Salta, cidade localizada no norte da Argentina, foi a viagem que não fizemos em abril de 2019. No dia da partida, estávamos trancados em casa,
sitiados pelo vírus. A pandemia nos havia tirado as viagens e as ruas, enquanto
o governo nos tirava a esperança e pessoas sufocavam em Manaus. Era o horror, o
fim do mundo, perder a viagem nem parecia um grande problema.
O mundo, afinal, não acabou, e
nem a esperança. Em julho de 2024, fomos finalmente a Salta, La Linda. Apelido justo, embora as maiores belezas estejam nos
arredores da cidade, onde a Pachamama, a Mãe-Terra, apresenta todo seu
esplendor. É uma cidade agradável e poeirenta, com excelentes cafés,
restaurantes e museus de arte e de arqueologia pequenos, mas interessantes.
Contratamos 4 passeios numa agência
para percorrer as províncias de Salta e Jujuy: Cafayate, Cachi, Hornocal e Salinas Grandes. Não fizemos o famoso passeio do Trem das Nuvens, porque pensamos que seria cansativo demais e não nos interessava tanto quanto os demais.
O ponto alto da excursão para Cafayate é a estrada, que passa pela Quebrada de las Conchas, uma região belíssima, cheia de formações rochosas avermelhadas que lembram sapos, obeliscos e castelos. Paramos em duas delas, a Garganta del Diablo e El Anfiteatro. Paisagens espetaculares! As outras formações, vimos apenas de dentro do ônibus ou em paradas rápidas. Aparentemente, as paradas variam conforme a empresa.
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La Garganta del Diablo |
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El Anfiteatro |
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A estrada |
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A estrada |
Como Cafayate é produtora de vinhos de altitude de boa qualidade, uma das atrações do passeio foi a bodega Vasija Secreta, uma vinícola. O lugar é bonito, mas o vinho servido aos turistas não é, com certeza, o melhor exemplo da produção local. Bem ruinzinho, na verdade.
No passeio para Cachi, um pueblo bastante gracioso, novamente o melhor foi a estrada. Passamos pelo Vale de Lerma, pela Cuesta del Obispo e Parque de Los Cardones, onde as paisagens fantásticas e a fauna local fazem a alegria de qualquer turista, em especial quem não está habituado com o ambiente das montanhas.
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Vale de Lerma |
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Cuesta del Obispo |
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Cuesta del Obispo
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Cuesta del Obispo
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Parque de Los Cardones |

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Cachi |
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Cachi |
Uma das atrações mais famosas e impactantes da região é o Hornocal, ou Cerro de las 14 Colores, na província de Jujuy (vizinha da província de Salta), nas alturas de 4.350. Não conferimos se são 14 mesmo, mas são muitas e o resultado é belíssimo. Para chegar ao mirante é preciso subir muito, por estradas sinuosas de montanha. Quem buscar na internet vai encontrar fotos com as cores mais vivas e brilhantes do que as nossas, que não foram alteradas. Usamos apenas alguns filtros corretivos, as cores são realmente as que vimos lá.
Num desses passeios, paramos em Purmamarca, um dos pueblos mais bonitinhos da região, onde vimos um pouco da festa da Pachamama. Nessa festa, que ocorre no dia 1o. de agosto, a população comemora enterrando oferendas
de comida e bebida para a Mãe Terra. Nosso guia explicou que eles não pedem nada, apenas agradecem o
que já receberam da Pachamama.
Nos pueblos há lojas e feirinhas de artesanato irresistíveis, porque tudo é muito bonito e não muito caro. Destaque para os objetos e esculturas em cerâmica de Cachi e os xales de alpaca em Purmamarca e Humahuaca.
Nas Salinas Grandes, paisagem de
beleza surreal, uma surpresa. A população local, em conflito com a mineração de lítio que coloca em
risco o abastecimento de água e, por consequência, todo ecossistema da região,
espalhou cartazes de protesto por toda a parte. O que mais me comoveu dizia:
“Ojalá nunca te falte aire para respirar, fuego para calentarte, água para
beber, tierra para vivir en ella”. A nós, brasileiros, já nos faltou o ar, a
água de beber trouxe a destruição, o fogo não nos aquece, nos queima. Até
quando teremos terra para viver?
