terça-feira, 31 de março de 2015

Istambul no ramadan

Istambul parece ser um destino na moda entre os brasileiros. Somos tantos por lá que os restaurantes já estão planejando trocar o espanhol dos cardápios pelo português, contou-nos um garçom bastante falante, como todos os garçons da velha Constantinopla. Na verdade, eles são tão falantes que às vezes nem deixam a gente ver os cardápios direito, desistimos de vários restaurantes pelo excesso de pentelhação. Quem não aguenta comerciantes pentelhos deve pensar duas vezes antes de ir para Istambul.

Em Istambul ocorreu uma pequena cisão entre o casal de chatos: metade de nós amou de todo o coração, a outra metade achou legal, com restrições.

A cidade é dividida em três porções: duas delas europeias, separadas pelo rio Haliç e a outra asiática, separada da Europa pelo Estreito de Bósforo. Uma das porções europeias é conhecida como "Chifre do Ouro" pelo seu formato e por abrigar a parte mais antiga da cidade e a grande maioria das atrações turísticas.

Escolhemos um hotelzinho no centro velho, bem perto da Mesquita Azul e dos outros pontos turísticos badalados. Difícil foi chegar ao hotel. O taxista era um velhinho meio perdido que não sabia o caminho, não falava picas de inglês e parecia não enxergar muito bem. Depois de rodar pelas vielas e passar em frente ao hotel, mandamos ele parar numa esquina que parecia perto e fomos à pé procurar o local, arrastando as malas. Pelo menos "stop here" ele conseguiu entender. Talvez fosse golpe de taxista, afinal.

Metade de nós não gostou da vizinhança do hotel, uma zona comercial cheia de barbearias. Mas é só andar um pouquinho e já se chega à parte interessante da cidade, o Sultanahmet, e a impressão ruim passa logo.

A primeira coisa que nos chamou a atenção foi a assombrosa quantidade de gente nas ruas e praças da cidade. O mero ato de andar em alguns pontos chegava a apresentar dificuldades, lembrando a nossa 25 de março, só que cheia de mulheres com véus e burcas, além de homens de braços dados. Não sabemos se a cidade é sempre assim, ou se o ramadan tinha alguma coisa a ver com isso.

No ramadan os muçulmanos jejuam durante todo o dia. Só se pode comer antes do nascer do sol e depois que ele vai embora. Isso talvez explique as praças completamente lotadas de famílias no fim da tarde, com muita, muita comida em cestas e toalhas de pic-nic. E não pensem que eram só lanchinhos, estamos falando de gigantescas e apetitosas refeições, panelas, fogareiros etc. Nossa hipótese é que o pessoal fica só esperando o último rainho de sol se retirar para atacar o rango imediatamente. Vimos algumas pessoas comendo. O jejum não é obrigatório para todo mundo, crianças, velhinhos e pessoas doentes são liberadas.


Istambul tem muitos gatos e cachorros nas ruas, e muita gente dando de comer aos bichinhos. Por toda a cidade é comum encontrar, em frente às lojas e casas, recipientes com água para eles. Não sabemos se é um comportamento ligado à religião deles ou simplesmente um sinal de civilização, mas, de qualquer forma, a metade de nós que não morreu de amores pela cidade gostou desse aspecto.



A Mesquita Azul
Para entrar, além de encarar a fila, o indivíduo precisa estar com os ombros e os joelhos cobertos. Cabeças também, no caso das mulheres. E não adianta muito ser homem, se estiver de short vai ter que amarrar um pano na cintura. Metade de nós reclamou, resmungou muito e quase desistiu por causa do calor, mas acabou amarrando um lenço na cintura e outro na cabeça e entrando. Por sorte, os lenços são o artigo mais fácil de comprar na cidade, lindíssimos e bem baratos. Se não for fã de lenços, tudo bem. Use as túnicas distribuídas na entrada da mesquita e fique ainda mais ridículo. Vimos muitos turistas desrespeitando a regra sem serem incomodados, mas achamos feio. Quem não quer obedecer aos preceitos da religião alheia, não entre no templo deles, oras.



O lugar é bonito, e o turista só pode ficar numa área restrita, os locais de culto são apenas para os muçulmanos. Mas a pior parte é que é preciso tirar os sapatos para entrar. Imaginem um local meio abafado, com centenas de pessoas descalças pisando no carpete. Sim, a triste realidade é que você anda sobre um tapete ligeiramente melado e cheirando a chulé. E embrulhada em lenços, se for menina.


