quinta-feira, 19 de junho de 2025

Turistas e viajantes

 De vez em quando alguém surge com essa distinção, sempre com uma pontinha de desprezo pela categoria "turistas". Parece que viajantes são, de alguma forma, superiores a esse pessoal que viaja de excursão, fica horas nas filas das atrações, come em restaurantes famosos que muitas vezes não passam de armadilhas e fazem muitas fotos que ninguém vai ver. 

Viajantes não são assim, querem se conectar com a cultura local, conhecer as pessoas, conversar com os locais, comer o que eles comem etc. Lindo, mas será que essa distinção existe mesmo ou é só uma tentativa de autovalorização por parte gente que gosta de viajar, mas acha que não se enquadra nesse papel de turista típico? 

Vamos pensar. Um turista não é, necessariamente, uma pessoa deslumbrada que só viaja para postar foto no Instagram e dizer que subiu na Torre Eiffel. Se a pessoa tiver um tempinho, pode perfeitamente fazer suas conexões culturais. E como se faz isso? Interagindo com os locais? Claro, se os locais também quiserem. E também andando pelas cidades, observando sua arquitetura, visitando museus e sites arqueológicos, provando comidas e bebidas, fazendo fotos e vídeos para guardar e rever. Isso não é turismo, por acaso?

Deixando frescuras de lado, penso que, quando viajamos de férias ou nos fins de semana, com o objetivo principal de curtir e conhecer outros lugares, estamos sendo turistas. Não importa se somos mais ou menos sofisticados, se viajamos sozinhos ou de pacote da CVC, se passamos dias inteiros nos museus ou se só queremos uma foto ao lado da Vênus de Milo. Pode ser considerado um "viajante", talvez, quem viaja a trabalho para conhecer um local, ou com um objetivo específico como escrever um livro, preparar uma exposição de fotos ou aprender uma língua, por exemplo. Ou quem apenas viajar por viajar, durante o tempo que for preciso, sem muito rumo que também podemos chamar de vagabundo.

Nós aqui somos apenas turistas. Inteligentes e chatos, mas turistas.

terça-feira, 17 de junho de 2025

Viagens e bobagens

Nós dois chatos gostamos de viajar. Ele ama de paixão, eu, Marina, a mais chata, gosto muito. Sentiram a diferença? Explicando melhor, eu sobreviveria com apenas uma viagem por ano, ele não. Viajamos de uma a três vezes, pelo menos uma viagem longa e outras mais curtinhas. 


Viajar é ótimo. Quem diz que não gosta é porque está viajando errado, fazendo os programas que não são os melhores para sua personalidade e seu bolso. Há quem goste de viagens tranquilas, para relaxar e descansar. Outros preferem mais agitação, aproveitar a noite, conhecer muitos lugares e até fazer aventuras. Muitos gostam de hotéis de luxo, resorts bacanas, restaurantes chiques e muito conforto, outros ficam felizes com um AirBnB jeitosinho, uma pousada gostosa, comer em restaurantes populares e comprar comida no supermercado. Esses últimos somos nós, na maior parte das vezes. Também apreciamos um luxinho de vez em quando, mas em geral achamos que não compensa. As chances de ser bem tratado numa pousada simples e competente são maiores do que num 4 estrelas metido e sem vergonha. Todas as opções são boas, depende do gosto do freguês e, claro, de saber escolher o que é melhor pra gente, sem pressões da moda ou dos amigos e influenciadores que excretam regras como:


  • só fico em hotel 5 estrelas, se for pra ficar em lugar ruim não saio de casa

  • hotel é coisa de burguesinho, viajar é fazer mochilão e dormir em quarto coletivo

  • viajar de excursão é coisa de pobre

  • se for pra Europa, tem que conhecer 5 países no mínimo, para aproveitar a passagem

  • para que viajar para outros países, se no Brasil tem tanta coisa bonita?


Tudo isso pode estar certo ou não, depende da pessoa. E sim, o Brasil é enorme e lindo, mas pode ser bem caro. Em alguns casos, até mais caro que outros países.


