domingo, 10 de janeiro de 2016

Seriam chatos os franceses?

Muita gente que viaja para a França diz que os franceses são chatos, mal-humorados ou arrogantes. Até gente que nunca botou os pés no território francês repete isso, porque já ouviu falar ou tem uma tia que foi mal atendida no bistrô.

Já vimos essa história até em blogs de turismo, e os próprios franceses parecem preocupados com a má fama, tanto que lançaram um manual para ensinar os profissionais do turismo a tratar melhor a freguesia estrangeira, sempre tão sensível.

Mas é o seguinte, nós entendemos de chatice e não achamos os franceses chatos. Já visitamos a França diversas vezes e sempre fomos muito bem tratados, tanto no comércio e serviços turísticos quanto pelas pessoas de uma forma geral. Os episódios de casmurrice foram tantos quanto em qualquer outro lugar, incluindo nosso lindo país.

Antes de prosseguir, deixemos claro que estamos falando de impressões de turistas, já que não fizemos nenhum estudo de comportamento típico dos descendentes de Asterix e nunca moramos na França.

De onde pode ter surgido essa história? Uma possibilidade é tratar-se apenas de incompreensão entre culturas diferentes. Franceses são, aparentemente, mais reservados e discretos do nós, e isso pode parecer antipatia aos nossos olhos. E a gente esquece que pessoas calorosas e expansivas podem ser simpáticas, mas também correm o risco de se tornarem invasivas e inconvenientes.

Os italianos são tidos como simpáticos e agradáveis, mas vimos, numa cidade pequena da Itália, uma brasileira se queixando amargamente da "falta de educação" da velhinha dona da loja que expulsou a freguesia porque estava na hora do almoço e ela queria fechar a loja. Ora, na cidade dela é assim, as pessoas não precisam passar fome ó porque você quer comprar um ímã de geladeira.

Uma hipótese bem provável é a de que os franceses são bastante apegados a uma polidez formal à qual não estamos acostumados. Fórmulas de cortesia como cumprimentos e agradecimentos são totalmente obrigatórios por lá, e não adianta ser sorridente, lindo e alegrinho se você não disser "bom dia", "por favor" e "muito obrigado" numa língua que eles entendam. A regra vale para todo mundo, não importa quem esteja pagando e quem esteja servindo. Vejam isso aqui, tem muitas doses de verdade.

Outro dado cultural que pode causar confusão: franceses bufam. Não sabemos o motivo, mas eles bufam muito, e isso pode dar impressão errada. Por exemplo, você pede uma informação e o tiozinho bufa umas três vezes antes de concluir a frase, mas isso não quer necessariamente dizer que ele está enfadado ou de mau humor. Eles bufam e fazem caretas da mesma forma que nós e os italianos gesticulamos.

Nas cidades menores, o povo é, basicamente, gentil e simpático. Encontramos muitos franceses conversadores e curiosos, principalmente os velhinhos.


Em Paris, cidade sempre lotada de turistas, os nativos podem ser tão rabugentos quanto qualquer habitante de cidade grande no Brasil, mas obedecem regras de trânsito e respeitam pedestres e ciclistas. Ou seja, eles até podem te apressar se você estiver moscando na fila da boulangerie, mas não vão te atropelar na faixa de segurança. Em Paris, essa cidade que dizem estar cheia de gente metida, vimos uma senhora bem pobre, provavelmente moradora de rua, sendo atendida com gentileza numa daquelas lojas de chocolates tão chiques que a gente tem até medo de entrar. Uma cena que não é muito comum em São Paulo, não é mesmo?

Mito: franceses não falam inglês e não gostam de quem fala. Na verdade, quase todo mundo fala inglês, principalmente os jovens, e se eles percebem que o interlocutor tem dificuldades com o francês, imediatamente mudam para o inglês. Verdade: eles parecem gostar de ouvir pelo menos os cumprimentos de praxe na língua deles. "Bonjour, monsieur" e "s'il vous plaît, madame", são frases que pegam bem. Eles também tem o hábito de corrigir quando a gente fala algo errado ou estranho em francês, mas não é por pedantismo, é para ajudar.

Situações pelas quais passamos na França:

Parados no meio da rua, rodando um mapa nas mãos, um francês oferece ajuda. Aconteceu mais de uma vez, mas a melhor delas foi uma velhinha, em Paris, que nos acompanhou dando dicas e explicações de coisas interessantes para ver.

Na bomba de gasolina self-service (coisa difícil pra brasileiros), o nativo simpático ajuda e dá uma aulinha de como usar.

Na calçada em obras onde não dava para usar as rodinhas, moço carrega a mala de Mme. Marina até um local plano e seguro.

Entramos por engano num estacionamento particular. Antes de conseguirmos sair, aproximam-se duas velhinhas. Para dar bronca? Não, para oferecer a vaga delas no estacionamento emprestada, já que nenhuma tinha carro.

Paramos na estrada para fazer um lanchinho e tomar uns goles de vinho da garrafa mesmo. Um casal que morava lá por perto, numa casa bem simples, nos ofereceu copos emprestados.

No supermercado, perdidos na imensidão de opções de queijos, um rapaz que estava por ali escolhendo seu queijinho nos dá várias dicas, em português.

Algumas dicas para se dar bem com nossos amigos que bufam:

Pratiquem a cortesia. Cumprimentem, peçam por favor e agradeçam sempre, em qualquer situação, seja no hotel, na restaurante, na loja de lembrancinhas ou na rua. Em francês, se possível, não custa aprender um pouquinho antes de viajar.

Controlem um pouco a animação, nada de comportamento excessivamente ruidoso no restaurante, por exemplo.

Evitem familiaridades: nada de fazer gracinhas, muito menos tocar nas pessoas.

Procurem não desrespeitar regras, eles se irritam bastante com isso.

Dito isso, au revoir et bon voyage!



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