Essa maldade de um amigo brasileiro é só maldade mesmo, não acreditem. Portugal é igual qualquer outro país europeu, menos interessante do que alguns, mais do que outros. Organizado, limpo, mais seguro do que o nosso, cheio de castelos, catedrais e pracinhas fofas como qualquer país europeu. E as estradas são uma beleza.
Os portugueses não gostam de brasileiros e nos tratam mal
Bem, não sabemos se não gostam de nós lá no fundo de seus corações de colonizadores, mas nos trataram muito bem. Os nativos foram gentis e simpáticos conosco, não apenas nos restaurantes, lojas e outros lugares de turista gastar dinheiro, mas nas ruas também. Todos foram muito solícitos ao nos darem informações e nos prestarem ajuda quando precisamos, com bastante boa vontade. A moça da sorveteria num mercado de comidas nos ajudou a acessar a internet, o velhinho da loja de lembrancinhas em Aveiro nos deu aula de arquitetura local, o moço da locadora de veículos deu todas as dicas de turismo possíveis, mesmo sem a gente pedir. Não entendemos metade das informações, mas valeu a intenção. Se eles não gostam de brasileiros, disfarçam muito bem. Ou talvez não gostem apenas de imigrantes brasileiros.
Em Portugal se fala português, mas a gente não entende
Quando eles falam português, nem sempre a gente entende tudo, como foi o caso do moço da locadora, mas, na maioria das vezes, dá para entender perfeitamente. O problema é que eles gostam é de falar inglês conosco. Funciona mais ou menos assim: a gente entra numa loja ou restaurante, eles nos abordam em inglês. A gente responde em português, eles sorriem, dizem uma ou duas palavras em português e voltam a falar inglês. OK, we understand, mas que coisa chata! Nos restaurantes e lojas de Lisboa isso pode ser um inferno, porque os funcionários estrangeiros simplesmente não falam português mesmo.
Os doces portugueses têm gosto de ovo
Pura lenda, os doces contém muitas gemas mesmo, mas são deliciosos e não têm gosto de ovo. Vá saber o que eles fazem!
Desmentidos os mitos, vamos às impressões sobre os lugares por onde andamos.
Porto
Cidade bonita e agradável, mas sem muita coisa para fazer, na verdade. Tudo bem, viajar não é só correr de um lado para o outro e fazer 1287 fotos que ninguém vai ver. Passear sem pressa e apreciar uma cidade também é muito bom.
A grande atração é passear pelo Cais da Ribeira, às margens do rio lindo Douro. Há quem goste de passear de barco, nós gostamos mais de caminhar. A paisagem é linda, o casario é interessante e há muitos bares e restaurantes lotados de turistas. Tentamos comer alguma coisa por lá numa tarde quente, mas desistimos. Muita gente, muito barulho, muito calor, muito caro.
Cais da Ribeira, casario do lado do Porto
Douro visto da ponte
Atravessar a ponte D. Luís I é obrigatório, não apenas pela vista do rio e da cidade, mas porque do outro lado, em Vila Nova de Gaia, estão as caves dessa maravilha chamada vinho do Porto.
. Tomar um vinho do Porto no Porto era um dos objetivos da nossa viagem, cumprido com alegria. As caves oferecem aqueles passeios nos quais a gente finge estar muito interessada nas explicações sobre uvas e barris que precedem a degustação - que é o que interessa. São programas até interessantes, mas quem viu um, viu todos. Preferimos simplesmente sentar no bar de uma das caves e pedir um Porto reserva. Foram os 4,60 euros cada um mais bem gastos em algo líquido de toda a viagem, com direito a desfrutar da paisagem do rio.
Bodegas em Vila Nova de Gaia
Há quem goste de subir na Torre dos Clérigos, de onde se pode apreciar uma bela vista da cidade. É o que dizem, mas não conferimos. Metade de nós sofre de claustrofobia e não aprecia entrar em torres medievais, que geralmente são apertadas e pouco ventiladas. Por fora, a torre é linda e fotogênica, pra nós é suficiente.
A Livraria Lello é outra atração que esnobamos. Diz a lenda que teria inspirado a autora da série de livros Harry Potter e ficou tão famosa que agora cobram ingresso para entrar. Bem, somos adultos, estamos nos lixando para bruxos infantis e gostamos de livrarias para comprar livros, não para sermos explorados. Livrarias bonitas existem também em Buenos Aires e Lisboa, com entrada livre.
A estação ferroviária de São Bento vale uma espiada, devido ao seu saguão de entrada todo decorado com azulejos portugueses (aqueles azuis).
