quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Ventos patagônicos


Patagônia é um nome que evoca terras distantes e selvagens, talvez até lendárias como Narnia e Terra do Nunca. Na verdade, a Patagônia é bem real e começa logo ali, a menos de três horas de voo de Buenos Aires.

Fácil de chegar, bom de ficar. Cidades como El Calafate e Bariloche tem boa estrutura de turismo e estão bem  perto das impressionantes atrações naturais da região: geleiras, montanhas, lagos azuis e belíssimos parques. Se você gosta de picos nevados, gelo azul e friozinho, nem precisa ir para a Europa, a Patagônia está mais perto.

Conhecemos apenas as cidades mais próximas. Ainda não chegamos em Ushuaia, mas pretendemos corrigir essa falha num futuro próximo.


El Calafate

É uma cidade muito agradável, mas o clima pode ser traiçoeiro. Estivemos lá duas vezes, em dezembro. Na primeira vez fazia muito calor e no hotel não havia ar condicionado, apenas um aquecedor. "É que nunca faz tanto calor aqui",  justificou a moça da portaria. Na segunda vez, choveu um dia inteirinho. Perguntamos onde poderíamos comprar um guarda-chuva e, adivinhem, não há guarda-chuvas para vender na cidade, porque "nunca chove em Calafate". E na manhã seguinte, ao abrir a cortina do quarto, descobrimos que havia nevado durante a noite toda. Neve no verão? Sim, claro. Embora nunca houve registro de neve na cidade no verão, nesse dia nevou. É o verão patagônico em toda a sua glória!


Calafate é o nome de uma frutinha da região, uma espécie de cereja com a qual se fazem doces, geléias, licores e recheio de alfajores.


A principal atração da cidade é o glaciar Perito Moreno, uma geleira gigantesca de inacreditável beleza, cujo nome é homenagem ao cientista que o descobriu, Francisco Moreno. Podemos apreciá-lo de duas formas: passeando bem pertinho ou caminhando sobre ele. Sem muita vontade de andar sobre gelo, optamos pelo passeio das passarelas, que é assim: você vai de ônibus ou carro até o Parque Nacional dos Glaciares, onde há uma série de passarelas e mirantes de madeira que permitem ver e fotografar o glaciar de vários ângulos, todos deslumbrantes. A graça é ficar esperando a queda de um pedaço da geleira, um fenômeno natural que acontece o tempo todo no verão. O barulhão a gente escuta constantemente, duro é pegar no pulo e filmar ou fotografar o evento. O programa inclui um passeio de barco opcional, que não fizemos porque passear pelas passarelas estava muito bom. O lugar tem boa estrutura: cafeteria, lojinha, banheiros. 


O passeio de barcos pelo Lago Argentino, durante o qual se pode ver outros glaciares de pertinho e vários icebergs, é muito bom. Fizemos esse passeio em nossa primeira visita a Calafete, em 2010. Na época o barco chegava até o glaciar Perito Moreno, mas atualmente não chega mais.


Para quem gosta de caminhadas e paisagens estranhas, o passeio para o Bosque Petrificado La Leona é muito interessante, mas não esperem propriamente um bosque de árvores de pedra. A gente caminha pela estepe patagônica dentro de uma propriedade particular, a Estância La Leona e o guia vai mostrando ossos de dinossauros (que parecem pedras) e troncos petrificados (que parecem troncos). É bonito, mas se estiver chovendo ou se tiver chovido no dia anterior, a estepe patagônica fica mais escorregadia do que sabão patagônico e o pobre do guia gasta mais tempo segurando turistas cadentes do que mostrando ossadas. Mas não se preocupem, aparentemente só chove em Calafate quando nós estamos lá. Perguntem antes de ir.


A Laguna Nimez fica na própria cidade de El Calafate, não muito longe do centro. É um lugar onde se pode ir à pé, sem contratar excursões nem guias, e fazer mais ou menos uma hora e meia de caminhada tranquila apreciando a paisagem, os animais e as plantas da reserva natural. Há diversas espécies de pássaros e um observatório onde se pode ver e fotografar os flamingos que moram lá. Os guias e o pessoal dos hotéis não divulgam muito esse passeio, provavelmente por razões comerciais, mas vale a pena. 



Perto da Laguna está o Centro de Interpretación Histórica, uma espécie de museu de história natural desses que cheiram a penas e couro velho, indicado para os loucos por dinossauros, já que possui esqueletos inteiros desses bichões. 


Para os mais animados, recomendamos a excursão para o Parque Nacional Torres Del Paine, na Patagônia Chilena. São 5 horas de viagem num caminhão adaptado (totalmente confortável), um passeio pelo parque e uma parada para fotografar guanacos, uns bichinhos bonitos parentes das lhamas que cospem nas pessoas quando se sentem ameaçados (cuidado com os guanacos). O almoço é um lanchinho reforçado que se come dentro do parque, sentado numa pedra ou no chão mesmo, e banheiros, só na fronteira e no único restaurante do caminho. É meio puxado e rústico, mas a paisagem compensa totalmente.



