que é ao mesmo tempo uma notícia  boa - porque foi preservado - mas também má, porque caminhar por lá pode ser bem cansativo. Tênis, botas da caminhada ou, pelo menos, calcados confortáveis com solado antiderrapante são itens indispensáveis nos passeios pelo Centro Histórico. 

Outro dado pitoresco, mas que pode ser um tanto problemático, são as inundações na maré alta. Paraty foi projetada para permitir a entrada da água do mar, como forma de manter as ruas limpas. As ruas cheias de água rendem belas fotos, mas, quem estiver hospedado num local sujeito à inundações, provavelmente vai ter que enfiar o pé na água, que não é muito cheirosa. Em nossas diversas idas a Paraty não chegamos a ver esse fenômeno, a não ser nas ruas mais próximas ao mar, mas sabemos que acontece. Quem pretende se hospedar no Centro Histórico precisa estar preparado. Nas fotos, uns trechos com um pouquinho de água.




O Forte

O forte Defensor Perpétuo não é lá muito espetacular, mas fica no alto e a vista é bonita.

Praias

Na cidade mesmo há duas praias urbanas, Pontal e Jabaquara, indicadas apenas para os apreciadores de praias de muvuca. Muitos bares e muita gente. Para tomar uma cervejinha à beira-mar, devem servir, mas nunca fizemos. Somos chatos e não gostamos muito de barracas de praia. 



Para conhecer praias bonitas em Paraty é preciso pegar um barco ou a estrada. Mas isso não chega a ser um problema, porque é tudo relativamente fácil. 

Os passeios de barco saem do cais de Paraty, diariamente. As opções são as escunas, barcos grandes e bonitos, ou os barquinhos que oferecem até passeios individuais. Fizemos um passeio de escuna em nossa primeira viagem, há muitos anos. Muito agradável, com direito a paradas para mergulhar do barco e visitas a praias. São todos passeios pela baía de águas calmas, sem sustos. Mesmo assim, nunca nos animamos a pegar os barcos pequenos, embora o pessoal de lá afirme que são seguros. Nossa sugestão é pegar informações no local de hospedagem, antes de se enfiar em qualquer barquinho.



Por terra, basta pegar a rodovia Rio-Santos em direção a Angra dos Reis e explorar as diversas opções de praias do Corredor Norte. Gostamos muito da Praia do Cão Morto, São Gonçalo e São Gonçalinho, relativamente tranquilas, de águas calmas e aparentemente limpas. Nessas praias ainda há a opção de pegar um barquinho para as ilhas próximas. São cerca de 7 minutos até a Ilha do Pelado. É um passeio gostoso, porém não esperem aventuras. A ilha tem apenas praias pequenas e estreitas, e três bares. Mas a paisagem é bonita e o mar é calmo e cristalino. 

                                Praia de São Gonçalo

                                                                            Ilha do Pelado


                                                                    Ilha do Pelado
                                            Ilha do Pelado

Em direção a São Paulo também há diversas praias, como Paraty-Mirim, que não conhecemos, e a bela Praia da Fazenda, já no município de Ubatuba, da qual gostamos bastante. Fica numa área de preservação, portanto é muito tranquila, limpa e sem bares nem restaurantes. Logo na entrada fica a sede do Núcleo Picinguaba, com estacionamento e banheiros.

A famosa Trindade, localizada a 30 km de Paraty, sentido São Paulo, ainda é um lugar bonito, mas mudou muito em relação à época em que o acesso era por uma estradinha de terra esburacada e assassina. Hoje, a estrada continua um tanto assustadora, mas, pelo menos, está totalmente asfaltada. As paisagem ainda é bonita, mas as praias viraram muvuca, cheias de bares e muito movimento. Para quem gosta de sossego, não é a melhor opção. Em plena segunda-feira de inverno, só conseguimos encontrar tranquilidade e areias vazias na última praia, a do Cachadaço (ou Caixa d'Aço), na qual a gente chega depois de uma pequena trilha pelo morro. Nessa praia, depois de outra trilha mais longa e acidentada, está uma das atrações mais badaladas de Trindade, as piscinas naturais do Cachadaço. Estivemos lá há muitos anos, ainda no tempo da estrada assassina, e não valeu a pena. Só água rasa, parada e quente, decorada por grandes rochas. Atualmente, a julgar pelas fotos do site Melhores Destinos e pelas informações do Portal de Trindade, deve ter se tornado uma piscina muito lotada.