Santa Sofia (Hagia Sophia)
Já foi igreja, já foi mesquita, hoje é um museu. Não precisa tirar nem cobrir nada para entrar e a abóbada é algo realmente impressionante. Não leva muito tempo para ver, dá para visitar a Mesquita Azul e Santa Sofia na mesma tarde.




O Grande Bazar
Um enorme, gigantesco e épico mercado com os mais bonitos, apetitosos e exóticos (para o nosso olhar) produtos locais. Um beleza para olhar, mas nem tanto para comprar, se você não for adepto do esporte nacional dos comerciantes turcos, a negociação e a pechincha.

Não há etiquetas de preço. O otário (quer dizer, o cliente) pergunta e recebe como resposta uma soma estratosférica. Aí começa uma árdua negociação, geralmente pontuada por gracinhas e piadas se você for brasileiro, e afagos se você for mulher. Sim, os turcos tem mãos cheias de dedos sempre prontas a alisar uma pele feminina exposta. Bem, mais ou menos uma hora depois você sai da loja pagando cinco vezes menos do valor inicial, se achando muito esperto e, se for mulher, também muito linda.


O jogo tem umas regras engraçadas: se você disser que o produto está caro, o vendedor pede para você fazer uma oferta e se você não souber fazer uma contraproposta, o comerciante se ofende e vira as costas. Sair da loja sem comprar nada pode ser muito difícil porque eles correm atrás, puxam o freguês de volta, fazem o diabo. Vimos um dono de loja gritar com uma pobre balconista oriental que nos deixou escapar. No início é divertido, mas depois de algumas lojas (duas visitas ao Bazar) um de nós já estava querendo estrangular os vendedores e o outro estava viciado no jogo da pechincha. Um perigo.

Com tudo isso e muita paciência, dá para comprar coisas bonitas pagando um preço razoável. Bijuterias de prata, lenços e objetos de decoração estão entre as opções mais interessantes. E os melhores turkish delight, geleia típica de vários sabores e recheios, estão lá. Mais caros do que em outros locais, mas vale a pena.

As lojas de câmbio do Grande Bazar têm as melhores cotações que encontramos. Na época (julho de 2014), o valor da lira turca estava bem próximo ao real, o que facilitava um pouco a vida do turista brasileiro.


Os Museus
Visitamos três excelentes museus: o Museu Arqueológico, o Museu da História da Ciência e da Tecnologia do Islã e o Museu do Mosaico. Os dois primeiros são grandes e requerem algumas horas de visitação. O Museu do Mosaico é pequeno, mas muito interessante: um palácio bizantino com mosaicos no próprio local onde foram encontrados.

Museu da História da Ciência e da Tecnologia do Islã
Museu Arqueológico
Se tivéssemos que escolher apenas um museu para visitar em Istambul, seria o Museu Arqueológico, com seu impressionante acervo de esculturas greco-romanas, arte mesopotâmica, egípcia, otomana etc. Mas é uma questão de gosto.


Topkapi
Topkapi foi construído pelo sultão Mehmed, o Conquistador, no século 15. É um palácio sofisticado, suntuoso e colorido. Requer uma tarde inteira de visita e muitas, muitas fotos.



Cisterna da Basílica
Cisterna da Basílica era o reservatório de água da cidade no Império Bizantino e rende hoje um passeio úmido e fresco, mas um tanto sombrio. É bonito, mas a falta de luminosidade torna muito difícil a vida de quem gosta de fotografar. Outro inconveniente é o piso escorregadio das passarelas, que dificulta a vida de quem gosta de andar. O principal divertimento, além de tomar cuidado para não despencar na água, é procurar as cabeças da Medusa. Uma hora de visita é suficiente, mas os claustrofóbicos devem se contentar com menos.




Bazar de especiarias
Ou Bazar egípcio. É um bom programa para quem gosta de cozinhar ou de comer, com sua quantidade impressionante de temperos, doces, frutas secas e chás, para citar apenas os artigos mais notáveis. Os produtos têm etiquetas com os preços, ou seja, lá não tem o sistema da barganha maluca. Mesmo assim, dá para negociar um descontinho. 




Passeio de barco pelo Bósforo
É assim: você pega um barco cheio de gente e vai passeando pelo rio, vendo os palácios e outras construções nas margens - um passeio agradável, mas nada excepcional. Metade de nós adorou, a outra metade achou um tédio, mas se você ficar meio sem programa em Istambul, vá em frente. E para os que não visitarem a parte asiática da cidade dá para ter o gostinho de dizer que chegou pertinho.

É melhor evitar o pessoal que vende o passeio em volta dos pontos turísticos no centro e ir até o porto. Sai bem mais barato.



