domingo, 15 de março de 2015

O dia que a máfia russa me expulsou da boca de fumo

Copenhagen é a cidade com maior concentração de gente bonita e atlética que eu já vi, parece um grande desfile de moda. As bicicletas são norma e o trânsito lá chega a ser agressivo para o pedestre: você vai precisar prestar bastante atenção nos carros e nas bikes cruzando pistas para não ser atropelado. Tem também o Tivoli, um dos primeiros parques de diversão do mundo. É difícil não amar a cidade. Mas a coisa mais peculiar de Copenhagen é a boca de fumo.

Antes de ir pra Dinamarca os meus conhecidos de lá já haviam dito que Christiania era imperdível, que lá eu poderia comprar qualquer tipo de droga que quisesse e consumisse numa boa, porque nesta área a polícia não entra (até aí, nenhuma diferença com a maioria das favelas no Rio).

Mas o grande lance é que Christiania é um “cidade livre”, onde a lei dinarquesa realmente não tem validade alguma. E isso é respeitado pelo lado de fora, o poder público local entende que não têm jurisdição sobre aquele espaço, trata como um experimento social e simplesmente não dá a mínima para o que acontece lá dentro. Viva, viva a sociedade alternativa! Nas costas do pórtico principal, para quem deixa o local, está inscrito “Você está agora entrando na União Europeia". O caras que moram lá criaram uma bandeira e utilizam sua própria moeda.




Christiania é um enclave anárquico fundado no início da década de 1970, quando um grupo de hippies sem terra/sem teto se apossou de uma base militar abandonada na periferia da cidade. Quase uma Vila Madalena mais hard-core. Usucapião, a mini-cidade está em pleno andamento, com cerca de mil moradores, alguns deles na terceira geração. Não tem hospital e escola, mas tem bastante ateliês, basicamente, porque hippie não tem casa, tem ateliê. Se tornou um dos principais pontos turísticos da cidade.

Eu queria conhecer e lá fui. Você precisa atravessar pro outro lado da cidade, menos turístico e mais residencial, mas ainda bem próximo à região central, dá pra ir andando ou de bicicleta. Tem o pórtico principal, você entra como se estivesse em um parque, mas neste parque existem casas, onde moram pessoas. Muito bonito e prosaico, mas nada muito além disso, uma espécie de safari antropológico. As casinhas caindo aos pedaços estão lá, as hortinhas estão lá também, junto dos graffitis.




Vamos ao que interessa, Christiania tem uma praça central onde funciona um grande feirão de drogas. Uma série de banquinhas operam 24/7, vendendo todos os tipos e procedências de haxixe e maconha, principalmente, mas também é possível encontrar pó e pílulas. Nenhuma prescrição médica necessária. A galera compra e faz a brasa ali mesmo.





Estava eu faceiramente analisando os produtos oferecidos, quando de repente começa a cair uma chuvinha. Algumas pessoas vão embora ou fogem para locais cobertos, e eu, sem ter para onde ir, decidi encontrar refúgio em uma das banquinhas. O dono da banquinha, um russo, prontamente balbuciou algo, eu não entendi e respondi em inglês. Daí ele perguntou o que eu iria comprar, e eu respondi que minha religião não permitia e estava ali apenas observando, esperando a chuva passar. Não estava travando o trânsito de ninguém, mas o senhor, junto de seus comparsas vikings e russos, não muito elegantemente (não mesmo) disse que eu deveria sair dali, pois estava atrapalhando o seu business. Achei justo e saí fora. De volta à União Européia e ao comércio ilegal de psicotrópicos.

Já se passaram 42 anos sem despejo. Isto diz muito sobre o respeito e tolerância da Dinamarca para com a comunidade e liberdade individual. Parece que antigamente quem controlava o comércio de cannabis eram os hippies com suas florzinhas no cabelo. Mas agora, pelo que vi lá, quem tá gerindo é uma turminha do mal. A vida não tá fácil em Christiania. A principal queixa dos conservadores, além do comércio de haxixe, é que as terras ocupadas são do governo, cada vez mais valiosas no mercado imobiliário. Em 2012, o governo resolveu o problema oferecendo a maior parte de Christiania a preços abaixo do mercado. Os moradores, pessoas totalmente opostas à ideia de propriedade privada, organizaram um coletivo responsável pela negociação.

Quando em Copenhagen, faça uma visita aos hippies e à boca de fumo. É bastante seguro e você ainda pode comprar produtos de excelência qualidade e procedência (but say no to hard drugs!). Só não atrapalhe a barraquinha da máfia russa e não tire fotos (estas daqui eu peguei na internet)



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