Mas essas praias não parecem lotadas, alguns de vocês podem pensar. É que a gente faz foto evitando o excesso de seres humanos, para ficar mais bonito.

Pela mesma estradinha chega-se à Praia de Laranjeiras, com acesso apenas pelo Condomínio das Laranjeiras, local de reputação discutível. Se tivéssemos lido esta matéria da Agência Pública talvez a gente não tivesse ido, mas não lemos e fomos, pronto. Para entrar, é preciso se identificar na portaria e pegar uma pequena trilha (que não dá na praia - é preciso atravessar um riozinho). A praia é bonita e agradável, e a fauna que habita as casas milionárias do condomínio não nos incomodou. De longe, até parecem gente normal, mas evitamos chegar perto, por via das dúvidas.




Hospedagem

A cidade tem muitos hotéis e pousadas. Conhecemos vários, nem todos muito bons. A melhor foi a dessa última viagem, a Casa de Paulo Autran, pequena (apenas 3 quartos), aconchegante e confortável. Café da manhã excelente, atendimento muito simpático e carinhoso. 

Uma boa opção para quem não quiser se hospedar dentro do Centro Histórico é escolher um local depois da ponte, ao longo do rio ou nas ruas transversais. 


Subindo o morro em direção ao Forte também algumas pousadas. Já ficamos algumas vezes na Pousada do Forte, simples e agradável, com vista para a baía. 

Para terminar

Esperemos por dias melhores, com mais viagens e menos sofrimento, num país melhor.


Mais fotos de Paraty, de outras viagens, no nosso álbum no Flickr.


segunda-feira, 4 de julho de 2022

Vitória, antes do fim do mundo

 Preâmbulo


No Carnaval de 2019 fizemos nossa última viagem, antes do mundo (quase) acabar. A pandemia, que já era uma realidade na Europa, ainda não havia desembarcado no Brasil, pelo menos até onde a gente sabia. Mas, pouco depois que voltamos, já estávamos confinados em casa, com o caos à nossa volta, com medo de morrer pelo vírus ou pela incompetência do governo. 


Não havia clima para escrever sobre viagens, e este blog quase foi fechado.


Enfim, sobrevivemos. Fomos vacinados, não saímos de casa para quase nada, usamos e ainda estamos usando máscaras. No final do ano passado, voltamos ao trabalho presencial e a uma vida quase normal. Mas sem cinema, sem passeios, ainda sem viagens. Só trabalho e casa.


Há cerca de um mês, criamos  coragem para voltar aos cinemas, pelo menos. Mas só nas sessões de 14 horas, sábados e domingos, para encontrar com a menor quantidade possível de seres humanos. E agora, nestas férias de julho, estamos nos preparando para voltar a viajar, finalmente. Viagens curtas, tão curtas quanto nosso dinheiro.


Com a perspectiva de novos saracoteios por aí, voltou a vontade de escrever. Então, vamos lá contar o pouco que lembramos da nossa viagem para Vitória, capital do Espírito Santo.






Vitória


A vontade era passar o Carnaval num lugar tranquilo, mas não no meio do mato. Vitória, que um de nós já havia visitado rapidamente, a trabalho, parecia uma opção boa e barata. De fato, a cidade é tranquila nessa época do ano, porque não é uma cidade de Carnaval. Vimos alguns bloquinhos de rua, nada mais. Na verdade, talvez até seja tranquila demais, meio paradona. Mas isso não nos incomodou.


A cidade


As atrações não são muitas, mas suficientes para uns quatro dias. Demos uma volta pelo Centro Histórico, vimos o Palácio Anchieta e visitamos os restos da antiga igreja de São Tiago, interessante pela pelas paredes construída pela técnica do esgrafito. Queríamos conhecer o Museu de Artes do Espírito Santo, mas estava fechado para reformas.


     Palácio Anchieta



    Esgrafito


     Museu de Artes do Espírito Santo



O projeto Tamar é um bom passeio para quem gosta de tartarugas e outros bichinhos do mar, além de ter uma vista bonita da cidade e do morro onde fica o Convento da Penha.



O Convento, localizado em Vila Velha, no alto de um morro, é passeio obrigatório. Vale não só pelo monumento em si, indicado sobretudo para quem gosta de conventos e de arquitetura, mas pelas vistas belíssimas da cidade, do alto.












