Chatos pra viagem: maio 2018

Ao planejarmos umas microférias para o mês de abril, queríamos passar uns dias tranquilos numa praia bonita e hospedados bem em frente ao mar. Depois de flertar um pouco com Punta Cana, concluímos que esse tipo de turismo resort-gigante-com-tudo-incluído criado sob medida para estadunidenses que comem muito não era bem o nosso estilo de férias. Somos chatos, não se esqueçam.

Optamos por destino de praia nacional, que amigos já haviam experimentado e recomendado, São Miguel dos Milagres (AL). Lá fomos nós, e não nos arrependemos.

A região é, de fato, muito bonita: praias limpas, coqueiros, natureza razoavelmente bem preservada, arrecifes formando piscinas com a maré baixa, areias macias e mar verdinho. A água não estava tão cristalina quanto nos prometiam os relatos nos blogs de turismo, provavelmente por causa das chuvas. O inverno é estação de chuvas em Alagoas, e encaramos uma semana um tanto molhada. Conseguimos pegar praia todos os dias, com direito a banhos de chuva esporádicos e úteis para tirar o sal do corpo. A vantagem da época das chuvas é a tranquilidade das praias quase vazias. Gente, praticamente só perto dos bares e hotéis. Além disso, nos dias nublados os branquelos ficar na praia até escurecer.

Escolhemos a pousada Villa Pantai, muito simpática e agradável, localizada na praia de Porto da Rua. A área urbana próxima é movimentada, mas, fora das pousadas, praticamente não há infraestrutura turística. Só encontramos 3 restaurantes viáveis lá por perto, mas apenas um abria para o jantar. Felizmente, o restaurante da nossa pousada era surpreendentemente bom.

A programação local inclui banhos de mar, banhos de sol e longas caminhadas pela praia, que foram nossas atividades principais. De Porto da Rua dá para caminhar uns 5 quilômetros pela areia até a praia de Porto de Milagres, ou até mais longe, se as canelas aguentarem. Ou, no sentido oposto, ir até a foz do riacho Tabatinga que separa Porto da Rua da praia de Tatuamunha. O lugar é lindo, especialmente na hora do pôr-do-sol. Não conseguimos chegar em Tatuamunha, porque não pegamos o riacho suficientemente raso para ser atravessado. Tentamos ir de carro, mas a estradinha de terra estava muito difícil, por causa das chuvas, e não nos arriscamos. O pessoal da pousada explicou que, quando tem bastante gente na praia, aparecem uns barqueiros para fazer a travessia, mas nós dois não podemos ser considerados "muita gente".

Praia de Porto da Rua

Praia de Porto da Rua (ou Toque)


Praia do Toque


Rio Tabatinga

Rio Tabatinga

Praia do Toque

Havia barquinhos para fazer passeio até as piscinas naturais da praia do Toque, ali pertinho de Porto da Rua, mas não fomos. Já fizemos passeios desse tipo em outras praias e estamos satisfeitos. Água rasa e quente, superlotação de gente e de barcos e falta de sombra não são a nossa praia.

Fizemos outra ótima caminhada da praia do Patacho, bonita, até a praia da Laje, mais bonita ainda. Daria para chegar até Tatuamunha, mas tivemos receio da maré subir e o caminho de volta ficar comprometido, já que há um trecho onde as ondas batem numa parede de forma insistente.

Praia do Patacho (ou Lage)

Mas, é o paraíso? Mais ou menos. Na praia, com a paisagem maravilhosa, a brisa e o barulho do mar, ou na pousada bacana comendo tapioca e cartola no café da manhã, sem dúvida. Mas é só a gente se afastar um pouco da praia para perceber que o paraíso é quase um universo paralelo. A pobreza, o calor extremo sem ar condicionado, as difíceis condições de vida daquela população que nos atende nas pousadas e bares lá estão, bem ao lado do paraíso do turista. É bom ver que em cada povoado minúsculo e pobre há um posto do SUS, mas é triste pensar que temos um governo que pretende acabar com isso.

E, no caminho para Maceió, mais um choque de realidade. Escapamos por pouco de um assalto na estrada, perto da cidade de São Luiz do Quitunde. Assaltantes armados haviam interrompido o trânsito na estrada para fazer arrastão nos carros que pararam. Pelo que apuramos depois, eventos desse tipo não são raros na região. Então, quem estiver pensando em passar alguns dias no paraíso de São Miguel dos Milagres, é bom se informar sobre segurança nas estradas com a população local, porque existem caminhos menos perigosos do que aquele que o Google nos indicou.

Em Maceió, cidade que já conhecíamos, ficamos mais alguns dias. Encontramos praias bonitas e relativamente tranquilas, todas acessíveis por estradas movimentadas e próximas a zonas urbanas. Depois do susto, perdemos a vontade de nos aventurar em lugares distantes.

A Praia do Gunga, ao Sul, ainda é tão bonita como há vinte anos. O trecho tomado por bares cresceu muito, mas caminhando um pouco já fica praticamente deserta. Passeios de buggy levam até uma praia com falésias vermelhas, mas também dá pra chegar lá à pé, pela praia. As agências de turismo vendem passeios até Barra de São Miguel com travessia de barco até o Gunga, que também são uma boa opção. Como estávamos de carro fomos direto até a praia, com estacionamento pago (R$ 15,00).

Praia do Gunga

Passamos dois dias nas praias ao norte de Maceió. Num deles fomos para Tabuba e Sonho Verde. São próximas, separadas por um rio que pode ser atravessado à pé quando a maré está baixa. Mas é preciso atenção, com a maré alta a coisa fica mais funda. É bom pedir informações ao pessoal de lá. As duas praias têm acesso separado a partir da estrada. Há bares e restaurantes simples em ambas, mas não temos nenhuma dica sobre, porque não costumamos frequentar barracas de praia. Preferimos levar água e alguma coisinha para comer e acampar na areia, à sombra. Em Tabuba, com a maré baixa, forma-se uma piscina antes da barreira de arrecifes. É bonito, mas o banho de mar só é indicado para quem gosta de água parada e quente. No outro dia, fomos conhecer a Praia da Sereia, que vimos da estrada e nos pareceu bela. É mesmo. Logo na entrada, onde há fica a estátua que deu nome à praia, há diversos bares bem feiosos e precários. Andamos um pouco e pronto, praia linda e quase deserta, enfeitada por um coqueiral. Caminhando mais um pouco chegamos a Pratagy, também muito bonita, onde há um daqueles resorts para quem gosta resorts.