De trem, fomos visitar duas cidades vizinhas, Aveiro e Guimarães.
Aveiro
A cidade tem autoestima tão elevada que não vê problema algum em se intitular "Veneza Portuguesa". O exagero é justificado por um rio canalizado no qual os turistas passeiam em barquinhos que se esforçam por imitar as gôndolas venezianas. O passeio pode ser útil para quem chega de trem e não quer fazer a caminhada de uns 40 minutos até o centro da cidade, onde se concentram edifícios em estilo "art nouveau", além de animados bares e restaurantes. No caminho, ao lado do mercado municipal, fica a loja do velhinho conversador, um artista que conhece muito a história da cidade e adora dar informações turísticas. Compramos dele uma miniatura lindinha de um "palheiro", construção típica da região semelhante às palafitas. A cidade tem diversas obras de arte em seus bem cuidados espaços, mas nada mais do que isso. Gôndola (sim, é verdade)
Prédios Art Nouveau
Estação ferroviária
Guimarães
Um pouco mais interessante do que Aveiro, Guimarães tem um castelo imponente, palácios, muralha, centro histórico bonito. A Igreja de Nossa Senhora da Consolação forma, com um extenso jardim arrumadinho, um conjunto que rende excelentes fotos. Entre Guimarães e Aveiro, se você tiver tempo para conhecer só uma, prefira Guimarães.
O castelo
Igreja de Nossa Senhora da Consolação
O jardim
Algarve
Brasileiros que somos, não conseguimos deixar de procurar praias em países dotados de litoral decente, mesmo sabendo que é bem difícil encontrar praias melhores do que as nossas.
Na região do Algarve encontramos com praias belíssimas, talvez não melhores do as nossas, mas tão bonitas quanto, e com características distintas. Lá as praias são demarcadas por falésias (ou arribas, como eles chamam) de tons avermelhados, e enfeitadas por grandes rochedos em formato cônico, na areia ou dentro do mar - os leixões.
Entre as diversas cidades da região, optamos por nos hospedar em Lagos, que tem a fama de possuir as praias mais bonita do Algarve. Ao chegar, uma decepção: as praias do centro da cidade, próximas ao forte, são feias. Areia e mar escuros, avisos de risco de desabamento dos belos penhascos por toda a parte.
Praia decepcionante do centro de Lagos
No dia seguinte, tudo melhorou: fomos fazer a trilha da Ponta da Piedade, um caminho pelo alto das falésias, extremamente fotogênico e confortável, porque há um plataforma de madeira muito bem cuidada em todo o percurso. Em alguns pontos é possível sair da passarela para fazer uma ou outra fotos mais espetacular, mas nem é necessário, porque tudo é muito bonito. Há praias bonitas no caminho, mas é preciso descer longas escadarias e, quando fomos, estavam todas fechadas para manutenção, talvez porque ainda não estávamos na temporada (fomos em maio). É possível chegar de carro nos pontos mais famosos da trilha, mas nós, bons andarilhos, fizemos todo o de mais ou menos uma hora percurso à pé mesmo. Há alguns bares e restaurantes no caminho. Paramos num deles para tomar uma cerveja e ir ao banheiro. Surpresas: a cerveja estava boa, o preço era só um pouquinho mais alto do que em outros locais e os banheiros estavam limpos. Brasileiros acostumados a serem explorados estranham essas coisas!
Início do passeio para a Ponta da Piedade
A passarela
Ponta da Piedade
Ponta da Piedade
Nos outros dias partimos para conhecer outras cidades, de carro. No Algarve, é importante alugar um carro para poder conhecer vários locais. Portimão, Alvor, Praia da Falésia em Albufeira são praias belíssimas e muito agradáveis. Areia dourada, mar azul, leixões, arribas e grutas criando paisagens inusitadas. Não perdem em nada para as praias de Lagos, e são mais acessíveis. A Praia do Carvoeiro, muito famosa, estava bem lotada e não achamos nada de excepcional. O mar estava muito agradável, manso e cristalino. A água, nessa época do ano, ainda é um pouco fria para os padrões brasileiros, menos para nós, que adoramos um mar friozinho.
Praia das Falésias
Praia do Carvoeiro
Alvor
Alvor
Lagos tem um centro histórico simpático, com muitos bares e bons restaurantes. Dá para comer bem. E vejam só, eles também tem seu "Borba Gato".
Estátua de Dom Sebastião, no centro
de Lagos
Lisboa
Grande cidade, bonita, cheia de gente e de paisagens fotogênicas.