Os derviches ou dervixes ou dervishes rodopiantes
Não importa muito a grafia, a dança cerimonial sufi é algo que não se pode perder estando em Istambul. Nós bobeamos e não fizemos a reserva do espetáculo oficial mais conhecido, que acontece num teatro, com muitos bailarinos. Se quiserem ver os rapazes rodopiando nessa apresentação, reservem com dois dias de antecedência.

Ficamos com uma versão reduzida e mais barata, num restaurante em Sultanahmet, mas não temos queixas. Vimos o espetáculo ao ar livre, com uma bela lua cheia no céu e a Santa Sofia como pano de fundo. O fato de ser um restaurante não atrapalha em nada, porque eles interrompem o serviço durante o espetáculo, que é algo muito delicado e introspectivo, de uma beleza estranha. Metade de nós queria trazer um turquinho giratório para casa, a outra metade não achou a menor graça nessa história.



A torre de Gálata
É uma torre. Alta, como todas as torres, localizada na parte moderna da cidade, lado europeu. Dentro dela havia uma funcionária estressada, sem muita vontade de dar informações. Só para quem gosta muito de torres.



A comida
Não tão barata como esperávamos, mas saborosa. Todos os restaurantes têm pratos vegetarianos bastante criativos e bem temperados, mas os carnívoros precisam estar cientes de que vão comer muito carneiro e muito frango. Carne bovina não é muito comum por lá, e é mais cara.

Testi kebap, cozido feito num pote de cerâmica
O lado ruim é o assédio sem trégua dos garçons que não deixam a gente ver direito os cardápios colocados na entrada.E cuidado ao fugir dos restaurantes turísticos, acabamos comendo numa simpática pizzaria popular um pouco mais barata, mas que não servia cerveja. Não no ramadan, pelo menos.

O capítulo dos doces é sensacional. Além de bonitos e coloridos, o sabor é ótimo. Comprem o turkish delight a granel, cortado na hora e vendido por peso. Os de caixinha são mais baratos, mas não são tão bons.

Nas ruas eles vendem uma espécie de caramelo colorido com sabor de frutas. Bala mole, na definição da nossa sobrinha, que provou a coisa.



Quem gosta de sorvete precisa provar o incrível sorvete otomano, que tem uma consistência diferente do nosso. É mais espesso, ligeiramente gelatinoso e vendido nas ruas por sorveteiros com trajes típicos, que fazem performances e gracinhas para a freguesia. Tenham paciência com as gracinhas, o sorvete vale a pena.

Mais fotos de Istambul: https://www.flickr.com/photos/jo_ma/sets/72157648848851225/










domingo, 15 de março de 2015

O dia que a máfia russa me expulsou da boca de fumo

Copenhagen é a cidade com maior concentração de gente bonita e atlética que eu já vi, parece um grande desfile de moda. As bicicletas são norma e o trânsito lá chega a ser agressivo para o pedestre: você vai precisar prestar bastante atenção nos carros e nas bikes cruzando pistas para não ser atropelado. Tem também o Tivoli, um dos primeiros parques de diversão do mundo. É difícil não amar a cidade. Mas a coisa mais peculiar de Copenhagen é a boca de fumo.

Antes de ir pra Dinamarca os meus conhecidos de lá já haviam dito que Christiania era imperdível, que lá eu poderia comprar qualquer tipo de droga que quisesse e consumisse numa boa, porque nesta área a polícia não entra (até aí, nenhuma diferença com a maioria das favelas no Rio).

Mas o grande lance é que Christiania é um “cidade livre”, onde a lei dinarquesa realmente não tem validade alguma. E isso é respeitado pelo lado de fora, o poder público local entende que não têm jurisdição sobre aquele espaço, trata como um experimento social e simplesmente não dá a mínima para o que acontece lá dentro. Viva, viva a sociedade alternativa! Nas costas do pórtico principal, para quem deixa o local, está inscrito “Você está agora entrando na União Europeia". O caras que moram lá criaram uma bandeira e utilizam sua própria moeda.




Christiania é um enclave anárquico fundado no início da década de 1970, quando um grupo de hippies sem terra/sem teto se apossou de uma base militar abandonada na periferia da cidade. Quase uma Vila Madalena mais hard-core. Usucapião, a mini-cidade está em pleno andamento, com cerca de mil moradores, alguns deles na terceira geração. Não tem hospital e escola, mas tem bastante ateliês, basicamente, porque hippie não tem casa, tem ateliê. Se tornou um dos principais pontos turísticos da cidade.