El Chaltén

A três horas de ônibus de El Calafate está El Chaltén, um povoado muito pequeno fundado em 1985 e conhecido como Capital Nacional do Trekking. De fato, a grande atração são as caminhadas pelas montanhas, que podem ser feitas sem guia. Não há perigo, as trilhas são amplas, limpas e muito bem sinalizadas. Além disso, há sempre muita gente de todas as partes do mundo caminhando por lá, o que inclui pencas de brasileiros. Dá para conversar e trocar informações em diversas línguas.

Toda a pequena cidade é dominada pela imponente visão do Fitz Roy, montanha que costuma matar alpinistas do mundo inteiro, incluindo brasileiros.


 

Fizemos as trilhas mais curtas e partes das mais longas:

Mirante dos Condores e Mirante das Águias: são as trilhas mais curtas, dá para fazer em duas horas. Pouca subida, paisagem deslumbrante.




Chorillo del Salto: cachoeira a três quilômetros da saída da cidade, no plano, mas boa parte do percurso é por uma estrada de terra, onde passam carros e você come poeira.


Trilha Fitz Roy: quatro quilômetros de caminhada até a Lagoa Capri, com direito a subidas, descidas, condores voando, paisagens fantásticas. A vista do mirante Fitz Roy é a mais famosa, mas as montanhas podem ser vistas de vários outros pontos. Não percorremos a trilha toda, que tem um total de nove quilômetros. 




Trilha da Torre: paramos no Mirante da Torre (uns três quilômetros de caminhada), andamos um pouquinho mais e voltamos. No caminho, mais vistas espetaculares das montanhas de vários ângulos, todos muito bonitos. A trilha completa também tem um total de nove quilômetros.




Nas trilhas é bom ir com calçado próprio para caminhadas, levar água e comestíveis. A água das lagoas é potável, mas a gente anda um bocado até chegar nelas. Filtro solar e repelente são fundamentais, porque o sol e os mosquitos não dão trégua. Há banheiros químicos nos pontos principais das trilhas (mirantes e lagoas), mas não passam de casinhas de madeira com um buraco cheio de produtos químicos no chão. É bom levar papel higiênico, algo para higienizar as mãos e saquinho para lixo.

Bariloche

É uma cidade maior do que El Calafate e El Chaltén, às margens do lago Nahuel Huapi, no norte da Patagônia Argentina.

Famosa por suas estações de esqui, a grande atração na cidade no verão é subir nos dois montes para ver a paisagem, Cerro Campanário e Cerro Catedral. No primeiro é possível subir à pé, por uma trilha, ou nas cadeirinhas voadoras. Muito agradável, para quem não medo de alturas. O Cerro Catedral é uma estação de esqui, mas no verão só resta um pouquinho de neve em alguns pontos, apenas para fazer a alegria dos brasileiros. Nesse só dá para subir de teleférico, parte caminho em cabines fechadas, parte nas tais cadeirinhas, o que elimina os acrofóbicos dessa atração. Para chegar nos dois cerros basta pegar um ônibus urbano normal ou um táxi, não é necessário contratar passeio em agências.


Já para o Cerro Tronador, fora do perímetro urbano, é necessário contratar excursão com guia. Além da paisagem e das belezas naturais no caminho, no Tronador a gente vê uma curiosa geleira negra. Não é tão linda quanto as azuis, mas onde mais se pode ver gelo preto? Só na Patagônia e, talvez, em Mordor.



Outro programa muito bom é o passeio pelo lago Nahuel Huapi até a Isla Victória. A ilha não é propriamente grande coisa, embora tenha uma história interessante e um bosque de sequoias gigantes. 



No caminho tem o Parque Nacional de Los Arrayanes, onde as árvores têm troncos cor de laranja, fenômeno que só ocorre por lá e vale o passeio. 



De quebra tem aquele momento Hitchcock no barco, quando a gente pode segurar um pedaço de pão para as gaivotas darem um rasante e arrebatarem o petisco. Só para quem não tem medo de pássaros.


Fizemos também o passeio dos Sete Lagos, que percorre os lagos da região e passa pelas cidadezinhas de Villa Angustura e San Martín de los Andes. É um daqueles passeios nos quais a parada nas atrações naturais - no caso, os lagos - é tipo desce e sobe do carro rapidinho, mas a parada para almoçar é interminável - recomendado apenas para os mais velhinhos.

Comida

Quem gosta muito de carne vai se dar bem na Patagônia, onde se come muito cordeiro, bifes de chorizo e até veados da mesma espécie do Bambi, aquele do desenho animado. Na região de Bariloche a caça ao bichinho é liberada, porque é uma espécie introduzida pelos gringos e nociva à fauna e flora locais. Opções menos radicais são as milanesas com acompanhamentos, nada muito criativo, e pizzas. 

E claro, comida sempre acompanhada por vinho ou pela cerveja patagônica!

Roupas

Durante o dia faz calor suficiente para sair até de camiseta de manga curta, mas lembrem-se que o verão patagônico não é de confiança. O sol é quente, mas quando o vento sopra, fato bastante frequente, um agasalho leve com capuz, fácil de carregar, é indispensável. Nos passeios de barco ou para sair à noite é bom ter algo mais quentinho, mas sem exageros. O importante é que a roupa seja corta-vento. Para andar sobre o glaciar é necessário roupa mais pesada, mas é possível alugar por lá.






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