Praias 


As melhores praias estão no município de Vila Velha. Como faz muito tempo, não nos lembramos mais em qual praia passamos uma manhã. É uma praia urbana, bonita mas muito movimentada, indicada para quem gosta de agito praiano. Tem um rochedo que avança sobre o mar, um pouco mais tranquilo do que a areia, no qual se pode desfrutar da paisagem e fazer boas fotos. Não tivemos ânimo para procurar outras praias, porque imaginamos que, por ser feriado, estariam todas lotadas.




Pedra Azul


O melhor passeio que fizemos foi para o Parque Estadual da Pedra Azul, a cerca de 100 quilômetros de Vitória, no Município de Domingos Martins. Passeio de trilha, montanha e natureza. Fomos de ônibus normal, que sai da rodoviária de Vitória, e descemos na estrada, na entrada do parque,  já com a passagem de volta comprada. O detalhe é importante, porque não há uma parada de ônibus no local, é necessário pegar o bicho na estrada.


Na entrada do parque há várias lojinhas e um café, onde se pode fazer uma boquinha e comprar produtos locais, muito bons. Depois, é só pegar a Rota do Lagarto, uma estradinha que dá acesso à entrada das trilhas. Trata-se de uma caminhada de cerca de 40 minutos, que tem que ser feita à pé, obrigatoriamente. Não exige grande esforço e dá direito a bonitas paisagens e vistas da Pedra Azul, no ângulo em que se vê a Pedra do Lagarto, que é uma formação rochosa  na própria Pedra Azul que tem a forma de um lagarto. Quando fomos a Pedra não estava azul, fenômeno que acontece apenas em algumas épocas do ano e horários do dia. O pessoal que trabalha por lá, nas lojas e lanchonetes, jura que é real e mostra muitas fotos para provar. Mas mesmo sem o azul, a pedrona e seu lagarto são muito bonitos.









No final da Rota do Lagarto, chega-se à parte mais interessante do passeio, as trilhas. Dá para ir sem guia, porque são bem sinalizadas, mas é necessário preencher um termo de compromisso na entrada. Há várias opções de trilhas, a escolher de acordo com o preparo físico e disponibilidade de tempo. Optamos pela trilha mais longa, até as piscinas naturais. Não é uma trilha difícil, mas tem  muita subida, alguns degraus rústicos de pedra e trechos escorregadios. Exige boas pernas e calçado adequado, mas nós dois, sessentões habituados a caminhar, demos conta. Para chegar às piscinas, há duas opções: pela rocha, usando cordas de apoio, e pela trilha. Recomendamos aos mais velhos e menos preparados essa segunda opção, que foi a que fizemos. Encontramos, pelo caminho, pessoas que se arrependeram de usar as tais cordas. As piscinas nada mais são do que buracos nas pedras, com cerca de dois metros de diâmetro, que ficam cheios de água. Dá para entrar, mas, como estávamos sozinhos e não sabíamos a profundidade daquilo, preferimos só molhar os pés. A paisagem no local é deslumbrante. 


    As marcas na pedra



    O lagarto, bem de perto



                        As piscinas


Dica para quem for de ônibus: saiam bem cedo. Nós pegamos um ônibus que saiu por volta das 11 horas e voltamos por volta das 17 horas. Dá para fazer o passeio, mas fica meio corrido.  No blog Viagens e Caminhos há mais informações sobre esse passeio. 



Comida


A moqueca capixaba é famosa, com razão. Diferentemente da baiana, não leva dendê, mas é igualmente gostosa. 


Para quem gosta de bares e agitação noturna, o local é o Triângulo das Bermudas, na Praia do Canto. São umas duas ou três ruas onde se concentram diversos bares e restaurantes. A comida é razoável e o local é simpático, mas só para quem gosta do estilo “muita gente e música alta”. Entramos num desses bares meio cedo, quando ainda estava vazio. Imediatamente, aumentaram o som. Como estávamos só nós lá dentro, pedimos para baixar e não fomos atendidos. Levantamos e fomos embora. 


Comemos muito bem e sem barulho no Hortomercado, um espaço que concentra restaurantes, lojas e um mercadinho. Quando estivemos lá, havia também uma ótima cervejaria artesanal. Num dos restaurantes de lá comemos um peixe excelente, que o cozinheiro gentilmente adaptou aos nossos pedidos. 


No Espírito Santo são fabricadas ótimas panelas de barro, indicadas para fazer moquecas capixabas ou não. Em Vitória há até um local específico que o pessoal indica para comprar as panelas, no bairro de Goiabeiras. Não fomos, porque já temos as tais panelas, compradas na estrada, numa viagem que fizemos até Guarapari e Itaúnas.