Eu queria conhecer e lá fui. Você precisa atravessar pro outro lado da cidade, menos turístico e mais residencial, mas ainda bem próximo à região central, dá pra ir andando ou de bicicleta. Tem o pórtico principal, você entra como se estivesse em um parque, mas neste parque existem casas, onde moram pessoas. Muito bonito e prosaico, mas nada muito além disso, uma espécie de safari antropológico. As casinhas caindo aos pedaços estão lá, as hortinhas estão lá também, junto dos graffitis.




Vamos ao que interessa, Christiania tem uma praça central onde funciona um grande feirão de drogas. Uma série de banquinhas operam 24/7, vendendo todos os tipos e procedências de haxixe e maconha, principalmente, mas também é possível encontrar pó e pílulas. Nenhuma prescrição médica necessária. A galera compra e faz a brasa ali mesmo.





Estava eu faceiramente analisando os produtos oferecidos, quando de repente começa a cair uma chuvinha. Algumas pessoas vão embora ou fogem para locais cobertos, e eu, sem ter para onde ir, decidi encontrar refúgio em uma das banquinhas. O dono da banquinha, um russo, prontamente balbuciou algo, eu não entendi e respondi em inglês. Daí ele perguntou o que eu iria comprar, e eu respondi que minha religião não permitia e estava ali apenas observando, esperando a chuva passar. Não estava travando o trânsito de ninguém, mas o senhor, junto de seus comparsas vikings e russos, não muito elegantemente (não mesmo) disse que eu deveria sair dali, pois estava atrapalhando o seu business. Achei justo e saí fora. De volta à União Européia e ao comércio ilegal de psicotrópicos.

Já se passaram 42 anos sem despejo. Isto diz muito sobre o respeito e tolerância da Dinamarca para com a comunidade e liberdade individual. Parece que antigamente quem controlava o comércio de cannabis eram os hippies com suas florzinhas no cabelo. Mas agora, pelo que vi lá, quem tá gerindo é uma turminha do mal. A vida não tá fácil em Christiania. A principal queixa dos conservadores, além do comércio de haxixe, é que as terras ocupadas são do governo, cada vez mais valiosas no mercado imobiliário. Em 2012, o governo resolveu o problema oferecendo a maior parte de Christiania a preços abaixo do mercado. Os moradores, pessoas totalmente opostas à ideia de propriedade privada, organizaram um coletivo responsável pela negociação.

Quando em Copenhagen, faça uma visita aos hippies e à boca de fumo. É bastante seguro e você ainda pode comprar produtos de excelência qualidade e procedência (but say no to hard drugs!). Só não atrapalhe a barraquinha da máfia russa e não tire fotos (estas daqui eu peguei na internet)



sábado, 7 de março de 2015

Como é passar o ano novo em Sydney

Com o cronograma de viagem apertado, cheguei em Sydney às 16:00 do dia 31 de dezembro, sem saber como chegar aos fogos, sem saber onde ficar para ver os fogos, apenas confiante de que não poderia ser tão complicado quanto um reveillon em Copacabana. Confesso que tenho uma atração mórbida por tragédias pirotécnicas e por essa razão já estava escrito que eu não perderia aqueles fogos por nada.

Para ajudar na empreitada, eu tinha baixado antes de chegar em Sydney um aplicativo oferecido pela prefeitura da cidade que permite visualizar os locais reservados para apreciação dos fogos. Desenhei mentalmente um ponto de visão que enquadraria a Opera House do lado oposto da baía e a ponte de metal, os dois principais pontos de queima de fogos. 

Só não sabia àquela altura do campeonato que estes pontos indicados pela prefeitura na verdade são espaços com limitação de público e que os australianos tem o costume de chegar muitas horas antecipadamente para pegar os melhores lugares. Quando liguei a tv do hotel no noticiário local as informações eram de que os pontos mais privilegiados estavam esgotadíssimos, e bem, quem já não estava lá para curtir a festa, azar.


Tudo bem diferente do reveillon em Copacabana, onde é possível negociar a compra de um bilhete de metrô com o maloqueiro habitual, andar até a praia a partir de algum ponto não muito distante, desviar das oferendas, chegar na areia com apenas 10 minutos para a explosão de fogos e ainda assim ter uma visibilidade plena da pirotecnia. Afinal, a praia é grande e relativamente plana, com bastante espaço para 2 milhões de pessoas ou mais.


Em Sydney a topografia da baía não oferece tantos pontos privilegiados para ver a queima dos fogos na Opera House e ponte, de modo que estes pontos se tornam exclusivos: a maioria deles é fechada para festas de arromba caras e cafonas (embora eu adoraria estar em uma delas).


