terça-feira, 17 de junho de 2025

Viagens e bobagens

Nós dois chatos gostamos de viajar. Ele ama de paixão, eu, Marina, a mais chata, gosto muito. Sentiram a diferença? Explicando melhor, eu sobreviveria com apenas uma viagem por ano, ele não. Viajamos de uma a três vezes, pelo menos uma viagem longa e outras mais curtinhas. 


Viajar é ótimo. Quem diz que não gosta é porque está viajando errado, fazendo os programas que não são os melhores para sua personalidade e seu bolso. Há quem goste de viagens tranquilas, para relaxar e descansar. Outros preferem mais agitação, aproveitar a noite, conhecer muitos lugares e até fazer aventuras. Muitos gostam de hotéis de luxo, resorts bacanas, restaurantes chiques e muito conforto, outros ficam felizes com um AirBnB jeitosinho, uma pousada gostosa, comer em restaurantes populares e comprar comida no supermercado. Esses últimos somos nós, na maior parte das vezes. Também apreciamos um luxinho de vez em quando, mas em geral achamos que não compensa. As chances de ser bem tratado numa pousada simples e competente são maiores do que num 4 estrelas metido e sem vergonha. Todas as opções são boas, depende do gosto do freguês e, claro, de saber escolher o que é melhor pra gente, sem pressões da moda ou dos amigos e influenciadores que excretam regras como:


  • só fico em hotel 5 estrelas, se for pra ficar em lugar ruim não saio de casa

  • hotel é coisa de burguesinho, viajar é fazer mochilão e dormir em quarto coletivo

  • viajar de excursão é coisa de pobre

  • se for pra Europa, tem que conhecer 5 países no mínimo, para aproveitar a passagem

  • para que viajar para outros países, se no Brasil tem tanta coisa bonita?


Tudo isso pode estar certo ou não, depende da pessoa. E sim, o Brasil é enorme e lindo, mas pode ser bem caro. Em alguns casos, até mais caro que outros países.


Sempre admirei pessoas que viajam de forma muito simples e na maior disposição, gastando muito pouco, hospedando-se em campings e albergue. Quando jovem, nos anos 70  e 80, ouvia relatos de amigos viajavam para a Bolívia no famoso Trem da Morte. Fascinante, mas sempre tive consciência de que esse tipo de aventura não era para mim. O pior que fiz nos tempos de estudante foi me hospedar num estádio de futebol, para acompanhar um evento estudantil, e depois dormir uma noite numa soleira de prédio antigo em Ouro Preto, porque o coleguinha que nos garantiu que haveria hospedagem estava ligeiramente enganado. Não morri, mas não gostei. 


Como sou estressada, nervosa e cheia de nojinhos, não encaro muito bem os perrengues de viagem. Para mim, o mínimo de conforto e segurança é indispensável. Por isso, só viajei para o exterior só acontecer depois dos 40 anos, quando tive condições de viajar dentro de meus padrões mínimos. Antes, viajávamos pelo Brasil. Nossa primeira viagem, marido e eu, foi para a Espanha e Grécia, experiências já contadas neste blog. Viajamos fora de temporada, em janeiro e início de fevereiro, ainda no inverno europeu. Usamos o guia Trotamundos, impresso (era o que havia em 2007). Hospedagem minimalista, em “hostales” simples. Nossas únicas exigências: quarto individual com banheiro privativo, limpeza e segurança. Na maioria dos lugares não fizemos reservas, porque não havia um roteiro muito fixo. Só deu errado em Barcelona, pelos motivos relatados no post. É uma opção interessante, porque a gente pode ver, ao vivo, a cama onde vai dormir e o estado do banheiro que vai usar, mas é cansativo. Hoje, sempre que possível viajamos já com reservas feitas. Dá certo, quase sempre.


Apesar de sermos cuidadosos ao planejar viagens, principalmente internacionais, já passamos por perrengues como:


  • chegar no apartamento reservado e o proprietário não estar lá para nos receber. Sem celular internacional e falando apenas inglês monossilábico, o jeito foi pedir ajuda num boteco próximo. Funcionou. O moço começou a gritar em croata na rua, foi respondido aos gritos por outros croatas e o dono do apartamento finalmente apareceu. Isso foi na Croácia, em 2014. Também aconteceu na Itália, mais recentemente. 


  • pior: chegar no apartamento reservado e descobrir que o proprietário alugou para outra pessoa, por preço mais. Na mesma viagem, para a Croácia. Foi tenso. Saímos pela cidade batendo de porta em porta, até achar um lugar bom e decente. Reclamamos para o Booking, o malandro foi descadastrado. 


  • overbooking em voo da Ibéria, ao voltar da primeira viagem. Brigamos, fiquei parada na frente do funcionário, encarando o coitado. Fomos os primeiros a serem encaixados. Escutei o cara dizendo “dê logo para esta senhora”.


  • ter as malas extraviadas, nas duas vezes pela linda e cheirosa Air France. Na primeira vez,  minha mala não chegou comigo em Marseille. Só apareceu 3 dias depois, quase tive um ataque. Na segunda vez, foi pior. Nossas duas malas sumiram no meio da viagem. Fiquei uns 10 dias sem a minha, que só foi entregue no Brasil. A dele voltou antes e ninguém soube explicar o motivo.  Os funcionários só diziam que eu poderia comprar roupas por conta deles, até 300 euros (bela porcaria). Eu só dizia que queria as minhas roupas, que não viajo para fazer compras, mas para ver museus. Cheguei a chorar ao sair de um escritório da Air France, e a atendente correu atrás de mim para me consolar, tadinha.


  • turbulência forte no avião. Certo, sabemos que turbulência não derruba essas latas voadoras, mas não é nada agradável, sobretudo quando você precisa ir a o banheiro e não te deixam levantar. Que tal usar fraldas?


  • bater o carro no meio do nada, numa estrada da bela ilha de Creta, sem celular e sem um boteco para pedir ajuda aos sempre simpáticos nativos. Felizmente o carro andava e conseguimos voltar sacolejando para o hotel, onde o gerente cretense gritou em grego com a agência em nosso nome, pelo telefone. A gente não conseguiria gritar em inglês com um cretense, pelo telefone. Pessoalmente não teria problema, eles entendem comunicação não verbal e até telepática.


  • pegar mar agitado e chuva em passeio de barco meio precário por mar aberto. Aquela situação em que você olha para as ondas e sabe que, se cair, vai morrer, mesmo sabendo nadar. Perigo real não havia muito, mas o medo é algo indescritível.


Algumas dessas situações poderiam ter sido amenizadas com um simples celular. Hoje, só viajamos com celular com “chip” do país e contatos dos proprietários e empresas, no caso de hospedagem. 


Enfim, são coisas que podem acontecer. Nesses momentos eu sempre juro que “nunca mais vou viajar”. Meses depois, lá vamos nós de novo. Os bons momentos, que são a regra,  compensam perfeitamente os maus, que são a exceção. Se isso não vale para você, ouso repetir: você deve estar viajando errado. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário