domingo, 23 de setembro de 2018

Sob o sol da Sicília



A Sicília é a ilha do Mediterrâneo que a bota está chutando, berço daqueles limões amarelos, grandes e caros, da família Corleone dos filmes de Francis Ford Coppola e de muitas outras coisas...

Lá os tais limões alcançam dimensões verdadeiramente assustadoras. O que é aquela fruta amarela enorme, um melão? Não, é um limão siciliano na Sicília. Quanto ao Don Corleone, não vimos ninguém parecido com ele por lá, mas chaveirinhos, canecas, camisetas e ímãs de geladeira com a cara do Marlon Brando no famoso papel eram quase tão onipresentes quanto os limões e o sol da Sicília.

Ah, o sol da Sicília! O calor siciliano não tem piedade nem vergonha e nunca, de jeito nenhum, se esconde atrás de nuvens durante o verão. Nuvens no verão da Sicília? Esqueçam. Um diazinho só meio nublado para descansar de tanto calor? Impossível. Para quem não gosta muito de calor, a Sicília no verão é um destino a ser evitado. E mesmo quem curte uns belos dias ensolarados precisa estar ciente de que não estamos falando de um calorzinho brasileiro normal - o verão siciliano é algo mais vulcânico.

Feito esse alerta da mais alta importância, vamos lá contar como foi nossa pequena aventura siciliana de 15 tórridos dias. Para hospedagem, escolhemos as cidades de Catânia, Siracusa, Agrigento, Trapani e Palermo, das quais partíamos em pequenos passeios "bate-volta" para localidades próximas.

Alugamos um carro para facilitar os deslocamentos entre as cidades, pois havíamos lido que o transporte público na Sicília não é muito bom, o que constatamos ter sido uma boa ideia. De trem ou ônibus não teria sido tão fácil. Em Catânia e Palermo, primeira e última cidade do roteiro, fazíamos nossos passeios usando o transporte público. Em Palermo, sobretudo, desaconselhamos o uso de carro, porque o trânsito é muito ruim e encontrar estacionamento é tarefa quase impossível.

Uma das melhores coisas da Sicília, para nós, são os sítios arqueológicos da antiguidade greco-romana e a bela arquitetura das cidades, tanto as grandes quanto as pequenas vilas encarapitadas nas montanhas.

E as praias? Bem, os blogs e sites de turismo que a gente consulta prometem maravilhas, mas, na realidade, as praias sicilianas não são nada de especial. Pelo menos não as que conseguimos conhecer. Algumas são bem bonitas, mas todas estavam absurdamente lotadas. Sombra, só alugando guarda-sol. Em quase todas existe um "lido", ou seja, um local fechado com estrutura para os banhistas: bar, banheiros, espreguiçadeiras etc. As pessoas pagam uma taxa para entrar e ficam lá no cercadinho, cozinhando no mormaço, com sua espreguiçadeira quase grudada na do vizinho. Para resumir em uma palavra, horrível.



Catânia


Um teatro imponente, umas tantas igrejas e uma estátua de elefante feita de lava do Etna numa praça são as principais atrações que visitamos da cidade. Há uma grande avenida bonita, com lojas elegantes e bons restaurantes, mas também muitos lugares meio feios e meio sujos. Nada assustador, apenas desagradável. De lá é fácil o transporte público para Taormina e Messina, preferencialmente de ônibus.

Teatro de Catânia




Taormina


A visita vale tanto pelo teatro grego do século III aC quanto pela magnífica vista da região, já que a cidade fica no bem no alto. Como lá acontecem diversos espetáculos, parte do local pode estar coberta por estruturas e equipamentos modernos, o que atrapalha um pouco as fotos, mas não estraga a visita. As praias de Taormina são famosas e, ao menos de longe, bem bonitas, mas não fomos conferir.

Teatro grego e paisagem



Teatro grego e paisagem



Messina 


Messina é uma cidade agradável, mas não tem atrações muito notáveis. Na torre da catedral há um relógio astronômico com estátuas mecânicas que se movem, dizem que contando a história cidade. Vimos só finalzinho. Pra quem gosta, a dica é chegar antes do meio-dia, quando a coisa começa. A catedral fica a uns 20 minutos da estação de ônibus e trem.






Siracusa


Em Siracusa, gostamos muito do Parque Arqueológico de Neápolis, sítio arqueológico greco-romano dos mais lindos. Lá tem (mais) um teatro grego enorme, também parcialmente coberto por estruturas montadas para espetáculos, um teatro romano, a suposta tumba de Arquimedes e uma caverna conhecida como Orelha de Dionísio que, dizem, teria uma acústica privilegiada. Não percebemos nada, mas o fato é muita gente gritava lá dentro. O bosque no interior do parque é lindo e ajuda a aliviar o calor.