Sempre admirei pessoas que viajam de forma muito simples e na maior disposição, gastando muito pouco, hospedando-se em campings e albergue. Quando jovem, nos anos 70  e 80, ouvia relatos de amigos viajavam para a Bolívia no famoso Trem da Morte. Fascinante, mas sempre tive consciência de que esse tipo de aventura não era para mim. O pior que fiz nos tempos de estudante foi me hospedar num estádio de futebol, para acompanhar um evento estudantil, e depois dormir uma noite numa soleira de prédio antigo em Ouro Preto, porque o coleguinha que nos garantiu que haveria hospedagem estava ligeiramente enganado. Não morri, mas não gostei. 


Como sou estressada, nervosa e cheia de nojinhos, não encaro muito bem os perrengues de viagem. Para mim, o mínimo de conforto e segurança é indispensável. Por isso, só viajei para o exterior só acontecer depois dos 40 anos, quando tive condições de viajar dentro de meus padrões mínimos. Antes, viajávamos pelo Brasil. Nossa primeira viagem, marido e eu, foi para a Espanha e Grécia, experiências já contadas neste blog. Viajamos fora de temporada, em janeiro e início de fevereiro, ainda no inverno europeu. Usamos o guia Trotamundos, impresso (era o que havia em 2007). Hospedagem minimalista, em “hostales” simples. Nossas únicas exigências: quarto individual com banheiro privativo, limpeza e segurança. Na maioria dos lugares não fizemos reservas, porque não havia um roteiro muito fixo. Só deu errado em Barcelona, pelos motivos relatados no post. É uma opção interessante, porque a gente pode ver, ao vivo, a cama onde vai dormir e o estado do banheiro que vai usar, mas é cansativo. Hoje, sempre que possível viajamos já com reservas feitas. Dá certo, quase sempre.


Apesar de sermos cuidadosos ao planejar viagens, principalmente internacionais, já passamos por perrengues como:


  • chegar no apartamento reservado e o proprietário não estar lá para nos receber. Sem celular internacional e falando apenas inglês monossilábico, o jeito foi pedir ajuda num boteco próximo. Funcionou. O moço começou a gritar em croata na rua, foi respondido aos gritos por outros croatas e o dono do apartamento finalmente apareceu. Isso foi na Croácia, em 2014. Também aconteceu na Itália, mais recentemente. 


  • pior: chegar no apartamento reservado e descobrir que o proprietário alugou para outra pessoa, por preço mais. Na mesma viagem, para a Croácia. Foi tenso. Saímos pela cidade batendo de porta em porta, até achar um lugar bom e decente. Reclamamos para o Booking, o malandro foi descadastrado. 


  • overbooking em voo da Ibéria, ao voltar da primeira viagem. Brigamos, fiquei parada na frente do funcionário, encarando o coitado. Fomos os primeiros a serem encaixados. Escutei o cara dizendo “dê logo para esta senhora”.


  • ter as malas extraviadas, nas duas vezes pela linda e cheirosa Air France. Na primeira vez,  minha mala não chegou comigo em Marseille. Só apareceu 3 dias depois, quase tive um ataque. Na segunda vez, foi pior. Nossas duas malas sumiram no meio da viagem. Fiquei uns 10 dias sem a minha, que só foi entregue no Brasil. A dele voltou antes e ninguém soube explicar o motivo.  Os funcionários só diziam que eu poderia comprar roupas por conta deles, até 300 euros (bela porcaria). Eu só dizia que queria as minhas roupas, que não viajo para fazer compras, mas para ver museus. Cheguei a chorar ao sair de um escritório da Air France, e a atendente correu atrás de mim para me consolar, tadinha.


  • turbulência forte no avião. Certo, sabemos que turbulência não derruba essas latas voadoras, mas não é nada agradável, sobretudo quando você precisa ir a o banheiro e não te deixam levantar. Que tal usar fraldas?


  • bater o carro no meio do nada, numa estrada da bela ilha de Creta, sem celular e sem um boteco para pedir ajuda aos sempre simpáticos nativos. Felizmente o carro andava e conseguimos voltar sacolejando para o hotel, onde o gerente cretense gritou em grego com a agência em nosso nome, pelo telefone. A gente não conseguiria gritar em inglês com um cretense, pelo telefone. Pessoalmente não teria problema, eles entendem comunicação não verbal e até telepática.