Não me restava opção além de incorporar o espírito esportivo e ver até onde eu conseguiria chegar para ver os fogos. Saí do hotel por volta das 18h, já com medo de que até mesmos os espaços públicos restantes estariam com lotação máxima e entrada encerrada. Mas vi muitos transeuntes jovens caminhando na mesma direção. O método deveria ser simples, bastaria seguir os nativos e acompanhar seus passos.


Por alguma razão me mantive fiel ao plano inicial: ver os fogos do lado oposto da baía, de frente para a Opera House. E para lá fui, após algumas baldiações na complexa (e naquela hora lotada) rede de trens em Sydney. 


Por volta das 19:30 cheguei ao ponto de visão de acesso público de Milsons Point, inteiramente cercado e com barreiras de entrada montadas (lembrando que alguns dias antes houve aquele incidente na loja da Lindt de Sydney, com algumas mortes, e as autoridades estavam um pouco tensas em relação à aglomeração pública), mas satisfeito porque o local ainda não estava lotado.



Entrei, dei uma volta e percebi que talvez fosse possível escolher um ponto de visão ainda melhor. Optei por sair da área isolada (havia bastante espaço livre, então a lotação máxima ainda aguentaria uma hora ou duas) e buscar algum outro local nas redondezas, no belo bairro de Kirribilli. Caminhei um bom tempo à toa, pois ou os locais públicos por ali era bem menores e já estavam esgotados, ou tudo estava concentrado à festas particulares nos prédios e varandas que dão de frente para a baía.


Uma curiosidade é que as pessoas que frequentam estas festas particulares ou “exclusivas” estavam realmente na beca, com roupas de gala. Então nas ruas e no transporte público era meio bizarro ver gente vestida casualmente para o ano novo, junto de gente que estava vestida como se estivesse indo à uma cerimônia do Oscar.

Decidido que retornaria ao ponto principal, parei para comprar alguns biscoitos e água, pois não havia comércio permitido dentro do espaço fechado, e a expectativa era de que as lojinhas fechassem a qualquer momento. Comprei um pão com linguiça e cebola, frito na hora, por 5 dólares. E gastei mais uns 10 dólares comprando água e snacks na lojinha indiana.

Na entrada havia uma pequena revista policial para qualquer pessoa que estivesse com bolsas e sacolas. O espaço embaixo da ponte, de frente para a Opera House, é uma espécie de parque, bastante arejado e com longas camadas de grama. Muitas famílias levaram toalhas e mantimentos e aguardavam o ano novo como se estivessem em um picnic. Uma coisa bem legal de Sydney é que eles fazem queima de fogos menores às 21 e 22:40h, antes da grande queima da meia noite. Após a primeira queima das 21h muitas famílias com crianças se deram por satisfeitas e foram embora, abrindo ainda mais espaço. 


Inicialmente eu tinha ocupado um espaço alto, mas um pouco distante da baía. Após essa saída em massa posterior aos primeiros fogos foi possível caminhar ao redor e escolher um ponto de visão mais interessante. Fiquei bem próximo à base da ponte, de frente para a água. 
Estava muito cansado, mas disposto a permanecer até os fogos de meia noite. Havia alto falantes transmitindo a festa oficial, que acontecia em outra parte da cidade. O som era agradável e não era ensurdecedor. Havia uma enorme fila para os banheiros químicos, mas nada absurdo.

A cena local é repleta de visitantes (ou residentes, não sei dizer) asiáticos e indianos. Ouvi algumas conversas em português, mas poucas.
Enfim, meia noite chegou junto com o ano novo, um início meio sem graça de fogos, mas depois de alguns minutos parece que eles acionam todas as explosões simultaneamente, aí ficou um porrilhão de fogos digno de entrada do Vasco em São Januário nos tempos de Eurico fogueteiro.




O ponto alto é a cascata da ponte, bem bonito mesmo.



Acabado os fogos fui em direção ao metrô, tudo muito bem organizado e sinalizado, mas incapaz de suportar a multidão saindo em conjunto. Houve uma pequena espera na estação, cerca de uma hora, a fim de que os vagões fossem preenchidos e liberados em sequência.


O meu passeio de última hora deu bastante certo. Não fiz, mas em um ano novo em Sydney você pode tirar a clássica onda com seus amigos brasileiros via facebook/whatsapp, que ainda estarão preparando a cana ao meio dia, enquanto você já estará celebrando o ano seguinte.

O veredito: ano novo em Sydney é bem bacana mesmo, merece estar listado entre os melhores do mundo.