Ficamos hospedados no Cais do Sodré, bairro boêmio e agitado. Uma boa localização próxima à bonita Praça do Comércio, ótima para passear a pé pelas margens do Tejo e perto da estação ferroviária. Muitos bares, restaurantes, turistas e gente jovem. Para quem prefere sossego, Lisboa tem bairros mais plácidos.
O mercado Time Out é perfeito para quem gosta de comer com agitação. Um local bonito, cheio de opções apetitosas e meio caras, mas extremamente barulhento. Entramos duas vezes, demos uma volta, quase compramos pastéis de nata, fomos ao banheiro e saímos.
Para comer bem e mais barato, um boa opção é pegar o ferry boat no Cais do Sodré e ir até Cacilhas. São apenas 7 ou 8 minutos de travessia. Em Cacilhas não há nada para fazer, exceto percorrer dezenas de restaurantes ao longo da mesma rua e escolher o mais interessante. Muito bacalhau, polvo e outros frutos do mar. Amigos disseram que o pôr-do-sol lá é muito bonito.
Gostamos muito de caminhar, e nossas panturrilhas treinadas nos levaram ao Chiado, Alfama, Praça do Rocio e às portas do Castelo de São Jorge, onde não entramos. Já no final da viagem, estávamos fartos de castelos e não quisemos gastar a pequena fortuna que nos pedem para entrar no local. Na verdade, temos que confessar que estávamos cansados de castelos europeus já no começo da viagem. Castelos: quem viu um, viu todos. Tomamos uma cerveja e fomos assediados por um pavão exigindo comida. Sem saber que é proibido, demos amendoins para ele (tomara que o bichinho não tenha passado mal).
Gostamos bem mais de museus do que de castelos, então nossos passeios preferidos em Lisboa foram o museu da Fundação Calouste Gulbekian que, além de excelente, fica dentro de um parque belíssimo; a Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, onde está o acervo da incrível pintora Maria Helena Vieira da Silva e de seu não tão genial marido Arpad; e a exposição Vieira da Silva: A nós a liberdade, na Assembleia da República. Dica para quem gosta de arte: só as obras de Vieira da Silva já valem a viagem a Lisboa. Passamos pelos jardins do Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural de Belém, mas não entramos, porque estávamos bem cansados nesse dia. Voltaremos, algum dia.
Fundação Calouste Gulbekian
Fundação Calouste Gulbekian
Fundação Calouste Gulbekian
Obra de Niki de Saint-Phalle no jardim do Museu de Arte Contemporânea
Passeamos ao redor da Torre de Belém e do Mosteiro dos Jerônimos, lindas construções com filas gigantescas para entrar. Adivinhem só, não entramos. Nosso passeio por Lisboa teve muitas não entradas, na verdade.
Torre de Belém
Mosteiro dos Jerônimos
Fizemos dois bate-e-voltas, para Sintra e Cascais.
Cascais
A grande atração dessa pequena cidade é caminhar pela orla até a Boca do Inferno, uma caverna dentro do mar na qual as ondas batem como se estivessem possuída por um demônio aquático de mal humor. Bonito, mas nada muito emocionante, sobretudo para quem mora no Brasil e está habituado com mar e pedras. Nesse dia, o mar estava calmo. Com a maré alta e ondas fortes, o espetáculo deve ser melhor.
Pelo caminho, encontram-se algumas paisagens de cartão postal, como esta:
Em vários pontos da cidade há placas indicando a rota de fuga em caso de tsunamis. A gente não sabe se entra em pânico ou fica aliviada pela existência de rotas de fuga sinalizadas. Olhem a moça monitorando o oceano:
Sintra
É a típica cidade europeia fofa que corresponde a todas as fantasias de gente do Novo Mundo em relação ao Velho. Parece uma cidade cenográfica, cheia de castelos, palácios, jardins, obras de arte, casas de aspecto luxuoso.
A cidade é grande para ser percorrida a pé num único dia, que foi o que tentamos fazer. O ideal é tomar um ônibus turístico que leva aos principais pontos de interesse, logo na chegada, na estação de trem. Ou, talvez, passar um noite ou duas por lá.
Por falta de tempo e energia, decidimos conhecer apenas a Quinta da Regaleira, com seu belo palácio e seu parque deslumbrante. Conhecer tudo requer algumas horas, para nós, mais de três. Além da fila na entrada, há outras para descer pelo Poço Iniciático, uma das atrações mais famosas da Quinta, e também para os banheiros, ridiculamente poucos para um local tão grande.
Palácio da Quinta da Regaleira
Poço Iniciático
Enfim, nessa primeira viagem, foi só isso. Voltaremos a Portugal, com certeza.