sábado, 7 de março de 2015

Como é passar o ano novo em Sydney

Com o cronograma de viagem apertado, cheguei em Sydney às 16:00 do dia 31 de dezembro, sem saber como chegar aos fogos, sem saber onde ficar para ver os fogos, apenas confiante de que não poderia ser tão complicado quanto um reveillon em Copacabana. Confesso que tenho uma atração mórbida por tragédias pirotécnicas e por essa razão já estava escrito que eu não perderia aqueles fogos por nada.

Para ajudar na empreitada, eu tinha baixado antes de chegar em Sydney um aplicativo oferecido pela prefeitura da cidade que permite visualizar os locais reservados para apreciação dos fogos. Desenhei mentalmente um ponto de visão que enquadraria a Opera House do lado oposto da baía e a ponte de metal, os dois principais pontos de queima de fogos. 

Só não sabia àquela altura do campeonato que estes pontos indicados pela prefeitura na verdade são espaços com limitação de público e que os australianos tem o costume de chegar muitas horas antecipadamente para pegar os melhores lugares. Quando liguei a tv do hotel no noticiário local as informações eram de que os pontos mais privilegiados estavam esgotadíssimos, e bem, quem já não estava lá para curtir a festa, azar.


Tudo bem diferente do reveillon em Copacabana, onde é possível negociar a compra de um bilhete de metrô com o maloqueiro habitual, andar até a praia a partir de algum ponto não muito distante, desviar das oferendas, chegar na areia com apenas 10 minutos para a explosão de fogos e ainda assim ter uma visibilidade plena da pirotecnia. Afinal, a praia é grande e relativamente plana, com bastante espaço para 2 milhões de pessoas ou mais.


Em Sydney a topografia da baía não oferece tantos pontos privilegiados para ver a queima dos fogos na Opera House e ponte, de modo que estes pontos se tornam exclusivos: a maioria deles é fechada para festas de arromba caras e cafonas (embora eu adoraria estar em uma delas).


Não me restava opção além de incorporar o espírito esportivo e ver até onde eu conseguiria chegar para ver os fogos. Saí do hotel por volta das 18h, já com medo de que até mesmos os espaços públicos restantes estariam com lotação máxima e entrada encerrada. Mas vi muitos transeuntes jovens caminhando na mesma direção. O método deveria ser simples, bastaria seguir os nativos e acompanhar seus passos.


Por alguma razão me mantive fiel ao plano inicial: ver os fogos do lado oposto da baía, de frente para a Opera House. E para lá fui, após algumas baldiações na complexa (e naquela hora lotada) rede de trens em Sydney. 


Por volta das 19:30 cheguei ao ponto de visão de acesso público de Milsons Point, inteiramente cercado e com barreiras de entrada montadas (lembrando que alguns dias antes houve aquele incidente na loja da Lindt de Sydney, com algumas mortes, e as autoridades estavam um pouco tensas em relação à aglomeração pública), mas satisfeito porque o local ainda não estava lotado.



Entrei, dei uma volta e percebi que talvez fosse possível escolher um ponto de visão ainda melhor. Optei por sair da área isolada (havia bastante espaço livre, então a lotação máxima ainda aguentaria uma hora ou duas) e buscar algum outro local nas redondezas, no belo bairro de Kirribilli. Caminhei um bom tempo à toa, pois ou os locais públicos por ali era bem menores e já estavam esgotados, ou tudo estava concentrado à festas particulares nos prédios e varandas que dão de frente para a baía.


Uma curiosidade é que as pessoas que frequentam estas festas particulares ou “exclusivas” estavam realmente na beca, com roupas de gala. Então nas ruas e no transporte público era meio bizarro ver gente vestida casualmente para o ano novo, junto de gente que estava vestida como se estivesse indo à uma cerimônia do Oscar.

Decidido que retornaria ao ponto principal, parei para comprar alguns biscoitos e água, pois não havia comércio permitido dentro do espaço fechado, e a expectativa era de que as lojinhas fechassem a qualquer momento. Comprei um pão com linguiça e cebola, frito na hora, por 5 dólares. E gastei mais uns 10 dólares comprando água e snacks na lojinha indiana.

Na entrada havia uma pequena revista policial para qualquer pessoa que estivesse com bolsas e sacolas. O espaço embaixo da ponte, de frente para a Opera House, é uma espécie de parque, bastante arejado e com longas camadas de grama. Muitas famílias levaram toalhas e mantimentos e aguardavam o ano novo como se estivessem em um picnic. Uma coisa bem legal de Sydney é que eles fazem queima de fogos menores às 21 e 22:40h, antes da grande queima da meia noite. Após a primeira queima das 21h muitas famílias com crianças se deram por satisfeitas e foram embora, abrindo ainda mais espaço. 


Inicialmente eu tinha ocupado um espaço alto, mas um pouco distante da baía. Após essa saída em massa posterior aos primeiros fogos foi possível caminhar ao redor e escolher um ponto de visão mais interessante. Fiquei bem próximo à base da ponte, de frente para a água. 
Estava muito cansado, mas disposto a permanecer até os fogos de meia noite. Havia alto falantes transmitindo a festa oficial, que acontecia em outra parte da cidade. O som era agradável e não era ensurdecedor. Havia uma enorme fila para os banheiros químicos, mas nada absurdo.

A cena local é repleta de visitantes (ou residentes, não sei dizer) asiáticos e indianos. Ouvi algumas conversas em português, mas poucas.
Enfim, meia noite chegou junto com o ano novo, um início meio sem graça de fogos, mas depois de alguns minutos parece que eles acionam todas as explosões simultaneamente, aí ficou um porrilhão de fogos digno de entrada do Vasco em São Januário nos tempos de Eurico fogueteiro.




O ponto alto é a cascata da ponte, bem bonito mesmo.



Acabado os fogos fui em direção ao metrô, tudo muito bem organizado e sinalizado, mas incapaz de suportar a multidão saindo em conjunto. Houve uma pequena espera na estação, cerca de uma hora, a fim de que os vagões fossem preenchidos e liberados em sequência.


O meu passeio de última hora deu bastante certo. Não fiz, mas em um ano novo em Sydney você pode tirar a clássica onda com seus amigos brasileiros via facebook/whatsapp, que ainda estarão preparando a cana ao meio dia, enquanto você já estará celebrando o ano seguinte.

O veredito: ano novo em Sydney é bem bacana mesmo, merece estar listado entre os melhores do mundo.



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