Há um parque das Salinas Grandes no qual, mediante pequena contribuição - na época, eram 2000 pesos - as pessoas podem entrar e fazer aquelas fotos com ilusão de ótica. São os nativos da região que fazem as fotos, ao que parece com muita competência. Não entramos, preferimos passear por lá e fazer nossas próprias fotos normais.
O city tour em Salta, como é praxe em qualquer city tour, é chato. Uma de suas atrações insípidas é o Cerro San Bernardo, indicado apenas para quem é muito fã de ver cidades do alto. Salta, no chão, é bonita, com suas ruas largas e casas antigas, do alto não tem graça.
Os museus de Salta forma uma surpresa agradável. Visitamos três: Arte Contemporânea, Belas Artes e Arqueologia. Os dois primeiros são pequenos, mas muito bons (e gratuitos). O de Arqueologia tem uma grande atração: uma das 3 múmias quase perfeitas que foram encontradas nos Andes. Apenas uma por vez fica exposta, por necessidade de preservação. Vimos a donzela, uma adolescente que parece estar dormindo. É impressionante e comovente.
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Obra de Paula La Fea, no Museu de Arte Contemporânea |
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Obra de Paula La Fea, no Museu de Arte Contemporânea |
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Teto do banheiro feminino, no Museu de Arte Contemporânea |
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Fabian Nanni : Dibujando el aire. Museu de Belas Artes |
Para quem gosta, em Salta a diversão noturna são as “peñas”, são bares com música folclórica ao vivo muito famosos. Não fomos, porque não gostamos de barulho nem de vida noturna. À noite, tomamos vinho e dormimos.
No último dia de viagem, uma bonita surpresa: uma animadíssima festa nas ruas de Salta.
Dicas práticas
Para o passeios, alugar carro pode ser uma boa opção para quem gosta de mais independência nos roteiros, mas não recomendamos ir para Salinas Grandes e Hornocal de carro se você não tiver experiência de dirigir em estradas de montanha, em grandes altitudes. Sempre existe o risco experimentar algum sintoma do mal das alturas, como sonolência e tontura, o que pode causar acidentes se o motorista for afetado. E, como nossos guias lembravam a todo instante, não há hospitais ou postos de saúde nas montanhas. Adoecer ou se ferir lá no alto é um baita problema.
Nas alturas, seguimos direitinho as recomendações dos guias: alimentação leve, água aos golinhos, folhas e balas de coca na boca, nada de correrias e muito esforço físico. Não tivemos nada além de uma leve tontura ao chegar ao Hornocal, que passou rapidamente. Mas é bom lembrar que sentir ou não alguma coisa é algo que varia muito de pessoa para pessoa, e mesmo quem já subiu muito e não teve nenhum sintoma não está livre de experimentar algum desconforto em outra ocasião.
Em Salta os restaurantes e cafés são ótimos, tanto os mais simples quanto os mais sofisticados. Nos pueblos são todos muito simples, mas os petiscos são bons. A cerveja Salta é muito boa. Quantos aos vinhos, recomendamos comprar os “reserva”, porque vinhos comuns da região não são tão bons.
Não há casas de câmbio em Salta (na época, pelo menos, não havia). Troca-se dinheiro nas ruas ao redor da Catedral, com uns senhores que ficam por lá com a bolsa cheia de dinheiro. É seguro, todo mundo recomenda, e a cotação é até boa. Alguns restaurantes aceitam dólares. A falta de casas de câmbio é um problema no aeroporto, porque os motoristas de aplicativo não chegam até lá e nem todos os táxis aceitam cartão. Conseguimos sacar pesos para pagar a corrida num caixa automático, mas pagamos uma taxa de uns 8 mil pesos.