  • pegar mar agitado e chuva em passeio de barco meio precário por mar aberto. Aquela situação em que você olha para as ondas e sabe que, se cair, vai morrer, mesmo sabendo nadar. Perigo real não havia muito, mas o medo é algo indescritível.


Algumas dessas situações poderiam ter sido amenizadas com um simples celular. Hoje, só viajamos com celular com “chip” do país e contatos dos proprietários e empresas, no caso de hospedagem. 


Enfim, são coisas que podem acontecer. Nesses momentos eu sempre juro que “nunca mais vou viajar”. Meses depois, lá vamos nós de novo. Os bons momentos, que são a regra,  compensam perfeitamente os maus, que são a exceção. Se isso não vale para você, ouso repetir: você deve estar viajando errado. 


sexta-feira, 18 de abril de 2025

Pachamama

Salta, cidade localizada no norte da Argentina, foi a viagem que não fizemos em abril de 2019. No dia da partida, estávamos trancados em casa, sitiados pelo vírus. A pandemia nos havia tirado as viagens e as ruas, enquanto o governo nos tirava a esperança e pessoas sufocavam em Manaus. Era o horror, o fim do mundo, perder a viagem nem parecia um grande problema.

O mundo, afinal, não acabou, e nem a esperança. Em julho de 2024, fomos finalmente a Salta, La Linda. Apelido justo, embora as maiores belezas estejam nos arredores da cidade, onde a Pachamama, a Mãe-Terra, apresenta todo seu esplendor. É uma cidade agradável e poeirenta, com excelentes cafés, restaurantes e museus de arte e de arqueologia pequenos, mas interessantes.






Contratamos 4 passeios numa agência para percorrer as províncias de Salta e Jujuy: Cafayate, Cachi, Hornocal e Salinas Grandes. Não fizemos o famoso passeio do Trem das Nuvens, porque pensamos que seria cansativo demais e não nos interessava tanto quanto os demais.

O ponto alto da excursão para Cafayate  é a estrada, que passa pela Quebrada de las Conchas, uma região belíssima, cheia de formações rochosas avermelhadas que lembram sapos, obeliscos e castelos. Paramos em duas delas, a Garganta del Diablo e El Anfiteatro. Paisagens espetaculares! As outras formações, vimos apenas de dentro do ônibus ou em paradas rápidas. Aparentemente, as paradas variam conforme a empresa. 

La Garganta del Diablo







El Anfiteatro

A estrada

A estrada

Como Cafayate é produtora de vinhos de altitude de boa qualidade, uma das atrações do passeio foi a bodega Vasija Secreta, uma vinícola. O lugar é bonito, mas o vinho servido aos turistas não é, com certeza, o melhor exemplo da produção local. Bem ruinzinho, na verdade.




No passeio para Cachi, um pueblo bastante gracioso, novamente o melhor foi a estrada. Passamos pelo Vale de Lerma, pela Cuesta del Obispo e Parque de Los Cardones, onde as paisagens fantásticas e a fauna local fazem a alegria de qualquer turista, em especial quem não está habituado com o ambiente das montanhas.

Vale de Lerma


Cuesta del Obispo

Cuesta del Obispo


Cuesta del Obispo

Parque de Los Cardones




Cachi


Cachi

Uma das atrações mais famosas e impactantes da região é o Hornocal, ou Cerro de las 14 Colores, na província de Jujuy (vizinha da província de Salta), nas alturas de 4.350. Não conferimos se são 14 mesmo, mas são muitas e o resultado é belíssimo. Para chegar ao mirante é preciso subir muito, por estradas sinuosas de montanha. Quem buscar na internet vai encontrar fotos com as cores mais vivas e brilhantes do que as nossas, que não foram alteradas. Usamos apenas alguns filtros corretivos, as cores são realmente as que vimos lá.