Parque Arqueológico de Neápolis

Teatro romano

Orelha de Dionísio

No centro histórico da cidade, próximo ao porto e localizado na ilha de Ortígia, concentram-se os bares e restaurantes. As atrações mais conhecidas são as ruínas do Templo de Apolo, ainda imponentes, a belíssima Fonte de Diana e a decepcionante Fonte de Aretusa, que poderia ser um lugar bonito se fosse mais bem cuidado. Como está, não passa de um poço de água verde meio suja e cheia de patinhos, com uma escultura de beleza discutível representando o rio Alfeu e a ninfa Aretusa, personagens mitológicos responsáveis por algumas lendas que garantem o fluxo de turistas à tal fonte.

Templo de Apolo

Ortigia

Fonte de Diana



Noto, Scicli e Ragusa


De Siracusa fizemos passeios para as cidades de Noto, Scicli e Ragusa. Cidadezinhas cheias de patrimônio arquitetônico do barroco italiano. Em Ragusa há um museu interessante, o Museo Archeologico Ibleo. E mais catedrais, teatros, torres e praças em todas as cidades. Bonito e muito quente, mas felizmente sempre se pode contar com os gelatos e granitas sicilianas onde quer que a gente vá. Aqui as opiniões desse casal de turistas chatos se dividem um pouco: metade de nós acaba se entediando e achando que todas essas cidadezinhas fofas são iguais. A outra metade ama tanto a Itália que jamais sente tédio.

Noto

Scicli

Ragusa

Museo Archeologico Ibleo - Ragusa



Enna


No caminho de Siracusa para nosso próximo destino, Agrigento, passamos por Enna, outra cidadezinha fofinha encarapitada. Vimos mais algumas igrejas e apreciamos a bela vista do alto.




Agrigento


A grande e imperdível atração de Agrigento é o Vale dos Templos (Valle dei Templi), um dos maiores sítios arqueológicos gregos fora da Grécia e também um dos maiores do Mediterrâneo. Vestígio da cidade grega de Akragas, tem cerca de 1.300 hectares e alguns monumentos muito bem conservados. É um passeio para o dia todo e centenas de fotos. Requer algum preparo físico, litros e litros de água e filtro solar, cabeça protegida por boné ou chapéu. Quem não aguenta andar muito, pode pegar o trenzinho que dá a volta pelo parque (não incluído no valor do ingresso). Sugerimos ir de manhã, bem cedo, para não pegar todo o calorão da tarde. No verão também é possível fazer a visita noturna, dizem que é muito bonito.





O museu arqueológico, fora da área do parque, é excelente. Comprando ingresso para os dois sai mais barato e a visita ao museu pode ser feita em outro dia. Fizemos no mesmo, quando saímos do parque, porque somos bons andarilhos.

Mais dicas aqui: 

O centro histórico de Agrigento é bonitinho, com aquelas vielas todas e algumas igrejas e conventos tidos como importantes. As praias urbanas não têm muita graça, mas têm muita gente nelas mesmo assim.



Escada dos Turcos (Scala dei Turchi)


Litoral que vale a pena conhecer, não exatamente pelas praias, é a Escada dos Turcos (Scala dei Turchi), um lugar realmente maravilhoso e a poucos quilômetros de Agrigento. São falésias brancas, de formato ondulado, formadas por uma mistura de calcário e argila que, curiosamente, não esquenta. E dadas as condições climáticas infernais da região, essa é uma vantagem importante. Dá para passear descalço, sentar e deitar nas formações rochosas suaves. O único incômodo é o pozinho branco e fino que gruda na pele e roupas. O mar é azul, límpido e fresco. Vimos muita gente nos blogs por aí dizendo que a água é gelada, mas não é tanto. Fria, sem dúvida, mas como calor que faz, cai muito bem. Depois do primeiro mergulho, fica uma delícia. Como todas as praias sicilianas, muita gente e pouca sombra, mas a paisagem compensa.






Marsala


A caminho de Trapani, fizemos uma parada em Marsala, a cidade do famoso vinho. O centro histórico da cidade é pequeno e concentra as igrejas, palácios, restaurantes, bares e enotecas. Um local agradável para um passeio de poucas horas. E acabamos não tomando o vinho marsala...




Trapani


Praias urbanas que não são do nosso gosto, centro histórico pequeno e bastante animado, com restaurantes meio caros. Uma das atrações da cidades são as salinas, mas priorizamos outros passeios pela vizinhança.