Num desses passeios, paramos em Purmamarca, um dos pueblos mais bonitinhos da região, onde vimos um pouco da festa da Pachamama.  Nessa festa, que ocorre no dia 1o. de agosto, a população comemora enterrando oferendas de comida e bebida para a Mãe Terra. Nosso guia explicou que eles não pedem nada, apenas agradecem o que já receberam da Pachamama. 


Nos pueblos há lojas e feirinhas de artesanato irresistíveis, porque tudo é muito bonito e não muito caro. Destaque para os objetos e esculturas em cerâmica de Cachi e os xales de alpaca em Purmamarca e 
Humahuaca.




Nas Salinas Grandes, paisagem de beleza surreal, uma surpresa. A população local, em conflito com a mineração de lítio que coloca em risco o abastecimento de água e, por consequência, todo ecossistema da região, espalhou cartazes de protesto por toda a parte. O que mais me comoveu dizia: “Ojalá nunca te falte aire para respirar, fuego para calentarte, água para beber, tierra para vivir en ella”. A nós, brasileiros, já nos faltou o ar, a água de beber trouxe a destruição, o fogo não nos aquece, nos queima. Até quando teremos terra para viver? 





Há um parque das Salinas Grandes no qual, mediante pequena contribuição - na época, eram 2000 pesos - as pessoas podem entrar e fazer aquelas fotos com ilusão de ótica. São os nativos da região que fazem as fotos, ao que parece com muita competência. Não entramos, preferimos passear por lá e fazer nossas próprias fotos normais. 

O city tour em Salta, como é praxe em qualquer city tour, é chato. Uma de suas atrações insípidas é o Cerro San Bernardo, indicado apenas para quem é muito fã de ver cidades do alto. Salta, no chão, é bonita, com suas ruas largas e casas antigas, do alto não tem graça. 



Os museus de Salta forma uma surpresa agradável. Visitamos três: Arte Contemporânea, Belas Artes e Arqueologia. Os dois primeiros são pequenos, mas muito bons (e gratuitos). O de Arqueologia tem uma grande atração: uma das 3 múmias quase perfeitas que foram encontradas nos Andes. Apenas uma por vez fica exposta, por necessidade de preservação. Vimos a donzela, uma adolescente que parece estar dormindo. É impressionante e comovente.

Obra de Paula La Fea, no Museu de Arte Contemporânea

Obra de Paula La Fea, no Museu de Arte Contemporânea

Teto do banheiro feminino, no Museu de Arte Contemporânea

Fabian Nanni : Dibujando el aire. Museu de Belas Artes

Para quem gosta, em Salta a diversão noturna são as “peñas”, são bares com música folclórica ao vivo muito famosos. Não fomos, porque não gostamos de barulho nem de vida noturna. À noite, tomamos vinho e dormimos.

No último dia de viagem, uma bonita surpresa: uma animadíssima festa nas ruas de Salta.






Dicas práticas

Para o passeios, alugar carro pode ser uma boa opção para quem gosta de mais independência nos roteiros, mas não recomendamos ir para Salinas Grandes e Hornocal de carro se você não tiver experiência de dirigir em estradas de montanha, em grandes altitudes. Sempre existe o risco experimentar algum sintoma do mal das alturas, como sonolência e tontura, o que pode causar acidentes se o motorista for afetado. E, como nossos guias lembravam a todo instante, não há hospitais ou postos de saúde nas montanhas. Adoecer ou se ferir lá no alto é um baita problema.

Nas alturas, seguimos direitinho as recomendações dos guias: alimentação leve, água aos golinhos, folhas e balas de coca na boca, nada de correrias e muito esforço físico. Não tivemos nada além de uma leve tontura ao chegar ao Hornocal, que passou rapidamente. Mas é bom lembrar que sentir ou não alguma coisa é algo que varia muito de pessoa para pessoa, e mesmo quem já subiu muito e não teve nenhum sintoma não está livre de experimentar algum desconforto em outra ocasião. 

Em Salta os restaurantes e cafés são ótimos, tanto os mais simples quanto os mais sofisticados. Nos pueblos são todos muito simples, mas os petiscos são bons. A cerveja Salta é muito boa. Quantos aos vinhos, recomendamos comprar os “reserva”, porque vinhos comuns da região não são tão bons.

Não há casas de câmbio em Salta (na época, pelo menos, não havia). Troca-se dinheiro nas ruas ao redor da Catedral, com uns senhores que ficam por lá com a bolsa cheia de dinheiro.  É seguro, todo mundo recomenda, e a cotação é até boa. Alguns restaurantes aceitam dólares. A falta de casas de câmbio é um problema no aeroporto, porque os motoristas de aplicativo não chegam até lá e nem todos os táxis aceitam cartão. Conseguimos sacar pesos para pagar a corrida num caixa automático, mas pagamos uma taxa de uns 8 mil pesos.


domingo, 16 de março de 2025

Oito dias no verão de Aracaju

Derretendo feito dois pedaços de queijo de coalho na chapa, corremos para dentro de um centro cultural em busca de sombra, banheiro e, talvez, algumas obras de arte de artistas locais. O local parecia um tanto desordenado, mas antes que conseguíssemos fazer perguntas, a moça sorridente se ofereceu para nos guiar numa visita. E lá fomos nós, um tanto constrangidos, atrás da simpática criatura que era ninguém menos que a recém-nomeada diretora da casa, encarregada de arrumar a bagunça e reabrir a instituição. Orgulhosa, ela nos mostrou todas as salas, detalhando o que pretendia fazer em cada uma delas. Fez isso com muita naturalidade e alegria por estar recebendo dois turistas interessados na cultura local. Saímos prometendo voltar um dia e ver tudo pronto e funcionando.

Isso aconteceu em Aracaju, onde passamos uns dias de férias e onde todo mundo é simpático. O pessoal que atende nas lojinhas, quitandas e pequenos mercados é tão gentil que a gente sempre acaba por comprar alguma coisa. Lá, a frase “na volta eu compro” não é enganação, a gente volta mesmo para comprar na loja da moça mais simpática.

Depois desse rápido passeio cultural, fomos até o Mercado Municipal. Frutas que nunca vi de perto, como o feio jenipapo e o simpático umbu, que eu pensava que já nascia dentro de saquinhos, doces, bolos e queijos, tudo bastante barato.






Mercado de artesanato

Aracaju tem uma orla muito agradável, cheia de jardins e equipamentos de lazer para a população. Com o calor infernal que estamos enfrentando nesse verão, é muito bom caminhar sentindo a brisa do mar e apreciando a paisagem num lugar decente e organizado.







As praias urbanas de Aracaju são, basicamente, a mesma praia de mar aberto, muito extensa, com faixa de areia larga e que vai mudando de nome. Praias limpas, com exceção de alguns pontos onde se instalaram barracas horrorosas cercadas por lixo e banhistas que, aparentemente, gostam de lixo. As grandes lixeiras azuis, entretanto, lá estão. Por que as pessoas não jogam seu lixo no local apropriado? Por que os donos dos botecos improvisados, que vivem desse comércio, não limpam a sujeira que provocam? Mistérios. Felizmente os pontos porcos são poucos, a gente pode caminhar por quilômetros sem encontrar lixo.








Há outro problema: nada de sombra. Não há arvores, formações rochosas nem abrigos públicos. A única fuga possível do SOL maior são os bares. Alguns são ótimos, arrumadinhos e tranquilos, sem pressão para consumir nem taxa de consumação. Muito agradáveis, se não fosse pela música. O som ambiente é até suportável, porque a indigência musical vai variando, e às vezes até escorregam e tocam algo bom. Dureza é quando começa a música ao vivo, estridente e ruim. Que horror, então eu não sei que se é o ganha-pão honesto desses trabalhadores da cultura? Sim, eu sei, nada contra a sobrevivência dos músicos. Só acho que, se eles são profissionais, poderiam aprender a tocar, cantar e escolher repertório. O público gosta de lixo? Quer ouvir coisas cuja letra é “olha a polpa da bunda” e só? Talvez, mas há muita gente que prefere música, não sons de esgoto. Eles poderiam alternar o lixo com alguma coisinha melhor, na proporção de três para um, por exemplo. E por que tão alto? O que acontece é que a gente pula fora dos bares assim que começa a tortura sonora. E aí, que fazer? Voltar pra casa. Jamais vou entender gente que tem à disposição, de graça, um dos melhores sons do mundo, que é o barulho do mar, mas prefere o horror sonoro.