Erice


Pequena cidade no alto da montanha, muito bonita e agradável. Dá pra ir de carro, por uma daquelas estradinhas sinuosas, ou de teleférico, nossa opção. Deixamos o carro no estacionamento da estação do funicular, como eles chamam o teleférico, e subimos. São apenas 10 minutos de viagem, desaconselhável apenas aos que têm medo de altura. O problema é que, dependendo das condições do vento, o serviço pode não funcionar. Lá em cima as construções e a paisagem são realmente excepcionais.








Segesta


Descemos de Erice ainda com energia sobrando e fomos conhecer o Parque Arqueológico de Segesta, não muito longe de Trapani. Os monumentos são dois: um templo, que surpresa, e um teatro grego. O templo, enorme, bem conservado e belíssimo, fica bem perto da entrada do sítio arqueológico. Visitar o teatro requer uma caminhada de mais de um quilômetro morro acima. Como somos malucos, subimos sob o sol da tarde siciliana e desaconselhamos fortemente qualquer ser humano razoável a fazer o mesmo. A caminhada é tão exaustiva e poeirenta que ao chegar no maldito teatro a saliva do turista incauto parece ter virado pó. E, bem, o teatro é só mais um teatro grego meio coberto com instalações para shows contemporâneos. Quem nunca viu um teatro desses deve subir, mas de ônibus. Sim, há um serviço de ônibus que leva até o topo do morro por um euro e cinquenta. Acreditem, será o dinheiro mais bem empregado da sua viagem. Para entrar no parque, deixa-se o carro num estacionamento fora do local, um pouco distante. O transporte de ônibus até o parque está incluído no ingresso e sai a cada 15 minutos. Levar muita água é indispensável.





San Vito Lo Capo


Em San Vito Lo Capo conseguimos pegar praia. Mar límpido, fresco, delicioso. Absolutamente lotada, como todas, mas se a gente se afasta um pouco da zona botequeira, fica mais tranquilo. As poucas sombras de árvores são bem disputadas, mas conseguimos encontrar uma disponível e ficar um bom tempo na praia. Depois demos uma paradinha numa praia de pedras na estrada. Muito lotada, quase morremos assados na caminhada entre o estacionamento e a praia, mas o banho de mar valeu a parada.

San Vito Lo Tada 

Praia na estrada



Palermo


Na capital da Sicília há diversos monumentos arquitetônicos para visitar, alguns com vestígios do período de dominação muçulmana. É gostoso passear pelas ruas do centro, como a Maqueda, visitando lojinhas e provando quitutes e licores. Mas não tem muito mais do que isso para fazer, na verdade. Fomos visitar um mercado de rua muito famoso, mas nada turístico e batemos em retirada rapidinho. Achamos demasiadamente pitoresco.






Teatro Massimo

O que ver em Palermo: https://goo.gl/cHKFJL



Cefalù


Perto de Palermo há a pequena cidade balneária de Cefalù, muito graciosa. É só pegar o trem e passar o dia lá,vale a pena.





Comida


Não, não se trata de uma cidade siciliana chamada "Comida", mas de comida mesmo. A Itália tem ótima fama nesse quesito. Acreditamos mesmo que, não importa o país onde a gente esteja, haverá sempre um restaurante italiano para nos salvar de comidas discutíveis ou muito exóticas. Mas, infelizmente, não demos muita sorte com restaurantes nessa viagem. Fora as pizzas, não provamos nada de excepcional, mas não passamos fome, graças aos caprichados cafés da manhã das pousadas e aos quitutes comprados nos botecos e supermercados. E lá vai uma lista para dar água na boca:

Arancino (no plural, arancini) - Bolinhos de arroz do tamanho de maçãs, recheados com queijo, carne, camarão, pistache, manteiga etc.


Cannolo (no plural, cannoli) - Canudinhos de massa fina e crocante, recheados com os mais diversos cremes. O mais tradicional é o de ricota, leve, suave e com muito sabor.



Coisas de pistache - fazem de tudo com o pistache, na Sicília. Creme, pesto e licor são as invenções mais notáveis.

Cornetto (croissant) com creme de pistache 


Gelatos e granitas - os sorvetes (gelatos) são todos maravilhosos, mas as granitas, feitas apenas com gelo e suco de frutas, são indispensáveis para aguentar o calorão. É muito popular, na Sicília, comer brioche com granita, mas não provamos.

Comida de supermercado para comer no hotel - saladas de tomate com mussarela de búfala, presunto, queijos diversos, azeitonas gigantes e muito saborosas e, naturalmente, vinho. Compramos uma garrafa de azeite para acrescentar interesse às saladas (vale a pena).

Mais fotos da Sicília em nossa página Chatos pra Viagem.

Blog com boas informações: Descobrindo a Sicília









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