Em Aracaju dá para fazer alguns passeios ótimos. Desta vez, nossa segunda na cidade, fomos para a Foz do São Francisco, Lagoa dos Tambaquis + Praia do Saco, Croa dos Gorés + Ilha dos Namorados. O passeio para a Foz é muito bonito, a gente tem o luxo de nadar no Velho Chico e ainda ver encontro do rio com o mar. Nossa embarcação era bem simples, logo de cara não gostei, mas foi tudo muito bom e tranquilo.






O encontro do São Francisco com  mar, em Piaçabuçu

A Praia do Saco ainda é bonita, mas o mar subiu muito e alterou completamente a paisagem. Na primeira vez que estivemos lá, era uma única praia, agora são vários trechinhos com barreiras de pedra por toda a parte. Em breve, essa praia deixará de existir. Para quem gosta, há passeios de buggy pela região, que dispensamos. Preferimos simplesmente apreciar a paisagem e tomar vários banhos de mar, abrigados do sol num bar sem música ao vivo (para nossa alegria).




A Lagoa dos Tambaquis é pura armadilha para turistas. A gente é levada para um parque, muito limpo e arrumadinho, cuja única atração é botar os pés na água quentíssima e ser rodeado por uns peixões pretos, os tais tambaquis. Quem quiser compra ração para alimentar os malandros. Indicado só para quem nunca viu um peixe vivo de perto. Só fomos porque fazia parte do pacote.




Para conhecer a Praia do Saco, talvez valha a pena alugar um carro, pular os tambaquis e escolher um lugar interessante para ficar. De lá, é possível pegar um barquinho para Mangue Seco e contratar um passeio de buggy para conhecer as dunas e o mar. Dispensamos também, porque já conhecemos Mangue Seco e não achamos nada de especial. Dunas, mar e coqueiros iguaizinhos aos de outros lugares onde não há necessidade de barquinhos e passeios de buggy sacolejantes.

Croa dos Gorés e Ilha dos Namorados são lugares de paisagens belíssimas e ótimos banhos no rio Vaza-Barris.


Croa dos Gorés


Croa dos Gorés

Croa dos Gorés


Croa dos Gorés

Ilha dos Namorados

Ilha dos Namorados



Ilha dos Namorados

Há muitos anos fizemos o passeio para os Cânions do São Francisco, um lugar maravilhoso. Desta vez não repetimos, por ser um pouco longe: mais de 3 horas para chegar lá. Há duas cidades históricas próximas a Aracaju, Laranjeiras e São Cristóvão, que também visitamos na primeira viagem. Vale conhecer, dá para ir com as agências de passeios ou de carro, alugado ou de aplicativo (opções mais baratas).


Visitamos o Museu da Gente Sergipana, interativo e simpático, e o Memorial de Sergipe. Ambos bem cuidados e bonitos, com monitores sempre atentos e dispostos a dar explicações. Numa sala dedicada aos jogos tradicionais, ensaiei jogar amarelinha, devidamente instruída pelo monitor.

Museu da Gente Sergipana

Museu da Gente Sergipana

O Projeto Tamar também pode ser um passeio de algum interesse para crianças ou adultos que gostam de tartarugas e peixes em aquários.



Em Aracaju, come-se bem. Há muitos restaurantes excelentes ao longo da orla da praia de Atalaia, a maior parte deles concentrada na assim chamada Passarela do Caranguejo. A comida é boa tanto nos estabelecimentos simples quanto nos mais sofisticados, mas a praga da música ao vivo está presente na maioria deles, principalmente nos finais de semana. A padaria Pand' oro, próxima à Passarela do Caranguejo, serve tapiocas, cuscuz, bolos, sucos e cafés o dia todo. Sem música, claro.